A COP 30, que está acontecendo, em Belém do Pará, não é apenas mais uma conferência do clima. É a hora de medir o que realmente foi feito desde o Acordo de Paris e o quanto o mundo ainda está disposto a agir. O fato de o evento acontecer no coração da Amazônia dá ao Brasil uma posição estratégica e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade histórica: mostrar que é possível conciliar desenvolvimento, justiça climática e conservação ambiental.
O planeta já aqueceu cerca de 1,3 °C desde a era pré-industrial. O limite de 1,5 °C — considerado o “ponto de não retorno” — está cada vez mais distante. As consequências já são visíveis: secas prolongadas, enchentes, perdas agrícolas, queimadas e crises hídricas que afetam até grandes centros urbanos. A mudança climática deixou de ser previsão científica e passou a ser um dado econômico e social.
Nesse contexto, o mercado de carbono surge como uma ferramenta central de transição. Ele se baseia em um princípio simples: quem polui paga; quem conserva recebe. Cada tonelada de CO₂ que deixa de ser emitida ou é removida da atmosfera gera um crédito de carbono, que pode ser comprado e vendido. É uma forma de atribuir valor à redução de emissões e, com isso, estimular a inovação e a preservação ambiental.
O desafio é garantir que esse mercado funcione com transparência, rastreabilidade e integridade ambiental. Sem regras claras, o risco é transformar o carbono em mais uma commodity especulativa, distante da realidade das comunidades que vivem da floresta e dos produtores rurais que mantêm áreas preservadas.
O Brasil tem tudo para liderar esse processo. Conta com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, vastas áreas de floresta tropical e uma agricultura cada vez mais consciente da necessidade de produzir com sustentabilidade. A recente Lei nº 15.190/2025, que cria as bases do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, é um passo importante para dar segurança jurídica e atrair investimentos.
Mas o sucesso dependerá de algo que vai além da lei: credibilidade. O mercado de carbono só prospera quando há confiança de que cada crédito representa, de fato, uma redução real e mensurável. Isso exige fiscalização, monitoramento e inclusão social — para que comunidades tradicionais, povos indígenas e pequenos produtores não fiquem de fora dessa nova economia verde.
A COP 30 é, portanto, um grande teste de coerência. O mundo observará se o Brasil conseguirá transformar sua riqueza natural em liderança climática, sem repetir erros do passado. O mercado pode ser uma ponte entre economia e ecologia, mas ele não substitui a necessidade de reduzir emissões, restaurar ecossistemas e repensar o modelo de consumo.
Belém é o palco onde o discurso encontrará a realidade. E o Brasil, anfitrião e protagonista, tem a chance de provar que o futuro verde pode — e deve — começar agora, com regras firmes, visão de longo prazo e compromisso com as próximas gerações.