Bertha Maakaroun | Com a confirmação de Flávio Bolsonaro, qual é a situação de Romeu Zema na disputa presidencial?

O campo de eleitores bolsonarista e a maior parte dos eleitores da direita antipetista tende a convergir para Flávio Bolsonaro, estreitando o nicho de eleitores em que governadores de oposição têm mais chance de cavar votos

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo)

Algo não anda bem na estratégia eleitoral do governador Romeu Zema (Novo) em sua campanha antecipada para a presidência da República. Entre janeiro e dezembro de 2025, foi visível o esforço do mineiro em percorrer o país, frequentar os palanques de Jair Bolsonaro (PL) e outros palanques de oportunidades de governadores da oposição. Por um lado, Romeu Zema conseguiu, se tornar 11 pontos percentuais mais conhecido: o nível de desconhecimento dele caiu de 62% para 51%. Mas, por outro lado, a rejeição de Romeu Zema cresceu 12 pontos percentuais, de 23% para 35%. Ao mesmo tempo, o grupo de eleitores que afirmam que votariam nele se manteve estável, com oscilação negativa de 15% para 14%.

Os dados são da pesquisa Genial/Quaest de dezembro.

Em simulações de cenário de segundo turno contra Lula (PT), o presidente teria 45% contra 33% do governador mineiro, portanto, Zema perderia por uma diferença de 12 pontos percentuais. Esse desempenho se manteve estável entre janeiro e dezembro de 2025 e é muito semelhante ao dos outros dois governadores presidenciáveis – Ratinho Júnior (PSD), do Paraná e Ronaldo Caiado (União), de Goiás. É um desempenho que reflete mais a convergência de votos do campo bolsonarista e antipetista a quem estiver no segundo turno contra Lula do que propriamente características das candidaturas.

Qual é a dificuldade de Romeu Zema e governadores de oposição? A presença de Flávio Bolsonaro (PL) na disputa afunila o campo de eleitores em que esses candidatos conseguirão cavar votos. Em cenário eleitoral de primeiro turno com todas as candidaturas postas, os três governadores marcam juntos 18%: Ratinho 11%; Zema, 4% e Ronaldo Caiado, 3%. Todo o campo de eleitores bolsonarista e a maior parte dos eleitores da direita antipetista tende a convergir para Flávio Bolsonaro, que apresenta 23% nesse cenário, contra 37% de Lula.

A se manter a candidatura de Flávio Bolsonaro, talvez Zema, que descarta concorrer ao Senado Federal, sonhe com uma vaga de vice na chapa de Ratinho Júnior ou de Flávio Bolsonaro. Mas, cada um desses cenários, lhe traria problemas diferentes nas composições de seu campo político na sucessão mineira. No primeiro caso, o palanque de Zema em Minas, que em princípio reúne, entre outros, PSD, PP, União, tenta atrair o PL. A quem os apoiadores do governador pediriam votos em Minas: Flávio ou Ratinho? Nesse cenário, possivelmente o campo bolsonarista em Minas convergiria todo para o senador Cleitinho (Republicanos). No segundo caso, menos provável porque a família Bolsonaro, pelas características de comportamento já conhecidas, tende indicar um vice de extrema confiança na chapa de Flávio Bolsonaro. Mas, caso Zema fure esse bloqueio e se viabilize, traria dificuldades ao PSD de Minas, representado na candidatura de Mateus Simões (PSD) ao Palácio Tiradentes. Nas duas hipóteses, Romeu Zema atingiria o coração da estratégia eleitoral do Novo, que no plano nacional, conta com a candidatura dele para impulsionar as eleições de deputados federais nos estados.

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Jornalista, doutora em Ciência Política e pesquisadora

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.

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