A Polícia Civil de Minas trabalha para que a dupla suspeita de matar Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, se entregue. A informação foi dada pelo delegado Thiago Machado, nesta sexta-feira (14),
“Existem algumas tratativas de apresentação desses indivíduos aqui, mas não foi nada ajustado nem marcado”, destacou Machado, no final do pronunciamento, do qual participou a delegada Iara França, do Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Dois funcionários do bar onde Alice estava são os principais suspeitos de terem cometido o crime brutal. Eles já foram identificados pela polícia. A reportagem da Itatiaia entrou em contato com o estabelecimento onde os dois suspeitos trabalham e aguarda retorno.
“O que compõe o inquérito é uma imagem em que não aparece o fato, apenas a captação do áudio. Isso também vai ser objeto de perícia”, acrescentou o delegado, ressaltando que a investigação corre em segredo de Justiça.
“Medidas cautelares foram solicitadas. Se tem interceptação telefônica, se tem mandado de busca, se tem prisão, obviamente a gente não vai falar porque esses indivíduos estão em liberdade”, explicou.
A PC informou que o caso, inicialmente tratado como lesão corporal, passou a ser investigado como homicídio e feminicídio, após a morte de Alice por complicações das agressões, entre elas, uma perfuração no intestino.
Transfobia
Segundo a delegada, a polícia também apura se houve transfobia, o que pode ter intensificado a violência.
“Estamos investigando se os autores agrediram Alice de forma mais abrupta por ela ser uma mulher trans. É possível que, se fosse uma mulher cisgênero, a abordagem fosse diferente”, afirmou.
Entenda o caso
A agressão aconteceu na noite de 23 de outubro, quando Alice deixou o estabelecimento sem pagar uma conta de R$ 22. De acordo com a investigação, isso já havia ocorrido antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, já que os consumidores costumavam voltar posteriormente para quitar o valor.
A delegada explicou que a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos.
“Segundo testemunhas, ela era muito tranquila, tímida, formada em estética, sem qualquer passagem pela polícia, e com uma família muito acolhedora”, disse Iara França.
Naquele dia, Alice havia sido
Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Ela havia pedido um carro de aplicativo e
“Em um áudio, é possível ouvir Alice dizendo que já havia pago os R$ 22”, explicou a delegada. Poré, naquele dia, os homens a alcançaram em um ponto mais isolado e iniciaram as agressões. A vítima só não morreu no local porque um motociclista testemunhou a cena, interveio e acionou o SAMU e a Polícia Militar (PM).
“Esse motoqueiro também foi ameaçado, mas permaneceu no local e ajudou a salvar a vida dela naquele momento”, disse Iara.
Piora no estado de saúde e morte
Segundo as investigações, no dia da agressão, Alice foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada. Em casa, ela continuou sentindo fortes dores e voltou a procurar ajuda no dia 26 de outubro, em um hospital particular de Contagem, na Grande BH. Exames apontaram costelas quebradas e outras lesões graves.
Ainda de acordo com a delegada responsável pelo caso, Alice só conseguiu registrar o Boletim de Ocorrência no dia 5 de novembro, acompanhada do pai. Ela demorou por vergonha e medo.
“Ela tinha receio dos autores e revelou esse medo no depoimento”, afirmou a delegada.
A polícia também revelou que, com o passar dos dias, o estado de saúde de Alice piorou. Ela perdeu cerca de 10 kg, teve dificuldade para se alimentar e sentia dores intensas. No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Investigação segue sob sigilo
O caso foi encaminhado ao Departamento de Feminicídios no dia 10 de novembro e segue sob sigilo. A PCMG informou que medidas cautelares já foram solicitadas e cumpridas, mas não detalhou quais, já que os investigados estão em liberdade.
A corporação negou a participação de um terceiro funcionário, como chegou a circular em alguns veículos de imprensa.
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