O anúncio do Ministério dos Transportes de que pretende acabar com a obrigatoriedade das aulas teóricas e práticas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) desencadeou forte reação do setor de autoescolas e de parlamentares. A Federação Nacional das Autoescolas (Feneauto) iniciou uma articulação política para barrar a proposta, mobilizando lideranças no Congresso e dialogando com o governo.
A ofensiva começou com reunião com a ministra Gleisi Hoffmann, que sinalizou não se tratar de uma iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas de uma ideia do ministério. Em seguida, a Feneauto buscou espaço no Legislativo: uma audiência pública foi realizada nesta terça-feira (2) e, nesta quarta (3), o tema será debatido em Comissão Geral no Plenário da Câmara.
O deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) defendeu o movimento das autoescolas:
“Eu estou apoiando integralmente esse
Na mesma linha, o deputado Zé Neto (PT-BA) destacou o impacto social e econômico do setor:
“São 15 mil autoescolas no Brasil, gente.
O representante do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais (SINDCFC-MG), Alessandro Dias, reforçou que os anúncios já causam prejuízos:
“Muitas empresas estão amargando enormes prejuízos, já que com os anúncios as pessoas estão deixando de procurar as autoescolas para iniciar o processo de habilitação. O que a gente está aqui hoje no movimento é justamente promover um diálogo com o governo, conseguimos aí uma das poucas situações onde o governo e a oposição discutiram juntos mudanças e melhorias que possam acontecer, porque é uma pauta de convergência e que impacta o Brasil de forma profunda. Então a gente espera que o governo possa rever essa posição e que possa discutir para que a gente chegue numa posição que atenda a todos os lados.”
Já o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, defendeu a proposta do governo como uma medida de inclusão social:
“O projeto tem um objetivo de baratear o custo da primeira habilitação no Brasil, permitindo a inclusão de cerca de 20 milhões de pessoas que já estão dirigindo hoje sem CNH e de mais uns 30 milhões de pessoas que se manifestam com vontade e interesse em ter a primeira CNH, mas não têm condições. A gente sabe que a CNH é a porta para o primeiro emprego e o projeto não tem o interesse de acabar com a autoescola. A autoescola vai deixar de ser obrigatória porque nós vamos dar ao cidadão alternativas.”
O Ministério dos Transportes informou ainda que, após a conclusão da minuta do projeto, o texto será submetido a consulta pública para que sociedade civil, entidades do setor de mobilidade e representantes do setor produtivo apresentem contribuições.
De acordo com cálculos do setor, estão em risco R$ 14 bilhões anuais e 300 mil empregos. O governo, por outro lado, insiste que a flexibilização democratiza o acesso à CNH, cujo custo médio gira em torno de R$ 3,2 mil, dos quais R$ 2,5 mil ficam com as autoescolas.