Edson Alves Pereira, pai de Alice Martins Alves,
“Eu não sei porque que está essa loucura de que ela não pagava conta, não sei mais o quê. Porque ela saía com dinheiro. Eu não permitia nem que ela pegasse ônibus, ela tinha que pegar um Uber para ir e voltar, apesar de ser rejeitada por muitos motoristas desses transportes por app”, afirmou ele.
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O pai de Alice Alves pediu, ainda, que autoridades políticas tomem atitudes em relação à violência contra pessoas trans.
“Tem que enfrentar essa coisa de frente, bate pesado! Se não bater, o coração não abre. Se não bater a política, o prefeito, o governador, ninguém vai acordar! Bate enquanto é tempo! A sociedade precisa de uma resposta. Tem milhões de pessoas que têm problemas. Eles não têm opção não, nasceram assim. Não é opção sexual, nasceram assim”, declarou Alves.
Segundo ele, é preciso encarar o problema da violência de gênero e mostrar para a sociedade como isso causa sofrimento em quem é alvo.
“Temos que encarar esse problema, tem que mostrar a essa sociedade! A dor é muito grande, a dor dela já é imensa, mas tem que mostrar para a sociedade.
Entenda o caso
A agressão aconteceu na noite de 23 de outubro, quando Alice teria deixado o estabelecimento sem pagar uma conta de R$ 22. Segundo a investigação, isso já havia ocorrido antes, tanto com ela quanto com outros clientes, sem gerar conflitos, já que os consumidores costumavam voltar posteriormente para quitar o valor.
Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), a vítima era conhecida no local e relatava sofrer olhares preconceituosos. Naquele dia, Alice havia sido
Ela esteve em outro bar antes de chegar ao estabelecimento onde ocorreu o caso. Depois de consumir bebida alcoólica, levantou-se e foi embora, comportamento que, segundo a PC, já havia acontecido sem problemas anteriores.
Mesmo assim, dois funcionários decidiram persegui-la. Ela havia pedido um carro de aplicativo e
“Em um áudio, é possível ouvir Alice dizendo que já havia pago os R$ 22”, explicou a delegada Iara França. Porém, naquele dia, os homens a alcançaram em um ponto mais isolado e iniciaram as agressões. A vítima só não morreu no local porque um motociclista testemunhou a cena, interveio e acionou o SAMU e a Polícia Militar (PM).
“Esse motoqueiro também foi ameaçado, mas permaneceu no local e ajudou a salvar a vida dela naquele momento”, disse Iara.
A polícia também revelou que, com o passar dos dias, o estado de saúde de Alice piorou. Ela perdeu cerca de 10 kg, teve dificuldade para se alimentar e sentia dores intensas. No dia 8 de novembro, uma nova internação identificou uma perfuração no intestino, causada pelas agressões. Alice morreu no dia seguinte, em um hospital particular de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Piora no estado de saúde e morte
Segundo as investigações, no dia da agressão, Alice foi atendida em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e liberada. Em casa, ela continuou sentindo fortes dores e voltou a procurar ajuda no dia 26 de outubro, em um hospital particular de Contagem, na Grande BH. Exames apontaram costelas quebradas e outras lesões graves.
Ainda conforme a delegada responsável pelo caso, Alice só conseguiu registrar o Boletim de Ocorrência no dia 5 de novembro, acompanhada do pai. Ela demorou por vergonha e medo.
“Ela tinha receio dos autores e revelou esse medo no depoimento”, afirmou a delegada.
Investigação segue sob sigilo
O caso foi encaminhado ao Departamento de Feminicídios no dia 10 de novembro e segue sob sigilo. A PCMG informou que medidas cautelares já foram solicitadas e cumpridas, mas não detalhou quais, já que os investigados estão em liberdade.
A corporação negou a participação de um terceiro funcionário, como chegou a circular em alguns veículos de imprensa.
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