Ouvindo...

Zema insinua que governo Lula enviou PF à loja de sua família por questões políticas

Governador de Minas acusou governo federal de enviar viaturas à empresa familiar; Ministério do Trabalho nega operação em Lojas Zema

Governador Romeu Zema afirmou que lojas de sua família foram alvos de operação da PF

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), insinuou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou sete viaturas da Polícia Federal à loja de sua família em fevereiro por questões políticas ligadas à eleição de 2026.

Em entrevista à Revista Oeste, na noite de quinta-feira (22), Zema respondeu se esperava, nas palavras de um dos entrevistadores, por alguma “pegadinha, boicote ou armadilha” do governo federal por conta da disputa eleitoral de 2026, que os colocará em lados opostos, para “minar uma eventual candidatura” do governador à Presidência da República.

Zema afirmou que a operação aconteceu em meados de fevereiro e diz desconhecer a motivação.

“Dois meses atrás chegaram lá sete veículos da Polícia Federal. Nunca na história da empresa, que tem mais de 100 anos, teve uma fiscalização desse jeito. Chegou lá o Ministério do Trabalho acompanhado de sete viaturas da Polícia Federal”, disse Zema.

Os jornalistas que conduziam a entrevista chegaram a demonstrar surpresa com a afirmação de Zema e questionaram quando a operação aconteceu. “Isso foi em fevereiro”, respondeu o governador. Um dos entrevistadores respondeu. “Então foi no governo Lula?”.

“Exatamente. Agora em fevereiro. Chegaram lá para fazer conferências”, respondeu o governador.

Outro entrevistador questiona. “Mas o senhor tem elementos para dizer que foi uma perseguição política?”, e Zema respondeu: “Deixo para vocês concluírem”.

Romeu Zema ainda afirmou que a empresa, que tem mais de 100 anos, nunca passou por uma situação parecida. “A empresa tem 102 anos. Nunca entraram lá com força policial. A empresa está sempre aberta, sempre foi fiscalizada. É uma das melhores empresas para se trabalhar em Minas Gerais”, reclamou Zema.

Uma terceira jornalista pergunta. “Qual a alegação foi apresentada?”, e Zema respondeu: “Fiscalização de praxe”. Logo depois, o governador de Minas Gerais afirmou que os policiais federais não encontraram nenhuma irregularidade na fiscalização, mas seguiram investigando: “Sabe para onde foram? Para as empresas terceirizadas”.

Ministério do Trabalho contradiz governador

Em contato com a Itatiaia, o superintendente do Trabalho de Minas Gerais, Carlos Calazans, negou que tenha havido fiscalização em lojas Zema, mas confirmou que uma transportadora terceirizada, prestadora de serviços para a rede, foi autuada após serem encontrados 22 trabalhadores em condições análogas à escravidão.

A operação foi interrompida por decisão judicial inédita da Comarca de Araxá, mas o processo continua e a empresa deve entrar na próxima “lista suja” de trabalho escravo.

“O Ministério do Trabalho e a Superintendência, o Jornal do Trabalho vêm a público a afirmar que não são verdadeiras as informações prestadas pelo governador de Minas, Romeu Zema, nesta entrevista. Imagine sete viaturas da Polícia Federal para fiscalizar uma loja? Se você considerar que cada viatura tem até dois membros, ou três, seria 14 ou 21 policiais federais para fiscalizar uma loja do Grupo Zema. Não são verdadeiras suas informações, governador”, afirmou o superintendente.

“O governador não tinha o direito de vir à público, em uma entrevista, achar que está sendo perseguido. Nós nunca agimos por isso, nossos auditores e, particularmente, o Ministério do Trabalho em Minas Gerais, agem com maior rigor, com a maior seriedade nas nossas fiscalizações, são coisas sérias, envolvem trabalhadores”, continuou.

Calazans esclareceu, ainda, que a operação foi acompanhada por seis agentes da Polícia Rodoviária Federal. “Fomos verificar uma denúncia de trabalho análogo à escravidão na transportadora que atende o Grupo Zema na cidade de Araxá. O que encontramos? Nós encontramos, em uma transportadora que presta serviço de transporte para o Grupo Zema, 22 trabalhadores trabalhando em jornada exaustiva”, explicou.

Lojas Zema e governo de MG

Procurado para comentar as declarações de Zema, a assessoria de imprensa do governo de Minas afirmou que, por se tratar de uma questão de cunho pessoal, o Estado não responderia e o governador deveria responder como “pessoa física”.

A Itatiaia também entrou em contato com a Polícia Federal para buscar informações sobre a operação citada, ainda sem retorno. A reportagem procurou ainda o Grupo Zema, pedindo posicionamento sobre a ação. A reportagem será atualizada com os posicionamentos caso sejam enviados.

Jornalistas pedem detalhes

Na sequência da entrevista, os entrevistadores insistem no assunto e perguntam a Romeu Zema se ele tem certeza de que se tratavam de viaturas da Polícia Federal. O governador confirma.

“Isso causa uma surpresa. O senhor tem conhecimento de algum inquérito aberto para investigar a empresa?”, questiona um jornalista.

Neste momento, o governador de Minas Gerais dá a entender que tem conhecimento de investigações envolvendo uma das terceirizadas. “Contra nossa empresa, não [há inquérito]. Contra os terceirizados, parece que tem lá alguma coisa que eles estão tentando, mas aí já é outra empresa, já não acompanho mais”.

O governador finaliza sua fala sobre o assunto dizendo que a operação da PF que ele diz ter envolvido a loja de sua família durante o governo Lula “é uma coincidência”.

Leia também

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.