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Desgaste, tensão e deputados operados: os bastidores da votação da PEC da Copasa na ALMG

Entre disputas, manobras regimentais e exaustão, votação que garantiu a vitória do governo Zema foi definida no detalhe — e por um voto

PEC que libera privatização da Copasa sem consulta popular é aprovada na ALMG

A votação da PEC 24 na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, aprovada nesta quarta-feira (05) em segundo turno, se arrastou por meses na Casa e foi o ponto máximo de um processo que esgotou parlamentares dos dois lados. A Itatiaia apurou que o clima antes da sessão foi de cansaço e pressão, com deputados chegando a comparecer ao plenário mesmo sem condições físicas ideais de trabalho.

Entre eles, a deputada Chiara Biondini (PP), que se recupera de uma cirurgia na perna e precisou ir à Assembleia para garantir presença. Ela relatou à reportagem que foi para se posicionar favorável à PEC, mas se atrasou por poucos minutos e perdeu o início da votação, chegando no momento em que o deputado Bruno Engler (PL) declarava voto. Outra deputada também havia passado por procedimento cirúrgico, mas esteve na Casa e votou normalmente para não comprometer o placar.

A base do governo Zema trata o projeto como decisivo para o avanço da adesão do estado ao Propag - o Programa de Pleno Pagamento das Dívidas Estaduais. Já a oposição denuncia supostas irregularidades na tentativa do executivo de privatizar a companhia e afirma que a PEC abre precedente para a agenda de privatizações defendida pelo governador

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Pressão e desgaste

Um dos pontos altos da votação desta quarta-feira (05) foi o empurra-empurra protagonizado entre o líder da oposição, Ulysses Gomes (PT), e o deputado Gustavo Valadares (PSD). A confusão teve origem em uma disputa regimental após uma manobra inesperada da oposição.

O encaminhamento da discussão para votar o texto imediatamente surpreendeu a base governista por conta de um suposto acordo informal para que a votação ocorresse um pouco mais tarde do que o previsto, após o retorno de deputados que estavam ausentes.

De acordo com a oposição, no entanto, o bloco estava em obstrução, que poderia se estender por mais tempo, mas decidiu retirar os requerimentos para acelerar a votação. A estratégia acabou pegando a base desprevenida, que estava desmobilizada naquele momento.

Quando a oposição tentou retomar a palavra, a base argumentou que quem havia abdicado da discussão não poderia se reinscrever, o que acirrou os ânimos e levou ao bate-boca entre os deputados. O impasse rapidamente evoluiu para empurrões, e a sessão precisou ser interrompida por alguns minutos.

A reportagem soube que, tanto base quanto oposição chegaram ao plenário pressionadas pelas últimas semanas e episódios recentes. Ulysses tem bom trânsito entre diferentes bancadas e é conhecido pelo trato conciliador, o que aumentou a surpresa no momento da confusão.

Na prática, a disputa pelo texto acabou contaminada por relações pessoais que ficaram estremecidas durante a tramitação do texto, quando discussões entre parlamentares que haviam mantido diálogo ao longo da legislatura protagonizaram desentendimentos abertos nos últimos dias.

O clima azedou, por exemplo, após a reunião da comissão especial, quando a deputada Bella Gonçalves (PSOL) e o deputado Cássio Soares (PSD) trocaram acusações sobre a condução dos trabalhos, episódio que se somou a outro embate, na semana anterior, entre Cássio Soares (PSD) e Leleco Pimentel (PT) após as provocações envolvendo a deputada Amanda Teixeira Dias (PL), chamada de “Barbie da Shopee” por manifestantes.

Chama o VAR

Minutos depois da confusão entre os deputados no plenário na votação em segundo turno, o projeto foi votado e, ao fim, o placar marcava 47 votos a favor e 22 contra - resultado que configurava uma derrota para o governo, que precisava de, no mínimo, 48 votos. Só após o deputado Bruno Engler (PL) pedir a palavra e declarar voto é que o painel foi atualizado para 48.

O resultado foi contestado imediatamente pela oposição, que alegou ausência do deputado no plenário no momento da votação. Diante da disputa, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), decidiu suspender a sessão e checar as câmeras de segurança — o “VAR” legislativo que virou assunto nos corredores da Assembleia.

Após a análise das imagens, Tadeu confirmou que Engler estava presente, e o voto foi validado.

Durante a checagem das câmeras que confirmariam a presença de Engler no plenário, Tadeu chegou a sincronizar as imagens das câmeras de segurança internas com o relógio do painel eletrônico.

Ao constatar que o deputado havia entrado nos segundos finais da segunda chamada, o presidente teria rebatido o argumento dos opositores, afirmando que a gravação confirmava a legalidade do voto. O gesto consolidou a vitória da base e encerrou o episódio.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.