“Será que uma transexual não tem direito de viver? Não tem direito a viver em paz?”, desabafou Edson Alves Pereira, pai de
Segundo Edson, a filha foi atacada por três homens enquanto atravessava a Rua Sergipe em direção à Avenida Getúlio Vargas, após sair de uma lanchonete.
Pai desabafa em velório da filha transexual espancada em BH: ‘Será que uma trans não tem direito de viver?’
— Itatiaia (@itatiaia) November 10, 2025
📲 Leia mais em https://t.co/ze8WN7tHaV
📹 Amanda Antunes pic.twitter.com/aGJgUeRTa0
Após o ataque, Alice apresentou vômitos constantes e dificuldade para se alimentar. Ela chegou a ficar internada por duas semanas em um hospital de Belo Horizonte, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesse domingo (9).
Crime de ódio
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que Alice é agredida violentamente por um homem, enquanto os outros dois riem e zombam da situação. Segundo o pai, ela não conhecia os suspeitos. “O indivíduo chamou ela de ‘traveco’ e disse ‘vou te matar’. Um batia e os outros dois riam”, contou Edson, que acredita se tratar de um crime motivado por ódio e transfobia.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o caso será investigado pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Até o momento, ninguém foi preso.
Duda homenageia mulher trans morta em BH: ‘Furacão de afetos’ ‘Eu tenho nome': mulher trans morta em BH era militante Amigas de trans morta em BH clamam por proteção
Linha do tempo da agressão
Após a agressão, Alice foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas, segundo o pai, nenhuma viatura policial acompanhou o atendimento.
Mesmo machucada, Alice foi liberada e voltou para casa em um carro de aplicativo, sem encaminhamento para a UPA ou hospital particular, embora tivesse plano de saúde. “Ela não quis me avisar porque eu tenho problema de pressão. Acordei umas 2h30, 3h da manhã e fui ver se ela tinha chegado. Quando abri a porta, ela disse: ‘Pai, olha o que fizeram comigo’”, contou Edson, lembrando o susto ao ver a filha com tantas escoriações.
Nos dias seguintes, o quadro clínico de Alice se agravou rapidamente. Ela perdeu entre 12 e 13 quilos em duas semanas, apresentava vômitos constantes e dificuldade para se alimentar.
“Levei no hospital, fizeram tomografia, mas ela continuava vomitando. Depois disseram que ela teve perfuração no duodeno”, afirmou.
Jovem que matou mulher trans é condenado a 15 anos de prisão Mulher trans é agredida com enxada e tem crânio amassado em BH Mulher trans é agredida e queimada viva na Grande BH
‘Perdi a minha amiga’
O pai descreve Alice como uma companheira.
Edson contou que a filha sofreu preconceito durante toda a vida e que ele próprio passou por um processo de aprendizado e aceitação. “Ela dizia: ‘Pai, eu não pedi pra nascer assim, eu sou assim’. E eu fui mudando o coração. Deixei de viver a minha vida para acompanhar minha filha, fazer companhia”, disse, emocionado.
Brasil é o país que mais mata pessoas trans
O Brasil é, pelo 17º ano consecutivo, o país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2024, 105 pessoas trans foram assassinadas no país, segundo o relatório Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024 – Da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil.