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Propina de R$ 20 milhões e carros de luxo: entenda a denúncia contra Collor

Ex-presidente é figura central em um dos desdobramentos mais emblemáticos da Operação Lava Jato

Ex-presidente foi preso na madrugada desta sexta-feira, em Maceió

Preso na madrugada desta sexta-feira (25) em Maceió, o ex-presidente Fernando Collor de Mello é figura central em um dos desdobramentos mais emblemáticos da Operação Lava Jato, força-tarefa que revelou esquemas bilionários de corrupção envolvendo agentes públicos e grandes empresas no Brasil.

Leia mais: Collor é o terceiro presidente preso por esquemas denunciados pela Lava Jato

A condenação de Collor, que também foi senador por Alagoas por mais de uma década, está relacionada a um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a BR Distribuidora — hoje Vibra Energia — empresa então vinculada à Petrobras.

A denúncia, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2015, revelou que Collor teria recebido ao menos R$ 20 milhões em propina entre 2010 e 2014 para facilitar contratos fraudulentos entre a BR Distribuidora e a empreiteira UTC Engenharia. Em troca das vantagens indevidas, ele usava sua influência política para indicar e manter diretores na subsidiária estatal, garantindo a aprovação de contratos milionários para obras de infraestrutura no setor de combustíveis.

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A acusação foi fortalecida por depoimentos de delatores premiados da Lava Jato, incluindo o do empresário Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC. De acordo com o Supremo Tribunal Federal (STF), o esquema contou com a participação dos empresários Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos e Luis Pereira Duarte de Amorim, que também foram condenados por participação nos crimes.

Durante as investigações, a Polícia Federal realizou buscas na residência oficial de Collor, a chamada “Casa da Dinda”, em Brasília, onde foram apreendidos bens de alto luxo: uma Ferrari, um Porsche e uma Lamborghini. Os veículos estavam registrados em nome de empresas de fachada e, segundo os autos, foram adquiridos com recursos provenientes da corrupção.

Condenado a 8 anos e 11 meses de prisão, Collor também foi sentenciado a pagar multa, a indenizar a União em R$ 20 milhões e a cumprir pena de inelegibilidade por 17 anos e 8 meses — o dobro da pena privativa de liberdade.

A sentença foi confirmada pelo STF em 2023, mas a prisão não foi imediata devido aos recursos pendentes. Com a rejeição das últimas apelações pela Corte, o ministro Alexandre de Moraes determinou sua prisão na noite da última quinta-feira (24).

Nesta sexta-feira, os 11 ministros do STF participam de uma sessão no plenário virtual para decidir se mantêm ou não a ordem de prisão emitida por Moraes. O julgamento começou às 11h e se estende até as 23h59, podendo ser interrompido em caso de pedido de vista.

O que diz o ex-presidente?

Na noite de quinta-feira, pouco antes da prisão, a defesa do ex-presidente Collor ressaltou a preocupação com a decisão monocrática do ministro Moraes. Confira na íntegra:

“A defesa da ex-presidente da República Fernando Collor de Mello recebe com surpresa e preocupação a decisão proferida na data de hoje, 24/04/2025, pelo e. Ministro Alexandre de Moraes, que rejeitou, de forma monocrática, o cabível recurso de embargos de infringentes apresentado em face do acórdão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, nos autos da AP 1025, e determinou a prisão imediata do ex-presidente.

Ressalta a defesa que não houve qualquer decisão sobre a demonstrada prescrição ocorrida após trânsito em julgado para a Procuradoria Geral da República. Quanto ao caráter protelatório do recurso, a defesa demonstrou que a maioria dos membros da Corte reconhece seu manifesto cabimento. Tais assuntos caberiam ao Plenário decidir, ao menos na sessão plenária extraordinária já designada para a data de amanhã.

De qualquer forma, o ex-Presidente Fernando Collor irá se apresentar para cumprimento da decisão determinada pelo Ministro Alexandre de Moraes, sem prejuízo das medidas judiciais previstas”

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio