Mulher trans espancada e morta em BH: o que se sabe sobre o caso

Alice morreu após complicações de agressões sofridas e uma perfuração no intestino; dois funcionários da pastelaria ‘Rei do Pastel’ são apontados como autores

Assassinato brutal de Alice causou comoção e revolta; Polícia Civil investiga o caso

A Polícia Civil (PC) investiga o caso do assassinato da esteticista Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, que morreu no último domingo (9), 18 dias após ser brutalmente agredida por dois funcionários do bar “Rei do Pastel”, localizado na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. As agressões ocorreram no dia 23 de outubro.

O espancamento aconteceu quando Alice deixava o bar para ir embora para casa e só parou com a intervenção de um motociclista que passava pelo local. Ela chegou a ser socorrida, mas faleceu em decorrência dos ferimentos.

Mesmo com a brutalidade das agressões, o caso repercutiu nacionalmente somente na última semana, quando, no velório de Alice, seu pai, Edson Alves, deu depoimento emocionado sobre sua relação com a filha.

A Itatiaia aponta, agora, o que já se sabe sobre o caso. Confira:

Alice foi perseguida, intimidada e agredida por suposta dívida de R$ 22

Em coletiva, a delegada do Núcleo de Feminicídio do DHPP, Iara França, informou que o caso passou a ser investigado como homicídio e feminicídio, após a morte de Alice por complicações das agressões.

A agressão ocorreu no dia 23 de outubro. Naquele dia, Alice havia sido incentivada pela família a sair para se distrair. Conforme as investigações, ela esteve em outro bar antes de chegar ao estabelecimento onde o caso aconteceu.

Após consumir bebida alcoólica, levantou-se e foi embora, sem pagar uma conta de R$ 22, comportamento que, segundo a Polícia Civil, já havia ocorrido outras vezes, sem gerar problemas no estabelecimento.

Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Também foi revelado que Alice havia pedido um carro de aplicativo e informado ao pai que estava indo para casa, antes de sofrer as agressões.

A Itatiaia obteve acesso a um áudio vazado onde é dito que Alice foi espancada pela suposta conta de R$ 22 não paga. Ouça:

Em áudio, Alice alegou ter pago a conta

A PC apontou que em um áudio ao qual a investigação teve acesso, Alice afirma ter pago a conta no valor de R$ 22.

“Em um áudio, é possível ouvir Alice dizendo que já havia pago os R$ 22”, explicou a delegada Iara França. Porém, naquele dia, os homens a alcançaram em um ponto mais isolado e iniciaram as agressões.

Suspeitos foram identificados pela Polícia Civil (PC)

Dois funcionários do bar “Rei do Pastel”, onde Alice estava antes de ter sido espancada, são os principais suspeitos de terem cometido o crime brutal. Eles já foram identificados pela polícia.

“Medidas cautelares foram solicitadas. Se tem interceptação telefônica, se tem mandado de busca, se tem prisão, obviamente a gente não vai falar porque esses indivíduos estão em liberdade”, explicou o delegado Thiago Machado, durante pronunciamento à imprensa.

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PC trabalha para que suspeitos se entreguem

A Polícia Civil trabalha para que a dupla suspeita de matar Alice se entregue. A informação foi dada pelo delegado Thiago Machado.

“Existem algumas tratativas de apresentação desses indivíduos aqui, mas não foi nada ajustado nem marcado”, destacou Machado.

Motociclista evitou morte no local

Alice Alves foi perseguida, intimidada, brutalmente espancada e só não morreu na hora porque um motociclista parou e interveio.

“Fato é que ela foi intimidada, agredida e essas agressões somente cessaram, ela só não foi morta ali naquele momento porque um motoqueiro parou, interviu na situação. Ele foi ameaçado por um desses agressores, mas, mesmo assim, permaneceu e acionou o Samu. Uma outra testemunha, é um local muito movimentado, (também) acionou o Samu e a Polícia Militar”, disse Iara.

Rei do Pastel se manifestou

O bar “Rei do Pastel” se manifestou nas redes sociais pela primeira vez, nesta sexta-feira (14), através do perfil @reidopasteloficial, no Instagram.

Leia a nota oficial divulgada na íntegra clicando aqui.

Lesões graves

Segundo as investigações, no dia da agressão, Alice foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada. Em casa, ela continuou sentindo fortes dores e voltou a procurar ajuda no dia 26 de outubro, em um hospital particular de Contagem, na Grande BH. Exames apontaram costelas quebradas e outras lesões graves.

A polícia também revelou que, com o passar dos dias, o estado de saúde de Alice piorou. Ela perdeu cerca de 10 kg, teve dificuldade para se alimentar e sentia dores intensas.

No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu pouco dias depois, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Medo de registrar Boletim de Ocorrência

Ainda conforme a delegada responsável pelo caso, Alice só conseguiu registrar o Boletim de Ocorrência no dia 5 de novembro, acompanhada do pai. Ela demorou por vergonha e medo. “Ela tinha receio dos autores e revelou esse medo no depoimento”, afirmou a delegada Iara França.

“Ela (Alice), mediante essa vergonha, mediante o medo de não ser devidamente acolhida pelas instituições, e é um local (pastelaria) que ela já frequentava, que esses funcionários já conheciam, ela não descreve exatamente como são esses funcionários”, explicou.

Vítima de preconceito

Segundo a PC, Alice era conhecida na região onde foi assassinada e relatava sofrer olhares preconceituosos.

“Ela conhecia as pessoas ali, e ela já havia revelado que ela sentia um certo preconceito de algumas pessoas, alguns olhares maldosos, alguns olhares preconceituosos”, reveloua delegada Iara França.

PC investiga Transfobia

Segundo a delegada Iara França, a polícia também apura se houve transfobia, o que pode ter intensificado a violência.

“Estamos investigando se os autores agrediram Alice de forma mais abrupta por ela ser uma mulher trans. É possível que, se fosse uma mulher cisgênero, a abordagem fosse diferente”, afirmou.

Investigação segue sob sigilo

O caso foi encaminhado ao Departamento de Feminicídios no dia 10 de novembro e segue sob sigilo. A PCMG informou que medidas cautelares já foram solicitadas e cumpridas, mas não detalhou quais, já que os investigados estão em liberdade.

A corporação negou a participação de um terceiro funcionário, como chegou a circular em alguns veículos de imprensa.

O inquérito conta com áudio captado por câmera, que será periciado. A Polícia Civil lembrou que Alice passou por exame de corpo de delito em vida, no dia 5 de novembro, e a perícia confirmou que a morte foi causada diretamente pelas agressões.

Izabella Gomes é estudante de Jornalismo na PUC Minas e estagiária na Itatiaia. Atua como repórter no jornalismo digital, com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.
Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). Na Itatiaia desde 2008, é “cria” da rádio, onde começou como estagiário. É especialista na cobertura de jornalismo policial e também assuntos factuais. Também participou de coberturas especiais em BH, Minas Gerais e outros estados. Além de repórter, é também apresentador do programa Itatiaia Patrulha na ausência do titular e amigo, Renato Rios Neto.
Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.
Rosiane Cunha integra desde 2024 a produção de jornalismo da Itatiaia. Com mais de 20 anos de experiência, teve passagens pela Rede Minas, TV Alterosa, Band, Globo, Hoje em Dia e Record. É formada em Jornalismo pela Newton Paiva e também graduada em Letras.
Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.
Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.

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