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Investigação de espionagem ilegal: funcionários da Abin reclamam do termo ‘Abin Paralela’

Intelis diz que há um erro ao vincular o nome da agência a uma estrutura paralela ao Estado

A fachada da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Brasília

A União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) divulgou uma nota reclamando do uso do termo “Abin Paralela” em vinculações às investigações da Polícia Federal sobre o uso ilegal de instrumentos de espionagem. Nesta quinta-feira (11), a PF cumpriu novos mandados de prisão e de busca e apreensão contra um grupo que teria utilizado uma ferramenta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar adversários e desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enquanto ele ainda estava no poder.

A operação foi batizada de ‘Última Milha’, em referência ao software FirstMile, que teria sido usado ilegalmente para espionar políticos, autoridades e jornalistas. Nesta nova fase, os policiais federais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo.

Na nota, a Intelis diz que há um erro ao vincular o nome da agência a uma estrutura paralela ao Estado, “o que os fatos revelam são pessoas externas às carreiras de Inteligência inseridas no órgão para atuar de forma não republicana”.

“Lamentamos profundamente a repetição cíclica de episódios que sujam a imagem do fundamental aparato de Inteligência de Estado por agentes externos, que depois saem de seus cargos e deixam os ônus de suas ações para os servidores orgânicos. Esperamos que os responsáveis paguem por seus desvios”, diz a entidade na nota.

Foram decretadas as prisões preventivas e o afastamento dos cargos públicos:

  • Mateus de Carvalho Sposito;
  • Richards Dyer Pozzer;
  • Ogério Beraldo de Almeida;
  • Marcelo Araújo Bormevet; e
  • Giancarlo Gomes Rodrigues.

O grupo teria acesso ao programa de computador comprado pela Abin para o monitoramento ilegal de telefones celulares entre dezembro de 2018 e 2021. O FirstMile é um sistema de geolocalização israelense. Trata-se de um software desenvolvido pela empresa Cognyte (ex-Verint). O contrato da Abin foi fechado em dezembro de 2018 e tinha uso previsto até maio de 2021.

O programa permite o rastreio do paradeiro de qualquer pessoa. É possível ver o histórico de deslocamentos e criar alertas em tempo real de movimentações em diferentes endereços. O sistema teria sido usado para espionar adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), jornalistas e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Houve uma intensificação desse uso ilegal em 2021.

A ferramenta pede que seja digitado o número do contato telefônico. A partir disso, é possível acompanhar em um mapa a localização do dono do aparelho, com as redes 2G, 3G e 4G.

De acordo com as pesquisas, o grupo utilizava ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial.

Os investigados podem responder pelos crimes de: invasão de dispositivo informático alheio; organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

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É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.