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AMIG defende ‘mineroduto sustentável’ e diz que projeto de lei pode travar investimentos de R$ 20 bi

Associação dos Municípios Mineradores diz que novos minerodutos utilizam sistemas com água retornável

Minerodutos são grandes tubulações que transportam minério entre um ponto e outro

A Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (AMIG) defendeu a implantação de ‘minerodutos sustentáveis’ no estado e criticou um projeto de lei da deputada Carol Caram (Avante) que, segundo a AMIG, poderia suspender investimentos de R$ 20 bilhões em solo mineiro. A proposta da parlamentar, que busca endurecer as regras contra minerodutos em áreas de mananciais, está pronta para ser votada no plenário da Assembleia Legislativa.

Os minerodutos são grandes tubulações que transportam minério entre um ponto e outro com a utilização de água. A deputada afirma que o objetivo do PL é impedir a construção desses dispositivos em áreas que possam colocar em risco a segurança hídrica de Belo Horizonte e cidades da região metropolitana.

O consultor de relações institucionais da AMIG, Waldir Salvador, diz que o projeto da deputada ignora as novas tecnologias utilizadas de minerodutos que reutilizam a água.

“Os minerodutos que serão implantados são moderníssimos, de circuito fechado, ou seja, a água recircula, o minério vai, a água volta. Não tem nenhuma relação com os mananciais da região, nem com as bacias da região. Ou seja, não gasta nenhum tipo de recurso hídrico de terceiros, não tira água de quem quer que seja, é com a outorga que a própria mineradora já tem. São minerodutos de curta distância, que vão levar o minério beneficiado até os transportes ferroviários que existem na região. É uma solução inteligente, moderna, de custo melhor para as empresas”, explicou Salvador.

Como a Itatiaia mostrou, a população da Grande BH está reclamando da grande quantidade de caminhões de minério em rodovias como a BR-381. Estudos mostram que quase 400 pessoas morreram em acidentes na BR-381, conhecida como “rodovia da morte”, no ano passado.

Na primeira reportagem da Itatiaia sobre o tema, a empresa Cedro apontou como solução a implantação de uma linha férrea para conectar as cidades da região metropolitana à linha férrea da malha regional sudeste, que leva o minério até o porto do Rio de Janeiro. A empresa diz que a medida irá tirar cinco mil caminhões por dia da rodovia.

Minerodutos também podem reduzir fluxo de caminhões, diz AMIG

O consultor da AMIG diz que os novos minerodutos, além de reutilizar a água, também podem retirar os caminhões da rodovia. “Sem impacto ambiental, sem impacto urbano, inclusive porque vários trechos do mineroduto vão passar debaixo da própria rodovia. Ou seja, o impacto já existe, a rodovia já está lá e vai viabilizar a continuidade da extração mineral, que é tão importante para tantas cidades daquela região por mais 30 ou 40 anos. Então, a AMIG sente-se plenamente contemplada defendendo os direitos e os interesses dos municípios mineradores com esse novo modal, que é esse tipo de mineroduto de circuito fechado, que não traz nenhum impacto ambiental à sociedade e resolve a solução dos caminhões que hoje trafegam nas rodovias BR-040, BR-356, BR-381 e outras.

O prefeito de Igarapé, Arnaldo Chaves (PP), que também é favorável à retirada dos caminhões da rodovia, defende a implantação dos minerodutos até o município, um ponto de embarque na cidade, e, depois, a linha férrea no restante do trecho. Na avaliação de Chaves, esta é a solução mais interessante para a cidade.

“Não somos contra a ferrovia de forma nenhuma. A gente sabe que ela é uma alternativa interessante, mas o que nos impacta é que realmente é uma ferrovia cortando nossa área ambiental, sendo que nós temos uma alternativa a essa ferrovia, que seria um terminal fora dessa área de proteção ambiental e o mineroduto sustentável, levando esse minério até esse ponto e partindo dali para o destino, os postos do Rio e de São Paulo, como é o que se fala aí", defendeu o prefeito.

Já o presidente da AMIG, Marco Antônio Lage, é favorável à diversificação de modais. "É essa composição de modais de transporte que é importante para pequenos trechos. É aceitável a utilização de minerodutos, desde que sejam essas tecnologias mais ecológicas, que não utilizam água, recursos hídricos já tão escassos. E, por outro lado, abastecendo e levando através de ramais, abastecendo terminais ferroviários que vão levar (minério) a longas distâncias, até os portos. Esses produtos de exportação, como o minério de ferro, que exige um volume de logística, que exige uma qualificação dessa logística”, disse Lage.

Deputada defende PL que proíbe minerodutos em áreas de mananciais

Questionada a respeito da alegação da AMIG sobre a possibilidade de suspensão de investimentos das mineradoras, a autora do projeto, Carol Caram, afirma que esta possibilidade não vai extinguir a preocupação com a segurança hídrica em áreas de mananciais.

“Mesmo que haja esses investimentos, vale a pena corrermos o risco de um acidente com minerodutos para contaminar o abastecimento de água de mais de 4 milhões de pessoas que residem na região metropolitana do nosso estado? Eu acredito que não. A gente não pode esquecer que a ganância sem limite das mineradoras já geraram diversas mortes e prejuízos no estado de Minas Gerais”, pontuou Carol Caram.

A parlamentar alega que o projeto não proíbe os minerodutos, mas impõe restrições. “Nosso projeto de lei não proíbe minerodutos, apenas impede que eles passem em áreas de mananciais que abastecem a água da região metropolitana, que protege toda a nossa população. Nós não proibimos minerodutos no nosso Estado. Nós queremos é preservar todo esse bem essencial para a vida e saúde de cada um”, acrescentou a deputada.

Um requerimento foi aprovado na Assembleia Legislativa para realização de audiência para discutir o tema. Por enquanto, a data da reunião, que será aberta ao público, ainda não foi divulgada.

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Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.