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Com voto de Zanin, STF condena Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe de Estado

Com quatro votos a favor da condenação e um contrário, instância superior confirmou a maioria formada pelo voto da ministra Cármen Lúcia nesta quinta-feira (11)

Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados por tentativa de golpe de Estado e mais quatro crimes nesta quinta-feira (11). Votaram a favor da condenação os ministros Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma, Cármen Lúcia, Flávio Dino e o relator, Alexandre de Moraes.

Zanin afirma que provas comprovam intenção dos acusados em romper o Estado Democrático de Direito.

O único divergente foi Luiz Fux, que absolveu Bolsonaro de todas as acusações e condenou apenas Mauro Cid e Braga Netto por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Em relação aos demais, o ministro também escolheu a absolvição.

Os crimes são:

  • Organização criminosa armada;
  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Golpe de Estado;
  • Dano qualificado pela violência e ameaça grave;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

No caso do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Moraes pediu a condenação apenas pelos três primeiros crimes. Isso porque a Câmara dos Deputados aprovou a suspensão penal para atos cometidos após o início do mandato parlamentar.

Durante seu voto, Cármen Lúcia, por sua vez, defendeu que houve “prova cabal” no processo produzida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre os crimes. Ela também defendeu que os atos de 8 de janeiro não foram “isolados” e que houve tentativa de golpe de Estado e planos de assassinato de autoridades.

Cármen Lúcia nega que o julgamento tenha saído “rápido demais” e reforça a gravidade dos atos que estão sendo analisados. A ministra ainda completa: “Não dá pra comparar o mundo do passado com o mundo de agora”.

Apesar da maioria, o ministro Luiz Fux apresentou um voto totalmente divergente. Em quase 14 horas, defendeu a absolvição de Bolsonaro e de cinco réus de todas as acusações.

Fux decidiu condenar apenas Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, pelo crime de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Quem são os réus

Além de Bolsonaro, são réus:

  • Alexandre Ramagem, deputado e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
  • Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
  • Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.

Voto de Moraes

Durante seu voto, Moraes afirmou que Bolsonaro foi o líder da tentativa de golpe e que a organização criminosa atuou de forma hierarquizada entre julho de 2021 e 8 de janeiro de 2023.

O voto do relator durou cerca de cinco horas e ele utilizou quase 70 slides para apresentar um retrospecto que começou com os primeiros ataques às urnas eletrônicas, em 2021, e culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes.

Segundo Moraes, a mera tentativa já configura crime de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

“Ninguém, na história da humanidade, viu golpista que deu certo se colocar no banco dos réus”, afirmou.

O ministro afirmou, durante a leitura de seu voto, que o país quase voltou a ser uma ditadura após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

Voto divergente

Por outro lado, Fux defendeu que não há provas suficientes para incriminar Bolsonaro e a maioria dos réus. Para ele, não ficou demonstrada a liderança de Bolsonaro ou sua participação direta nas ações investigadas.

Fux dividiu a acusação em três frentes: a chamada “Abin Paralela”, ações contra o sistema eleitoral e a tentativa de golpe. Em todos os casos, concluiu pela falta de provas. Sobre as críticas ao sistema eleitoral, defendeu que não configuram crime, já que a lei exige a presença de violência para caracterização.

Além disso, Fux acolheu um pedido das defesas, conhecido como preliminar, e afirmou que o STF não tem competência para julgar o caso, pois os réus não possuem foro privilegiado.

Com isso, Fux defendeu a anulação de todos os atos do processo. Apesar de seu voto, com a maioria já formada, o julgamento segue agora para os votos finais dos ministros Cristiano Zanin e Luiz Fux.

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Jornalista pela UFMG, Lucas Negrisoli é editor de política. Tem experiência em coberturas de política, economia, tecnologia e trends. Tem passagens como repórter pelo jornal O Tempo e como editor pelo portal BHAZ. Foi agraciado com o prêmio CDL/BH em 2024.
Jornalista pela UFMG, com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia, já atuou na produção de programas da grade, apuração e na reportagem da Central de Trânsito Itatiaia Emive. Atualmente, contribui como repórter na editoria de política.
Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio
Repórter de política em Brasília, com foco na cobertura dos Três Poderes. É formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) e atuou por três anos na CNN Brasil, onde integrou a equipe de cobertura política na capital federal. Foi finalista do Prêmio de Jornalismo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2023.
Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.