Amigos e familiares
O adeus a Chris, como era conhecida, foi carregado de emoção e indignação pela forma com que a mulher trans foi morta, sendo ela mais uma vítima da violência de gênero no Brasil.
A Itatiaia conversou com Rodrigo Maciel Oliveira, de 46 anos, irmão da vítima. Muito emocionado, afirmou que Chris deixará muita saudade, e usou um espaço para fazer um apelo.
“É pra acabar com isso (violência de gênero)! Ela tem família, nós nunca deixamos ela de lado, sempre apoiamos em tudo. A gente não quer que ela seja só uma estatística. Queremos que tenha Justiça e que a pessoa que fez isso não faça novamente com pessoas trans, com mulheres. Já passou da hora da gente parar de matar mulheres, gays e trans nesse estado e nesse país. Chega!”, desabafou.
‘A gente sai sem saber se voltaremos para casa’
Milenna Sabatine, de 42 anos, era amiga de Chris e revelou que a amiga já vinha temendo por sua vida há um mês. Segundo ela, Matheus Henrique Santos Rodrigues era um homem violento.
“Já tinha um mês que ela pedia socorro. Sexta-feira eu estava com ela e ela mostrou o braço dela roxo. Ela falou: ‘Eu vou acabar morrendo’, eu falei para ela deixar de ser besta. O parceiro não aceitava o fim do relacionamento. Ela tinha aquela coisa, se sai da minha vida, não vai mais voltar. E ele era muito violento, dominador. A Chris sempre foi correria, ele não gostava de trabalhar. A parceria já não estava dando certo”, contou.
Ela ainda fez um desabafo sobre a insegurança das pessoas trans no Brasil.
“Hoje é normal no Brasil, se você pegar a estatística, três a cinco mulheres trans, travestis são mortos no Brasil todo dia. E ninguém faz nada. Não tem uma política pública que protege a gente. Ela ficou um mês pedindo por socorro. A gente sai hoje sem saber se voltaremos para casa.
A rua estava cheia e como era uma mulher trans ninguém fez nada. Eu já fui espancada, violentada. A gente precisa de uma política pública que proteja a gente que é trans. A gente não tem nada, nem espaço no mercado de trabalho. É um sentimento de dor, impunidade. Ver ela naquele caixão partiu meu coração, foi como se arrancasse um pedaço de mim”, disparou.
‘Certeza de impunidade’
Gilmara Rabelo Santos de Souza, que participa do coletivo “Mães pela Liberdade”, que reúne mães e pais de pessoas LGBTQIAPN+, ressaltou o caráter combativo de Christiane e sua luta diária por melhores condições para pessoas trans.
“Foi a pessoa que não deixava que outras pessoas fossem transfóbicas com suas amigas, que lutava contra a violência. Foi uma guerreira que teve todas as suas qualidades durante todo o tempo da sua vida, lutando contra toda adversidade. E que infelizmente foi silenciada como tantas outras mulheres e mulheres trans têm sido silenciadas pela violência”, lembrou.
Segundo Gilmara, foi um choque descobrir que se tratava de Chris no vídeo que mostra o momento das agressões que levaram a sua morte. Ela também condenou o fato da vítima não ter recebido ajuda.
“Foi estarrecedor. Já era terrível imaginar o feminicídio, a forma violenta com que aquele homem se comportou, achando que teria impunidade. Quando foi revelado que era a Chris, o choque foi muito maior. As pessoas em volta também têm o papel delas de não terem gritado, de não terem pedido socorro. Ali eu vejo cada um dos nossos filhos que poderiam e podem estar passando por isso”, lamentou.
Lutou para que o que aconteceu com ela não acontecesse com ninguém
Gabrê Antoniano Silva Moreira, de 28 anos, fez um relato emocionado sobre quem era Chris. Segundo ele,
“Era uma pessoa amada por todo mundo que estava em volta dela, cozinheira de mão cheia. Chris era mobilizadora social, agente de educação popular em saúde. Era muita coisa, muito mais do que o pouco que dá para colocar em cada entrevista. Chris merecia um filme, a Chris merecia tudo, igual a todas as travestis também.
O tanto que Chris lutou por tudo, pelo que está acontecendo hoje não tivesse acontecido, ainda mais com ela. Era pessoa que estava à frente de tudo, mas estava também muito vulnerável a tudo. Chris é completa, Chris é cheia, Chris vai ter sempre lembrança, Chris vai ser sempre presente”, desabafou Moreira.