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Antes de Lula, Armínio Fraga foi alvo de pedido de declaração de ‘persona non grata’ em Minas

Então presidente do Banco Central, Armínio Fraga fez discurso contra governo Itamar a investidores dos EUA e irritou deputados mineiros

Presidente do Banco Central durante governo FHC, Armínio Fraga entrou em rota de colisão com governo Itamar Franco

Anos antes de o deputado estadual Cristiano Caporezzo (PL) apresentar um projeto de lei que pede à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que declare o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “persona non grata” no estado, o Legislativo deliberou sobre pedido semelhante somente uma vez em sua história.

Em outubro de 1999, o deputado estadual Marco Régis, filiado ao PPS - que mais tarde viria a se tornar o partido Cidadania - protocolou um requerimento para tonar o então presidente do Banco Central, Armínio Fraga, “persona non grata” em território mineiro.

O pedido foi uma resposta a uma declaração do economista que, durante a Cúpula das Américas naquele ano, em Nova York, Fraga disse a investidores estrangeiros que evitassem investir em Minas Gerais.

“Deixem-me dizer que nós estamos muito irritados. E vocês não devem pensar que isso é Brasil, isso é Minas”, afirmou. E completou: “se vocês forem investidores minoritários, não invistam em Minas, procurem outro estado e não Minas Gerais.”

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No mesmo dia, Itamar Franco mandou a Procuradoria-Geral do Estado processar o economista pedindo indenização por danos morais.

À reportagem, Armínio Fraga disse ter “vaga lembrança” do episódio, que completará 25 anos, mas que não houve repercussão prática a partir do requerimento do parlamentar mineiro.

Governo de Minas x Governo federal

Itamar assumiu o Governo de Minas Gerais em 1º de janeiro de 1999, após ter derrotado o candidato à reeleição Eduardo Azeredo, no segundo turno, com 57% dos votos. Ele havia deixado a Presidência da República quatro anos antes, quando herdou o cargo após renúncia de Fernando Collor de Mello, alvo de processo de impeachment no Congresso Nacional.

De seu legado como presidente ficou o Plano Real, aprovado em 1994, com participação ativa do seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, alçado ao Palácio do Planalto com a vitória nas eleições daquele ano.

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Em 1999, Itamar e FHC viviam às turras. Dois anos antes, em maio de 1997, quando o governador de Minas era Azeredo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fez um leilão para a venda de um terço das ações da Cemig, compradas, sem concorrência, pela Southern Electric.

Ao assumir o Palácio da Liberdade, Itamar Franco ameaçava romper o acordo, o que desagradou os acionistas minoritários que haviam adquirido as ações da empresa mineira. Foi neste contexto que Fraga disse que o Planalto estava “irritado” com o estado e recomendou aos investidores estrangeiros que evitassem Minas Gerais.

Além do insólito pedido para que o Parlamento mineiro declarasse o presidente do Banco Central “persona non grata” no estado, a fala colocou gasolina à fogueira da crise. Uma semana mais tarde, em 11 de outubro daquele ano, a crise havia escalado a uma proporção inimaginável: com prestigio de ter sido presidente, Itamar enviou 2.500 policiais armados com fuzis e metralhadoras para realizarem exercícios militares na barragem de Furnas, em São José da Barra, na região Sudoeste do estado.

O governador de Minas ganhou a briga.

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Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.