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Glauber Braga vê cassação como perseguição de Lira e aposta em postura diferente de Motta

O deputado escolheu BH como pontapé inicial de uma caravana que irá passar por todos os estados do Brasil para defender o mandato, finalizando o percurso em Brasília

Deputado foi recebido com cantos indígenas de estudantes das etnias Xakriabá e também Pataxó.

Alvo de um processo de cassação na Câmara dos Deputados, Glauber Braga (PSOL-RJ), acusa o ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de orquestrar uma “perseguição” contra ele, articulando, inclusive, com outros parlamentares.

Em entrevista para a Itatiaia, ele classificou Lira como uma “figura muito poderosa”, apesar de acreditar que ainda é possível reverter o cenário na Câmara, em parte por conta do atual presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB). “No momento específico em que ele deu um prazo de dois meses numa cassação — que já se desenhava sumária —, ele já agiu diferente do Lira, porque o Lira não faria isso. Ele queria uma cassação sumária”, disse à reportagem.

Cassação

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou, no dia 9 de abril, a cassação do mandato do parlamentar por 13 votos favoráveis e 5 contrários. Braga é acusado pelo partido Novo de ter expulsado da Casa, com chutes e empurrões, um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) — Gabriel Costenaro — no ano passado.

Segundo o deputado, as provocações contra ele eram antigas, mas, no dia do ocorrido, em específico, o alvo dos ataques teria sido a mãe dele, que faleceu um mês depois: “Imagina uma pessoa que, por sete vezes consecutivas, vá onde você está e xingue sua mãe, que está com Alzheimer avançado? Eu pergunto: quem reagiria de maneira diferente numa circunstância como essa? Nenhum deputado está ali votando para me cassar por conta disso, pois eles sabem que fariam algo parecido se sofressem esse tipo de provocação”, afirmou.

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Duas medidas

Apesar de acreditar que Lira é mais “truculento” do que Motta, o deputado considera que as ações contra ele não são “razoáveis” quando comparadas com as de outros parlamentares. “Não posso achar razoável que o Chiquinho Brazão [acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco] tenha ficado lá esse tempo todo sem ter o caso dele sequer julgado, enquanto o meu tem que correr porque eles querem, de qualquer forma, colocar em plenário”, declarou.

Para o deputado, a “história” irá mostrar a diferença entre Motta e Lira. “Vamos ver se ele quer ser o presidente que vai cassar injustamente um deputado que é desafeto de Lira ou não”, disse à Itatiaia.

Caravana pelo Brasil

Glauber Braga escolheu Belo Horizonte para começar uma “caravana” que irá percorrer todos os estados brasileiros em defesa do mandato. O convite foi feito pela também deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG).

Na Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o parlamentar foi recebido com cantos indígenas de estudantes das etnias Xakriabá e Pataxó.

Os deputados seguiram para a Arena da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH) da UFMG, onde aconteceu um ato simbólico com movimentos sociais. Os vereadores Luiza Dulci (PT) e Bruno Pedralva (PT), a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) e o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) também estiveram presentes.

Para a Itatiaia, Célia disse que a “ameaça” ao mandato de Glauber não é individual, mas atinge também outras lideranças. “Todo mundo teria que estar preocupado porque, certamente, isso abre um precedente não somente para o campo progressista, mas também para todo o Parlamento brasileiro. Estamos vivenciando um ‘necroparlamento’: é escolhido quem pode falar e quem não pode falar, quem vai votar projetos e quem será ameaçado”, disse à reportagem.

O objetivo do deputado é percorrer diversas cidades do Brasil até o dia 26 de junho, coincidentemente o dia do seu aniversário, quando pretende retornar a pé, fazendo alguns trechos de ônibus, até Brasília.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.