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Entenda a estratégia por trás das publicações ‘inusitadas’ de Romeu Zema nas redes sociais

Banana com casca, Lula em bebê reborn e armadura de cavaleiro em IA são algumas das publicações do chefe do Executivo mineiro nos últimos meses

Publicações de Romeu Zema (Novo) têm chamado atenção nas redes sociais

Banana com casca, Lula em bebê reborn e armadura de cavaleiro em IA - o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem mudado sua postura nas redes sociais e investido em publicações que beiram o surrealismo para um político que se consolidou como “gestor sério” durante os dois mandatos à frente do Palácio Tiradentes.

Muito da estratégia acontece a reboque de sua pré-candidatura à Presidência da República, anunciada em agosto, em São Paulo, e devido ao vasto desconhecimento que o governador mineiro tem fora do estado.

Na mesma toada, Zema vem tentando emplacar entrevistas com os maiores veículos de comunicação do Brasil - vide sua recente participação no Roda Viva, da TV Cultura - e conversas com jornais como O Globo e a Folha de São Paulo. Além disso, Zema tem feito um mutirão de aparições em podcasts, como o Flow, um dos maiores do país.

A tentativa de nacionalização de sua figura, contudo, enfrenta um duplo - ao passo que as publicações “exóticas” do governador conseguem pautar grande parte dos jornais Brasil afora, corre-se o risco de desconstruir a imagem de “homem do mercado” para um público que ainda não conhece o trabalho do governador em Minas.

Nas pesquisas de opinião sobre as eleições de 2026, contudo, a estratégia parece ainda não ter surtido o efeito esperado - e Zema continua pontuando abaixo dos dois dígitos em vários dos levantamentos divulgados recentemente quanto à intenção de voto.

Internamente, entende-se que despertar a atenção do eleitor é “muito importante” quanto à comunicação do governador. Uma fonte, que preferiu não ser identificada, relata que as estratégias são baseadas, sim, na nacionalização de Zema e afirma que já têm trazido resultados.

“As pessoas estão o tempo inteiro inundadas por informação e por uma competição incessante por atenção. Nenhuma forma de comunicação é efetiva se ela não despertar a atenção”, destaca a fonte.

O interlocutor cita a publicação de Zema feita nessa quarta-feira (24) sobre a PEC da Blindagem, em que o governador aparece “fantasiado” de cavaleiro, em uma imagem feita com inteligência artificial, e pontua que ela foi repercutida nacionalmente.

Entende-se na pré-campanha que “dificilmente” conteúdos mais contundentes chamariam tanto a atenção quanto publicações que tentam conversar melhor com o ambiente digital. Isso é representado em números – o governador teve um salto de seguidores no Instagram e, no Tiktok, seu alcance nas publicações aumentou em cerca de três vezes desde fevereiro.

Outro ponto é a inserção de Zema em debates nacionais, como as pautas sobre anistia dos condenados pelo 8 de janeiro e a PEC da Blindagem, além de participação em eventos ao lado de figuras proeminentes da direita nacional, como ocorreu em 7 de Setembro, quando o governador foi à avenida Paulista, em São Paulo, na manifestação bolsonarista.

Na pré-campanha, afasta-se a possibilidade de que as publicações de Zema o tornem um candidato “caricato”. “A imagem dele de gestor está ancorada em duas coisas muito importantes. Primeiro a trajetória privada dele, depois ele tem que encarar um estado de Minas Gerais em uma situação de crise nunca antes vista. E ele consegue colocar Minas nos trilhos”, define um interlocutor.

“Você ter uma comunicação que fala a linguagem própria do meio, porque o digital é um meio em que ser mais leve, ser mais provocativo e eventualmente até rir de si mesmo é algo natural. O importante é que Zema fosse capaz de falar a língua própria do meio digital. não creio que isso dispute ele ser um bom administrador, não”, acrescenta.

Ainda é pontuado internamente que, ao contrário das primeiras pesquisas de opinião, hoje Zema é incluído em qualquer levantamento feito. Ainda, os indicadores tiveram aumentos quanto ao nível de conhecimento do governador, apesar de ainda estarem abaixo de outros governadores de direita que pleiteiam o cargo de presidente, como Ratinho Jr. (PSD) e Ronaldo Caiado (União Brasil).

“A última coisa que vai se mover é a intenção de voto. As primeiras coisas que vão se mover são a popularidade digital e a relevância política”, finaliza a fonte.

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Jornalista pela UFMG, Lucas Negrisoli é editor de política. Tem experiência em coberturas de política, economia, tecnologia e trends. Tem passagens como repórter pelo jornal O Tempo e como editor pelo portal BHAZ. Foi agraciado com o prêmio CDL/BH em 2024.