O réu Lucas Mendes, de 19 anos, que confessou ter matado a facadas a namorada, a estudante de odontologia Nik Ribeiro, de 21 anos, foi condenado a 15 anos, sete meses e 15 dias de prisão em regime fechado.
Na sentença, o juiz Luiz Felipe Sampaio Aranha, do 1º Tribunal do Júri de Belo Horizonte, considerou a confissão do réu e o fato de ele ter menos de 21 anos, mas destacou o agravante da violência contra a mulher ao fixar a pena.
O julgamento ocorreu nesta quarta-feira (10), no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte. O crime aconteceu em 19 de abril de 2024, no apartamento da vítima, na Rua Campos Altos, bairro Caiçaras, Região Noroeste da capital.
‘Ele matou uma trans inocente’, diz mãe em entrevista
Em entrevista à Itatiaia antes do julgamento, a mãe de Nik Ribeiro, Enilce Ribeiro,
Enilce explicou que Lucas usou a religião para enganar Nik. “Ele a viu lá no ponto do ônibus, e a seguiu, e no outro dia chegou com uma Bíblia na mão, chamando ela para ir numa missa, rezar a Bíblia”, contou a mãe.
Segundo Enilce, pessoas LGBT são mais vulneráveis a esse tipo de manipulação. “A minha filha muito vulnerável, porque LGBT são muito vulneráveis. Uma pontinha de uma esperança que uma pessoa possa dar atenção, eles acabam sendo manipulados”, explicou.
Mãe sabia de tudo sobre o relacionamento
Enilce disse à reportagem que a filha contava tudo sobre o relacionamento conturbado com Lucas. “Sabia, sabia tudo porque a minha filha contava tudo. Mas eu jamais saberia que seria uma coisa horrorosa dessa”, revelou.
A mãe contou que o relacionamento durou poucos dias. Na quinta-feira antes do crime, Nik estava feliz com Lucas. Mas na sexta-feira, ela havia decidido terminar tudo. “Na quinta a minha filha tava muito feliz e falando que ele estava lá e na sexta minha amiga já falou que já não já tinha cortado a relação, não queria estar mais com ele”, lembrou.
No dia do assassinato, Enilce conversou com a filha às 15h30. “Ela me mostrou ele como as menina do lado. E ela falou: ‘Não tem mais nada, só não precisa preocupar, mãezinha’”, recordou a mãe, emocionada.
‘Minha filha era um anjo’, relembra mãe
Enilce descreveu Nik como uma pessoa especial, que encantava a todos. “A minha filha era uma pessoa de muita paz, de muita aura de alegria. Ela encantava a todos que ela conversava. Seu sorriso já encantava. Quem teve o privilégio de conhecer minha filha, sabe o encanto de menina que era ela”, disse.
A jovem trabalhava como modelo fotográfica, costureira e música. “Ela era ela era costureira, ela era música, ela ela era uma artista. Então, ela era toda uma essência de uma pessoa incrível”, contou a mãe.
“Isso realmente é o que levou a acontecer esse fato, porque ela era pura. Pura no sentido sem maldade, sabe? É uma menina normal, um jovem normal, né? E sem maldade”, explicou Enilce.
‘Ele apagou a luz da nossa família’
Sobre o impacto do crime na família, Enilce foi direta: “Ele apagou a luz da nossa família. A minha filha era minha alma gêmea”. A mãe explicou que uma possível condenação não trará a filha de volta, mas pode evitar que outras pessoas sejam mortas.
“Não traz a minha filha de volta, mas pelo menos não mata mais pessoas, né? A gente luta por justiça. Tá certo que a nossa justiça aí é um pouco falha, né? Mas que mais que não destrua um lar”, desabafou.
Como aconteceu o crime
Nik Ribeiro era uma mulher transexual que veio da cidade de Santana do Jacaré, no Sudoeste de Minas Gerais, para estudar odontologia em Belo Horizonte. Na capital, ela conheceu Lucas Gabriel, que morava em um abrigo próximo à sua casa.
O relacionamento dos dois era conturbado. Segundo a investigação policial, Lucas furtava objetos pessoais de Nik várias vezes para conseguir dinheiro e pagar dívidas com drogas.
No dia do assassinato, o casal teve uma discussão por causa do comportamento de Lucas. O rapaz ficou nervoso e matou Nik com várias facadas enquanto ela estava no chuveiro do apartamento.