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‘Ele apagou a luz da nossa família’, desabafa mãe sobre assassinato da filha trans em BH

Lucas Gabriel Aguiar Mendes, de 19 anos, será julgado pelo assassinato da estudante de odontologia Nik Ribeiro, de 21 anos

‘Ele matou uma trans inocente’, diz mãe em entrevista sobre julgamento em BH

O julgamento de Lucas Gabriel Aguiar Mendes, de 19 anos, que confessou ter matado a facadas sua namorada, a estudante de odontologia Nik Ribeiro, de 21 anos, começa nesta quarta-feira (10), às 8h20, no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte. O crime aconteceu no dia 19 de abril de 2024, no apartamento da vítima, na Rua Campos Altos, bairro Caiçaras, Região Noroeste de Belo Horizonte.

‘Ele matou uma trans inocente’, diz mãe em entrevista

Em entrevista à Itatiaia, a mãe de Nik Ribeiro, Enilce Ribeiro, contou detalhes sobre como o assassino se aproximou da filha e revelou o sofrimento da família após o crime. “Ele matou uma trans inocente. Uma menina que era uma menina de ouro, uma menina de caráter”, afirmou.

Enilce explicou que Lucas usou a religião para enganar Nik. “Ele a viu lá no ponto do ônibus, e a seguiu, e no outro dia chegou com uma Bíblia na mão, chamando ela para ir numa missa, rezar a Bíblia”, contou a mãe.

Segundo Enilce, pessoas LGBT são mais vulneráveis a esse tipo de manipulação. “A minha filha muito vulnerável, porque LGBT são muito vulneráveis. Uma pontinha de uma esperança que uma pessoa possa dar atenção, eles acabam sendo manipulados”, explicou.

Mãe sabia de tudo sobre o relacionamento

Enilce disse à reportagem que a filha contava tudo sobre o relacionamento conturbado com Lucas. “Sabia, sabia tudo porque a minha filha contava tudo. Mas eu jamais saberia que seria uma coisa horrorosa dessa”, revelou.

A mãe contou que o relacionamento durou poucos dias. Na quinta-feira antes do crime, Nik estava feliz com Lucas. Mas na sexta-feira, ela havia decidido terminar tudo. “Na quinta a minha filha tava muito feliz e falando que ele estava lá e na sexta minha amiga já falou que já não já tinha cortado a relação, não queria estar mais com ele”, lembrou.

No dia do assassinato, Enilce conversou com a filha às 15h30. “Ela me mostrou ele como as menina do lado. E ela falou: ‘Não tem mais nada, só não precisa preocupar, mãezinha’”, recordou a mãe, emocionada.

‘Minha filha era um anjo’, relembra mãe

Enilce descreveu Nik como uma pessoa especial, que encantava a todos. “A minha filha era uma pessoa de muita paz, de muita aura de alegria. Ela encantava a todos que ela conversava. Seu sorriso já encantava. Quem teve o privilégio de conhecer minha filha, sabe o encanto de menina que era ela”, disse.

A jovem trabalhava como modelo fotográfica, costureira e música. “Ela era ela era costureira, ela era música, ela ela era uma artista. Então, ela era toda uma essência de uma pessoa incrível”, contou a mãe.

“Isso realmente é o que levou a acontecer esse fato, porque ela era pura. Pura no sentido sem maldade, sabe? É uma menina normal, um jovem normal, né? E sem maldade”, explicou Enilce.

‘Ele apagou a luz da nossa família’

Sobre o impacto do crime na família, Enilce foi direta: “Ele apagou a luz da nossa família. A minha filha era minha alma gêmea”. A mãe explicou que uma possível condenação não trará a filha de volta, mas pode evitar que outras pessoas sejam mortas.

“Não traz a minha filha de volta, mas pelo menos não mata mais pessoas, né? A gente luta por justiça. Tá certo que a nossa justiça aí é um pouco falha, né? Mas que mais que não destrua um lar”, desabafou.

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Como aconteceu o crime

Nik Ribeiro era uma mulher transexual que veio da cidade de Santana do Jacaré, no Sudoeste de Minas Gerais, para estudar odontologia em Belo Horizonte. Na capital, ela conheceu Lucas Gabriel, que morava em um abrigo próximo à sua casa.

O relacionamento dos dois era conturbado. Segundo a investigação policial, Lucas furtava objetos pessoais de Nik várias vezes para conseguir dinheiro e pagar dívidas com drogas.

No dia do assassinato, o casal teve uma discussão por causa do comportamento de Lucas. O rapaz ficou nervoso e matou Nik com várias facadas enquanto ela estava no chuveiro do apartamento.

Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.
Amanda Alves é graduada, especialista e mestre em artes visuais pela UEMG e atua como consultora na área. Atualmente, cursa Jornalismo e escreve sobre Cultura e Indústria no portal da Itatiaia. Apaixonada por cultura pop, fotografia e cinema, Amanda é mãe do Joaquim.