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Governo Lula não tem interesse em federalização da UEMG, afirmam professores

Professores da universidade se reuniram nesta quarta-feira (28) em frente à ALMG pedindo o arquivamento de um projeto que transfere a gestão da UEMG para a União

Estudantes e docentes se concentraram no hall lateral da ALMG.

O governo do presidente Lula (PT) não está interessado em assumir a gestão da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), de acordo com o presidente da Associação de Docentes da UEMG, Túlio Costa. Para a Itatiaia, ele explica que esteve na terça-feira (27) no Congresso, em Brasília, e o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron de Oliveira, foi “enfático” ao mostrar o desinteresse da União em gerenciar a instituição.

Se fosse uma proposta de federalização, iria partir do próprio governo federal. O próprio secretário foi enfático ao dizer que não é a intenção do governo de receber uma autarquia [...] Na nossa avaliação, não se trata de uma proposta de federalização, mas sim de extinção da UEMG”.
— explicou para a reportagem.

Nesta quarta-feira (28), professores da universidade realizaram uma paralisação e uma reunião geral em frente à Assembleia Legislativa (ALMG), pedindo o arquivamento do projeto 3738/2025, de autoria do governador Romeu Zema (Novo). O grupo também se manifestou contrário a outro texto — que também tramita na Casa — que permite que o governo transfira à União imóveis que são do Estado, entre eles, bens que pertencem a UEMG.

As duas propostas integram um “pacote” de projetos, enviados por Zema, para viabilizar a adesão de Minas ao Programa Pleno de Pagamento da Dívida dos Estados com a União (Propag).

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A vice-presidente da Aduermg e professora do campus Passos, Camila Moura, explica para Itatiaia que a instituição não foi procurada formalmente para discutir as propostas que envolvem a universidade.

De acordo com ela, a reitoria foi “pega de surpresa” com os projetos que a Aduermg considera inconstitucionais. “Nosso maior problema é a falta de autonomia universitária. Esse PL passa por cima, inclusive, do Conselho Universitário, nossa maior instância deliberativa. Sem gestão patrimonial, ficamos em um limbo jurídico muito grande”, disse.

Na assembleia-geral, os professores votaram, por unanimidade, pela criação de um comitê — formado pela mesa executiva da Aduermg e por docentes voluntários — que ficará responsável por conversar com todos os deputados estaduais para impedir que os textos avancem na Assembleia. “Não há como corrigir o incorrigível. O PL 3738 aponta a extinção da UEMG. Nós estamos dialogando com alguns parlamentares e vamos fazer pressão na base de todos os deputados espalhados por Minas Gerais para que eles não votem, não avancem com o texto aqui na Assembleia. Queremos o arquivamento e esse é o nosso diálogo”, declarou Túlio Costa.

A professora Liliana Borges, da Faculdade de Educação da UEMG, também acompanhou a mobilização. Para a reportagem, ela teme que se imóveis da universidade forem transferíveis, os serviços ofertados pelas unidades e também a qualidade do ensino sejam afetadas. “Ao mesmo tempo que o governador quer ceder, quer colocar os imóveis disponíveis para a União, ele também não resolve o problema próprio, da instituição, que já tem uma demanda enorme por espaço. Ao contrário, ele [Zema] destina aos imóveis que a UEMG tem para pagar dívidas com juros, que aumentou durante o seu próprio governo” detalhou.

Ela cita ainda o exemplo do novo campus da UEMG em Belo Horizonte. A unidade, que será construída na avenida José Cândido da Silveira, na região Leste da capital, em um terreno de 90 mil metros quadrados. O plano para a expansão da universidade existe desde 1999, quando o espaço foi doado à instituição. “A maioria dos nossos estudantes são de escolas públicas, do próprio vestibular da UENG. Temos um alcance regional muito grande, muito diferente das universidades federais que tem em Minas Gerais. A UEMG acolhe, atua em outra esfera, com um público com muito mais demanda social. Um projeto que não valoriza a própria universidade do Estado é um absurdo”, disse.

A federalização da UEMG é um dos doze projetos apresentados pelo vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), que viabilizam a adesão ao Propag. De acordo com ele, entregar a UEMG para a União resultaria em um abatimento de R$ 500 milhões na dívida do Estado, que está na casa de R$ 165 bilhões.

Isso não é nem 1% do valor da dívida. Nós acreditamos que isso é uma negociata mesmo, com o intuito de privatizar a universidade, extingui-la do jeito como ela está hoje organizada”.
— disse Camila Moura, vice-presidente da Aduermg.

A Itatiaia procurou o governo federal para questionar sobre o posicionamento da União sobre a transferência da gestão da UEMG, mas, até o momento, não tivemos retorno.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.