‘Perdi minha amiga’, diz pai de mulher trans assassinada na Savassi, em BH

Alice Martins Alves, de 33 anos, morreu nesse domingo (9). Em outubro, ela foi atacada por três homens quando saía de uma lanchonete na capital mineira

Pai lamenta morte da filha, mulher trans que morreu após ser espancada na Savassi

“Será que uma transexual não tem direito de viver? Não tem direito a viver em paz?”, desabafou Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos que morreu nesse domingo (9), em decorrência das complicações provocadas por uma brutal agressão, sofrida no dia 23 de outubro, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

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Segundo Edson, a filha foi atacada por três homens enquanto atravessava a Rua Sergipe em direção à Avenida Getúlio Vargas, após sair de uma lanchonete.

Após o ataque, Alice apresentou vômitos constantes e dificuldade para se alimentar. Ela chegou a ficar internada por duas semanas em um hospital de Belo Horizonte, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesse domingo (9).

Crime de ódio

Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que Alice é agredida violentamente por um homem, enquanto os outros dois riem e zombam da situação. Segundo o pai, ela não conhecia os suspeitos. “O indivíduo chamou ela de ‘traveco’ e disse ‘vou te matar’. Um batia e os outros dois riam”, contou Edson, que acredita se tratar de um crime motivado por ódio e transfobia.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o caso será investigado pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Até o momento, ninguém foi preso.

Linha do tempo da agressão

Após a agressão, Alice foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas, segundo o pai, nenhuma viatura policial acompanhou o atendimento.

Mesmo machucada, Alice foi liberada e voltou para casa em um carro de aplicativo, sem encaminhamento para a UPA ou hospital particular, embora tivesse plano de saúde. “Ela não quis me avisar porque eu tenho problema de pressão. Acordei umas 2h30, 3h da manhã e fui ver se ela tinha chegado. Quando abri a porta, ela disse: ‘Pai, olha o que fizeram comigo’”, contou Edson, lembrando o susto ao ver a filha com tantas escoriações.

Nos dias seguintes, o quadro clínico de Alice se agravou rapidamente. Ela perdeu entre 12 e 13 quilos em duas semanas, apresentava vômitos constantes e dificuldade para se alimentar.

“Levei no hospital, fizeram tomografia, mas ela continuava vomitando. Depois disseram que ela teve perfuração no duodeno”, afirmou.

‘Perdi a minha amiga’

O pai descreve Alice como uma companheira.

Edson contou que a filha sofreu preconceito durante toda a vida e que ele próprio passou por um processo de aprendizado e aceitação. “Ela dizia: ‘Pai, eu não pedi pra nascer assim, eu sou assim’. E eu fui mudando o coração. Deixei de viver a minha vida para acompanhar minha filha, fazer companhia”, disse, emocionado.

Brasil é o país que mais mata pessoas trans

O Brasil é, pelo 17º ano consecutivo, o país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2024, 105 pessoas trans foram assassinadas no país, segundo o relatório Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024 – Da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil.

Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.
Cursou jornalismo no Unileste - Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais. Em 2009, começou a estagiar na Rádio Itatiaia do Vale do Aço, fazendo a cobertura de cidades. Em 2012 se mudou para a Itatiaia Belo Horizonte. Na rádio de Minas, faz parte do time de cobertura policial - sua grande paixão - e integra a equipe do programa ‘Observatório Feminino’.

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