Sigilos da Codemig completam um mês mesmo após adesão ao Propag e renovação de contrato

Informações da estatal foram classificadas como confidenciais no inicio de outubro. Desde então, vínculo com CBMM foi refeito e quadro societário da empresa foi alterado

Codemig está no centro das movimentações políticas de Minas Gerais nos últimos meses

No último 7 de outubro, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) decidiu impor sigilo a 13 documentos da estatal. Desde então, a empresa que explora nióbio no Triângulo Mineiro já renovou seu vínculo com a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e o Governo de Minas já detalhou a relação de ativos que pretende incluir no Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag), mas a empresa ainda não definiu quando vai permitir acesso às informações sigilosas.

Em outubro, em resposta à Itatiaia acerca da justificativa do sigilo das informações, a Codemig informou que a classificação dos documentos era necessária diante de um momento sensível de negociações para a renovação do vínculo com a CBMM, parceira da estatal desde a década de 1970 em sua atuação na região de Araxá.

Entre os 13 documentos listados entre os sigilosos pela Codemig haviam materiais especificados como “Relatório de avaliação econômico-financeira Rotchschild & Co Brasil Ltda” e outro como “Projeções Financeiras da Codemig elaborado pela Goldman Sachs”.

A existência de dois documentos feitos por instituições financeiras alimentou a hipótese entre os deputados de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) de que, entre as informações sigilosas, estaria um cálculo sobre o valor da Codemig.

O preço da companhia é importante nas negociações sobre o Propag. O programa de refinanciamento das dívidas dos estados com a União permite que ativos estatais sejam privatizados ou federalizados como forma de abater parte do débito e reduzir os juros cobrados sobre o pagamento parcelado em até 30 anos. Para conseguir o benefício, é preciso amortizar ao menos 20% do estoque da dívida, o que no caso mineiro se aproximaria de R$ 34 bilhões.

A argumentação da oposição na Assembleia é de que apenas a Codemig seria suficiente para atingir à marca dos 20%. Se o cálculo dos deputados for condizente com a realidade, não seria necessária a discussão de outros projetos privatistas de Zema, como uma lista com centenas de imóveis, a Cemig e a Copasa.

Uma semana após o decreto dos sigilos, o diretor de Administração e Finanças da Codemig e da Codemge (estatal que possui ações da Codemig), Helger Marra Lopes, disse em entrevista ao Jornal da Itatiaia que os documentos sob sigilo não tinham o valor da estatal e que seu acesso seria restrito durante o período de renegociação do contrato com a CBMM.

Contrato foi renovado há quase duas semanas

No dia 30 de outubro, Codemig e CBMM firmaram a prorrogação do vínculo entre as empresas por mais 30 anos com possibilidade de extensão por mais 15. A renovação garante 25% do lucro líquido obtido com a exploração mineral para a estatal.

A relação entre Codemig e CBMM começou em 1972 quando um contrato de 30 anos de parceria foi firmado. A parceria foi renovada por mais três décadas em 2002. As companhias dividem a exploração de duas minas de nióbio em Araxá. A última renovação aconteceu sete anos antes do fim do vínculo então vigente, que valeria até 2032.

Mesmo após a renovação do contrato, os documentos seguem em sigilo. Em entrevista à Itatiaia um dia após a prorrogação do vínculo com a CBMM a presidente da Codemge, Luísa Barreto, afirmou que o valor da Codemig será divulgado ainda este ano.

A reportagem entrou em contato com a administração da estatal e pediu informações sobre o cronograma de divulgação das informações da Codemig e aguarda resposta.

Codemig tem presença reduzida em lista do Propag

Na última quinta-feira (6), o Governo de Minas anunciou sua adesão ao Propag com uma lista de ativos que pretende envolver na negociação da dívida. Uma das surpresas foi a não inclusão da Codemig entre eles, bem como uma alteração do quadro societário da Codemge que desidratou sua participação acionária sobre a estatal de exploração mineral.

A mudança no quadro societário aumenta a participação do Governo Minas de 49% para 95% nas ações da Codemig, ao passo que a fatia da Codemge caiu de 51% para 5%.

Apenas a Codemge foi incluída entre os ativos do Propag, portanto, com um valor que engloba apenas 5% do que vale a Codemig. O Governo de Minas, no entanto, afirma que pode mudar os percentuais se for necessário um incremento no valor para atingir o pagamento de 20% da dívida com a União. Na sua formatação atual, a lista já conta com quase três vezes o suficiente para este objetivo.

Em meio a todas as movimentações relacionadas ao Propag e ao quadro societário da companhia, segue incerto o valor da Codemig. Um cálculo feito pelo Sindicato dos Gestores e Auditores-Fiscais do Estado (Sinfazfisco-MG) e disponibilizado à Itatiaia chegou às cifras de R$ 55 bilhões como o preço da estatal.

A Codemig negou a veracidade do cálculo do sindicato e afirmou que o método utilizado nas contas não é adequado para se estimar o valor da companhia por partir de premissas incorretas e conjugar critérios contábeis e de mercado sem compatibilização. O valor real da empresa, no entanto, não foi apresentado.

A Codemig no Propag

A federalização da Codemig foi aprovada na Assembleia ainda em julho com um entendimento de que a empresa sozinha poderia atingir ou se aproximar do valor necessário para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas no âmbito do Propag.

Privatizações ou federalizações de estatais são parte importante da adesão ao Propag por serem a forma escolhida pelo governo estadual de obter recursos para abatimento do estoque da dívida com a União, hoje avaliada em cerca de R$ 170 bilhões.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso de Copasa, Gasmig e Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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