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Julgamento de Bolsonaro: entenda a acusação da PGR e a defesa do ex-presidente

Provas apontam para plano para minar eleições; defesa nega ligação de Bolsonaro com os atos de 8 de janeiro

Ex-presidente Jair Bolsonaro: julgamento começa nesta terça-feira (2)

Do resultado das urnas, em 30 de outubro de 2022, ao ataque às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, investigações apontam uma sequência de fatos que conectam a conduta do então presidente Jair Bolsonaro à radicalização de aliados. A Procuradoria-Geral da República (PGR) vê um plano para corroer a confiança no sistema eleitoral e criar ambiente para ruptura institucional; a defesa nega e pede verificação minuciosa de mensagens, agendas e contatos.

Linha do tempo: do silêncio pós-derrota à crise institucional

Após a derrota, Bolsonaro se isolou no Palácio da Alvorada. Relatos colhidos pela Polícia Federal indicam que ele recebia informes diários sobre protestos e discutia com assessores o grau de radicalização nas ruas, enquanto quartéis e acampamentos tornavam-se pontos de pressão por “intervenção”. Para a PGR, esse ambiente - somado a conteúdos falsos sobre as urnas - ajudou a alimentar um discurso de ruptura que desembocaria no 8 de janeiro. A defesa afirma que não há vínculo direto entre o ex-presidente e atos de violência.

O que diz a acusação

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, sustenta que houve produção e difusão de material “sabidamente inverídico” sobre as urnas e que manifestações em acampamentos convocavam “eufemismos para ruptura pela força do regime constitucional”.

“A Organização Criminosa preparou material sabidamente inverídico sobre as urnas eletrônicas (…) E quando o relatório [das Forças Armadas] foi finalmente dado ao conhecimento geral, providenciou-se minimizar as conclusões.” — Paulo Gonet, PGR

O que diz a defesa

O advogado Celso Vilardi afirma que as peças do inquérito não comprovam ligação de Bolsonaro com articulações como “punhal verde e amarelo”, “operação luneta” ou “Copa 22” e cobra perícia nas trocas de mensagens e registros de reuniões:

“Estamos falando de denúncia gravíssima por fatos gravíssimos (…) A verificação das trocas de mensagem (…) é essa a importância de verificar toda a questão.” — Celso Vilardi, defensor de Bolsonaro.

O retrato do 8/1 em Brasília

Interventor federal no Distrito Federal à época, Ricardo Cappelli descreve que as horas críticas foram marcadas por desinformação e tentativas de desestabilizar a Polícia Militar:

“Assumi a intervenção num ambiente de muita pressão (…) Ao longo daquele dia, espalharam várias fake news para tentar desestabilizar a Polícia Militar do DF.” — Ricardo Cappelli, presidente da ABDI e interventor em 8/1

O que está em julgamento

No Supremo Tribunal Federal, ministros avaliam se a conduta atribuída a Bolsonaro e aliados - de fomentar descrédito no processo eleitoral a incentivar acampamentos que pediam “intervenção” - configurou crimes contra o Estado Democrático de Direito. Os crimes são:

  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
    Pena: 4 a 8 anos de prisão
  • Tentativa de golpe de Estado
    Pena: 4 a 12 anos de prisão
  • Participação em organização criminosa armada
    Pena: 3 a 8 anos, podendo chegar a 17 anos em casos de uso de arma de fogo ou envolvimento de agentes públicos
  • Dano qualificado
    Pena: 6 meses a 3 anos de prisão
  • Deterioração de patrimônio tombado
    Pena: 1 a 3 anos de prisão

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Nossos repórteres escrevem todos os dias notas dos bastidores de Brasília
Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio
Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.