Com 45 votos, apenas quatro acima da maioria necessária para a recondução de Paulo Gonet à Procuradoria-Geral da República, foi a mais apertada desde a promulgação da Constituição de 1988. À frente do Ministério Público Federal foi Gonet quem apresentou a denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já na sabatina conduzida pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a base bolsonarista na Casa mandou a sua primeira mensagem direta: foi durante criticado pelos senadores bolsonaristas – entre eles, o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES). Senadores como o mineiro Cleitinho (Republicanos) e o senador Eduardo Girão (Novo-CE) fizeram campanha pelas redes contra a aprovação de Gonet, que perdeu, em plenário, 20 votos em relação ao placar de sua primeira aprovação no Senado, há dois anos. Para chancelar a recondução de Gonet desta vez, Lula precisou contar com a sua base no Senado, mas, mais do que nunca, com o apoio do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP).
A segunda mensagem importante desta votação apertada foi dirigida ao presidente Lula (PT), que está em vias de indicar o nome para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), aberta pela aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso. A pessoa indicada terá de ser sabatinada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e também aprovada pela maioria do plenário do Senado. Lula pende à indicação de Jorge Messias, Advogado Geral da União. Claro que trata-se de cargo diferente de Gonet e outro contexto: Messias é evangélico e a bancada bolsonarista poderá rachar nesse caso. Mas, há no Senado, resistência a Jorge Messias junto a parte dos bolsonaristas e parte da base do governo, porque temem que ele se transforme num “Flávio Dino 2”, que endureceu as regras para a liberação das emendas parlamentares.
Para além disso contudo, bolsonaristas e a base do governo no Senado estão fechados com o apoio ao senador Rodrigo Pacheco (PSD), outro nome cogitado para a vaga. Pacheco tem em Davi Alcolumbre o seu principal cabo eleitoral que, até aqui, conseguiu adiar o anúncio da indicação que Lula pretendia fazer antes da COP 30. Política é dinâmica, é um dia após o outro. Antes de anunciar a sua indicação, Lula pretende conversar com Pacheco e com o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas, outro candidato à mesma vaga. Lula voltará a conversar também com os ministros do STF, que, em sua maioria, têm preferência por Pacheco.
A votação apertada de Gonet carregou portanto um duplo recado: o protesto bolsonarista contra o chefe do Ministério Público Federal; mas também a expectativa de senadores de que a futura indicação para a vaga ao STF seja do senador Rodrigo Pacheco. Cada poder com a sua prerrogativa. É jogo que segue.