Com fim do ano às portas, privatização da Copasa terá terça-feira decisiva na ALMG

Projeto está pautado na Assembleia na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária, última etapa antes de chegar ao plenário para votação definitiva

A imagem dos servidores da Copasa na galeria do plenário da Assembleia se tornou comum nos últimos meses

A privatização da Copasa terá nesta terça-feira (8) um dia decisivo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O texto enviado à Casa pelo governador Romeu Zema (Novo) está na Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO), última etapa antes da votação em plenário em segundo turno, quando pode ser definitivamente aprovado. O tema também estará em debate em uma audiência pública para discutir o futuro do fundo previdenciário dos servidores da companhia.

O andamento das discussões sobre a Copasa nesta terça-feira será um importante indicador sobre a chance de o projeto ser votado ainda em 2025 ou se a pauta invadirá o ano eleitoral. As últimas reuniões da FFO marcadas para votar o parecer da comissão acerca do Projeto de Lei (PL) 4.380/2025 foram desmarcadas na última semana.

Na terça-feira passada (2), o projeto foi aprovado em primeiro turno e seguiu sua tramitação com o envio da pauta para a FFO como etapa anterior à votação definitiva em plenário. A comissão se reuniu na manhã da quinta-feira (4), quando o deputado governista Zé Guilherme (PP) foi designado como relator e distribuiu seu parecer em avulso. Uma nova reunião foi marcada para o fim da tarde do mesmo dia para a discussão do texto.

A reunião da quinta foi cancelada, uma nova sessão foi marcada para a manhã do dia seguinte e, novamente, não aconteceu. Com dezenas de emendas apresentadas ao projeto pela oposição, a base governista optou por adiar o debate.

Os possíveis cenários dos próximos passos

Caso a FFO marcada para terça seja aberta e o parecer votado, a privatização da Copasa pode ser pautada em plenário, o que deve acontecer já na quarta-feira (9). Uma vez pronto para votação no segundo turno, o regimento da Assembleia prevê que sejam reservadas seis reuniões para discussão da matéria. O texto pode ser votado em uma delas, mas nesta fase há a previsão de mais instrumentos para que a oposição use seu tempo de fala e obstrua a pauta.

O que costuma ocorrer neste cenário é a marcação de reuniões extraordinárias que são abertas e fechadas rapidamente como forma de esgotar as seis sessões de discussão e reduzir a margem para que a oposição trave a votação usando seus tempos de fala.

As reuniões são marcadas, costumeiramente, para as 10h, 14h e 18h. Neste ritmo, as sessões de plenário de quarta (10) e quinta-feira (11) podem ser destinadas apenas ao esgotamento da fase de discussão.

Uma reunião para a votação, efetivamente, pode ser marcada para a sexta-feira (12), embora o plenário da Assembleia costume funcionar apenas de terça a quinta-feira. Em um cenário mais conservador, é possível que o projeto só seja votado em 16 de dezembro, a três dias do recesso de fim de ano na Casa.

Quando o projeto vai ser votado é um fator importante tanto na programação da base de Zema na Assembleia como na da oposição. Os governistas querem resolver a situação ainda neste ano, entregar ao Executivo a resolução de uma das pautas prioritárias da gestão e evitar um debate desgastante em ano eleitoral.

Já à oposição interessa justamente arrastar o debate o mais próximo possível do momento dos mineiros irem às urnas. Os deputados apostam na tese de que uma parcela significativa dos moradores do estado rejeita a privatização para conseguir virar votos de parlamentares da situação preocupados com um possível impacto eleitoral da aprovação do PL 4.380/2025.

Conforme previsto na Constituição de Minas Gerais, a aprovação de um projeto de privatização de estatais que prestam serviço de saneamento exige quórum qualificado de três quintos da Casa. Portanto, são necessários votos favoráveis de 48 dos 77 deputados da Assembleia. No primeiro turno, a proposta foi aprovada com 50 votos.

Oposição apresenta emendas

A análise das emendas apresentadas pela oposição foi apontada como a razão para o adiamento das reuniões da FFO em dois dias consecutivos na última semana. Conforme mostrou a Itatiaia, parte das propostas causou preocupação na base governista, que considera os textos como impeditivos para a viabilidade da desestatização.

Quatro emendas específicas do Bloco Democracia & Luta propõe a criação de prerrogativas para a empresa interessada em arrematar a Copasa. Elas preveem impedimentos para organizações que não cumprirem com quesitos de participação prévia na companhia de saneamento, endividamento e eficiência na prestação de serviços de água e esgoto.

As emendas determinam o seguinte:

  • Fica proibida a venda para empresas que, durante o ano de 2025, tenham adquirido e/ou vendido mais que 3% das ações ordinárias da empresa;
  • Fica proibida a venda para empresas que detenham concessão de serviço público de fornecimento de água, esgoto e saneamento e que em 31/12/2025 não cumpram 95% do fornecimento de água e 90% de coleta e tratamento de esgoto em suas áreas de concessão;
  • Fica proibida a venda para empresas que tenham endividamento superior ao seu patrimônio ou dívida líquida superior a R$ 10 bilhões;
  • Fica proibida a venda para empresas que tenham em sua direção membros que já integraram a administração da Copasa desde 2024.

Municípios entram no debate

A Associação Mineira de Municípios (AMM), representante de 837 das 853 cidades do estado, anunciou que irá apresentar emendas ao projeto. A medida tem potencial para atrasar a tramitação da privatização na Assembleia.

Em um café da manhã com a imprensa na última sexta-feira (5), o presidente da agremiação, Luís Eduardo Falcão (sem partido), afirmou que as emendas estão em fase de preparação e serão apresentadas para discussão dos líderes da Casa durante o debate em plenário.

Se as emendas apresentadas em plenário forem aceitas pela direção da Casa, o projeto precisa necessariamente retornar à comissão em que o texto foi debatido antes de ir a plenário. Neste cenário, uma eventual votação em segundo turno se aproxima cada vez mais do dia 19 de dezembro, o último antes do recesso de fim de ano.

Audiência pública debate previdência dos servidores da Copasa

Também nesta terça-feira, acontece na Assembleia uma audiência pública para debater o futuro do fundo previdenciário da Copasa. Com um débito de R$ 1,7 milhão, não há no projeto de privatização uma determinação específica para a reserva necessária para gerir a aposentadoria dos servidores da companhia.

A audiência está marcada para as 16h na Comissão de Administração Pública da Assembleia. A sessão foi marcada a partir de um requerimento do deputado da oposição Professor Cleiton (PV) e tem como um dos convidados o presidente da Copasa, Fernando Passalio.

A Copasa no Propag

O PL 4.380/2025 teve sua tramitação precedida por uma atribulada discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, também de autoria de Zema, que derrubou a exigência de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa.

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados, incluindo os imóveis do estado.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido. Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado. A venda da Copasa é defendida como forma de obter recursos para fazer tais investimentos no primeiro ano de adesão ao Propag.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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