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Oposição anuncia Eduardo Bolsonaro como líder da minoria na Câmara

Deputado está morando nos Estados Unidos para pressionar uma anistia ao pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro está nos EUA

A oposição na Câmara dos Deputados anunciou nesta terça-feira (16) a nomeação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a liderança da Minoria na Casa. O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro está morando nos Estados Unidos.

Para isso, a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) renunciou ao cargo e assumiu a posição de vice-líder. A nomeação já foi oficializada pela Mesa Diretora da Casa.

Em nota, a deputada De Toni disse que a decisão reflete “firmeza e dedicação por parte de Eduardo Bolsonaro ao país” e destacou que o gesto “demonstra equilíbrio entre os poderes”.

Com a decisão, o partido tenta driblar a perda do mandato do deputado por faltas. Isso permite que ele atue à distância. Nas sessões deliberativas e votações da Casa, as ausências dos líderes serão justificadas.

Ao explicar a decisão, a deputada afirmou que se trata de um gesto de “união e coragem” diante das “perseguições políticas” sofridas por Eduardo Bolsonaro, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelos investigados nos eventos de 8 de janeiro. “Acima de qualquer interesse pessoal ou partidário, existe o compromisso com a nação brasileira e a defesa da liberdade, da Constituição, da soberania e do futuro do Brasil”, disse. Logo após, a oposição anunciou a nomeação de De Toni como primeiro vice-líder da Minoria , garantindo sua participação ativa na condução da bancada.

Base regimental e críticas ao STF

O deputado federal Zucco (PL-RS) detalhou a fundamentação regimental da mudança. Segundo ele, a decisão respeita o ato da Mesa de 2015, que assegura a prerrogativa de atuação à distância de líderes partidários, inicialmente restabelecida pela iniciativa da então deputada Mara Gabrilli.

Zucco argumentou que, a partir desse embasamento, Eduardo Bolsonaro exercerá atribuições de liderança mesmo residindo atualmente nos Estados Unidos, onde, segundo aliados, vive em “autoexílio” por conta de “perseguições políticas”. Carol De Toni reforçou que existem meios tecnológicos, como videoconferência, para garantir a participação plena remota do novo líder.

Paralelamente, parlamentares da oposição aproveitaram o coletivo para reiterar críticas às recentes decisões do Supremo Tribunal Federal. Foram feitas menções diretas a julgamentos durante a reunião de 8 de janeiro, consideradas “incompetência absoluta” pela bancada, e as supostas práticas de “monitoramento” de votos parlamentares por ministros da Corte.

Pauta legislativa: urgência da Anistia e defesa de prerrogativas

A primeira iniciativa anunciada sob a liderança de Eduardo Bolsonaro será a articulação pela votação da anistia aos interessados nos atos de 8 de janeiro . De acordo com o deputado Zucco, a urgência do tema já foi acordada com a Presidência da Câmara e deverá ser colocada na votação “amanhã".

A deputada Bia Kicis defendeu uma “anistia ampla, geral e respeitada”, destacando paralelos históricos com processos de reconciliação nacional. Carol De Toni, por sua vez, associou a pauta das anistias à necessidade de resguardar o artigo 53 da Constituição, que trata da imunidade parlamentar.

Além disso, a oposição pretende retomar debates sobre prerrogativas parlamentares e propor medidas de reequilíbrio entre Legislativo e Judiciário. Ainda nesta semana, haverá reunião de líderes para discutir a Medida Provisória que trata da tarifa social de energia elétrica, ponto em que há divergências com partidos do centro, como o MDB.

Liderança remota e implementação prática

A bancada anunciou que solicitará à Mesa da Câmara uma regulamentação de mecanismos tecnológicos para que Eduardo Bolsonaro possa discursar e encaminhar durante as sessões. Caberá aos vice-líderes, especialmente Carol De Toni, representar-lhe-á as graças em que a presença física em plenário para participação.

“Existem precedente da pandemia que permite esse funcionamento híbrido. Essa não é uma brecha, é regimental”, afirmou De Toni, acrescentando que Eduardo só não pisa no Brasil devido ao risco de novas ações judiciais.

Defesa de votação secreta

Outro tema levantado durante a coletiva foi a defesa da manutenção do voto secreto em determinadas deliberações regimentais, especialmente quando se trata de decisões sensíveis relacionadas ao Judiciário. O deputado Sóstenes Cavalcante afirmou que a modalidade não deve ser visto como constrangimento, mas sim como uma proteção para que parlamentares possam exercer seus mandatos “sem perseguições”.

Carol De Toni reforçou o argumento, lembrando que os parlamentares da oposição têm sido alvo de investigações e monitoramento. Segundo ela, a votação secreta garantiu liberdade de posicionamento em “momentos decisivos para a democracia”.

Próximos passos

  • Formalização da nomeação de Eduardo Bolsonaro como líder e de Carol De Toni como vice-líder da Minoria, com envio de documentação à Presidência da Câmara.
  • Protocolo e articulação para votação da urgência da anistia já nesta quarta-feira.
  • Discussão da Medida Provisória sobre a energia elétrica na reunião de líderes.
  • Encaminhamento de propostas ligadas às prerrogativas parlamentares ainda “hoje”, segundo acordo interno.

O PL se compromete a disponibilizar à imprensa integralmente o ato da Mesa de 2015 que respalda a mudança de liderança à distância. Ainda resta a confirmação formal de Hugo Motta, presidente em exercício da Câmara, e publicação no Diário Oficial da Casa.

Deputado nos EUA

Eduardo Bolsonaro se licenciou do mandato de deputado federal e mudou-se para os Estados Unidos. Lá, junto a integrantes do governo Donald Trump, tem articulado pedidos de sanções contra o Brasil para pressionar pela anistia do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e por retaliações ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Eduardo é investigado por essa atuação.

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Pressão por anistia

Enquanto isso, o deputado Zucco (PL-RS) anunciou que a votação do requerimento de urgência do projeto de anistia está marcada para esta quarta-feira (17). Segundo ele, tanto a urgência quanto o mérito da proposta — que prevê anistia a investigados e condenados por atos de 8 de janeiro — serão analisados pelo plenário.

Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.
Jornalista com trajetória na cobertura dos Três Poderes. Formada pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), atuou como editora de política nos jornais O Tempo e Poder360. Atualmente, é coordenadora de conteúdo na Itatiaia na capital federal.