A família de
A confirmação aconteceu durante audiência pública na Câmara Municipal de Belo Horizonte, que recebeu Gabriele Martins, irmã de Alice, que participou de debate sobre formas de fortalecer as leis de proteção e garantia de direitos à comunidade LGBTQIAP+, nesta sexta-feira (29).
Gabriele afirmou que vai levar questionamentos para serem anexados na investigação do caso.
“O advogado acabou de falar que ele não fez a ocorrência. A UPA liberou ela, não viu que a costela dela estava quebrada. O hospital liberou ela com a costela quebrada, com o nariz quebrado, toda roxa. Depois da tomografia, liberou ela para casa falando que podia pegar uma infecção”, relatou.
“Aí ele pediu também para a gente questionar a delegacia especializada, porque não tomou providências no dia 5, eles não fizeram nada. E a ausência da necrópsia também. Foi negligência em todos os pontos, então a gente tem que acordar e lutar e não dormir” afirmou na audiência.
A audiência foi solicitada pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de BH, vereadora Juhlia Santos (PSOL).
“Não teve necropsia. Isso é muito sério. De como a UPA foi negligente, de como a delegacia segue sendo negligente, o quanto a gente tem que responsabilizar o estado, não só pela morte, mas também pelo pós-morte. E de quanto o papel que o Estado assume é um dos papéis principais na causa da morte. Porque a gente sabe que se no ato da violência, se tivesse tido uma intervenção quando ela pede socorro, o quanto poderia ser evitado. Mas a partir do momento que, por exemplo, ela chega numa UPA e não é atendida adequadamente, o quanto isso corrobora também para a morte ", afirmou.
Relembre o caso
A agressão aconteceu na noite de 23 de outubro, quando Alice teria deixado a pastelaria sem pagar uma conta de R$ 22. Segundo a polícia, isso já havia ocorrido antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, já que os consumidores costumavam voltar posteriormente para quitar o valor.
A investigação aponta que a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos.
Ela esteve em outro bar antes de chegar ao estabelecimento onde ocorreu o caso. Depois de consumir bebida alcoólica, levantou-se e foi embora, comportamento que, segundo a Polícia Civil, já havia acontecido sem problemas anteriores.
Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Neste momento, ela foi agredida por homens que trabalhavam na pastelaria, e socorrida posteriormente em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada.
Após voltar a sentir dores, foi internada em um hospital particular em Contagem no dia 26 de outubro, onde constatou costelas quebradas e lesões graves.
No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por conta de uma infecção generalizada.
Segundo apurado pela reportagem da Itatiaia, os suspeitos já foram identificados, no entanto, ninguém foi preso até o momento. A investigação ocorre sob sigilo.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que Alice foi atendida e “no momento do exame clínico” não foram identificados “sinais de fraturas nas regiões do tórax e do abdômen”. Então, um exame de imagem foi então realizado na região onde foi apresentado indicativo de lesão.
“Cabe ressaltar que no momento da alta a paciente foi orientada a manter observação dos sintomas e retornar à unidade em caso de algum agravamento – o que não ocorreu, uma vez que a paciente optou por procurar outras unidades de saúde que não pertencem ao SUS-BH. É importante esclarecer que as informações sobre prontuário médico são sigilosas e repassadas ao paciente, familiares ou responsáveis legais”, pontua o texto.
A reportagem procurou a Polícia Civil de Minas Gerais para se pronunciar sobre a necrópsia de Alice, mas ainda não houve retorno.
Nota Rei do Pastel
Em nota publicada nas redes sociais, o Rei do Pastel se manifestou e disse estar à disposição das autoridades competentes desde o início das investigações.
“Ressaltamos a nossa solidariedade incondicional aos familiares e amigos da Alice, e destacamos que não compactuamos, em hipótese alguma, com ações discriminatórias referente a identidade de gênero, orientação sexual, raça ou qualquer outra natureza”, afirma o estabelecimento.