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Denúncias de uso político da Rede Minas e Inconfidência são debatidas na Assembleia

Audiência pública na Comissão de Cultura recebeu servidores e diretores da Empresa Mineira de Comunicação nesta quinta-feira (9)

Servidores apresentaram denúncias e diretores da EMC rebateram as críticas durante audiência na ALMG nesta quinta-feira (9)

Funcionários da Empresa Mineira de Comunicação (EMC) denunciaram episódios de assédio e interferência política na programação da Rádio Inconfidência e da Rede Minas durante uma audiência pública na Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (9). Diretores da estatal negaram os casos narrados e defenderam que os veículos trabalham com independência editorial.

Durante mais de quatro horas de audiência, servidores da empresa elencaram situações de adoecimento mental de trabalhadores da empresa, esvaziamento de conselhos editoriais e a troca de funcionários concursados por nomes escolhidos pelo governo estadual em cargos comissionados.

Lina Patrícia Rocha Laredo, servidora da EMC e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, apresentou o cálculo de que foram instaurados 112 cargos comissionados nas emissoras estatais sob a gestão de Romeu Zema (Novo) no estado. Durante um de seus momentos de fala na audiência, ela defendeu o funcionalismo público como medida de proteção das instituições.

“O concursado, muitas vezes é a última fronteira para a proteção do patrimônio público e eles muitas vezes denunciam essas práticas ilegais, irregulares ou de corrupção que acontecem. Já vimos isso muitas vezes”, afirmou a jornalista.

Já a presidente da Comissão Editorial da EMC, Vaneli Waleska Falci Carvalho Silva, denunciou que o conselho em questão foi esvaziado nos últimos dois anos e substituído por uma diretoria comissionada e alinhada ao governo estadual.

“Nós paramos de receber, a partir de meio de 2023, demandas da diretoria de conteúdo e programação para avaliarmos e darmos um parecer sobre cada proposta de programa novo e coluna nova que entraria. Tudo passou a ser decidido diretamente pela diretoria de programação”, afirmou.

Presentes na audiência, diretores da rádio e televisão públicas defenderam a atual gestão das emissoras. O presidente da EMC, Gustavo Mendicino, afirmou que a empresa conta com 250 funcionários e, destes, 89 são terceirizados. Ele argumenta que o número não configura um excesso na terceirização, como havia sido apontado pelos denunciantes.

Já o diretor-geral da EMC, Luciano Correia Gonçalves, defendeu a administração da empresa contra as denúncias de assédio moral. Ele afirma que a empresa investe no fortalecimento das práticas de compliance.

“Temos um conselho curador presente, o conselho administrativo da EMC vem aprovando uma série de novas regras de governança que atingem os mais altos níveis de compliance de uma empresa pública. É uma das empresas mais bem avaliadas no compliance entre as empresas públicas mineiras”, declarou.

A audiência foi realizada a pedido do presidente da Comissão de Cultura da Assembleia, o deputado Professor Cleiton (PV). O parlamentar destacou que outras sessões serão marcadas para seguir com os debates sobre o tema.

EMC debatida na Assembleia

A Empresa Mineira de Comunicação (EMC) vem sendo amplamente debatida na Assembleia desde maio deste ano. Inicialmente, a discussão tratava sobre os interesses do governo Zema em privatizar ou federalizar a empresa como forma de abater parte dos débitos com a União no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

O Executivo mineiro, no entanto, retirou o projeto de pauta após alegar que o governo federal não teria interesse em incorporar a EMC como forma de abater o débito de R$ 170 bilhões. A empresa foi substituída no plano pela Minas Gerais Participações (MGI).

As emissoras públicas do estado voltaram à pauta no fim de setembro quando o deputado Dr. Jean Freire (PT) acionou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pedindo a investigação do uso político da programação da emissora.

No caso específico, o deputado cita o programa “Opinião Minas” veiculado em 26 de setembro, edição em que o presidente estadual do Partido Novo, Christopher Laguna, foi entrevistado.

O registro do “Opinião Minas” de 26 de setembro mostra o apresentador do programa fazendo um preâmbulo elogioso ao Partido Novo antes de iniciar a entrevista com Laguna.

“O novo é algo que transforma, que muda, que contrasta, que é propositivo, que é conceitual, transformador, moderno. E foi assim, em 2011, que alguns homens decidiram se unir. Todos eles em comum, eram homens ficha limpa e tinham uma postura ilibada, um comportamento sério e o desejo de transformar indignação em ação. Foi assim que lá atrás, em 2011, surgiu no horizonte um novo partido político no Brasil, o Partido Novo”, disse ao abrir o programa.

Jean Freire estava presente na audiência pública desta quinta-feira e trouxe o fato à tona. Também estava na sessão Jacques Leal, o apresentador do “Opinião Minas”, que se defendeu com argumentos religiosos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.