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Projetos da ala conservadora da Câmara de BH devem ser sancionados por Damião

Leitura da Bíblia nas escolas e data para métodos contraceptivos naturais são iniciativas aprovadas pela Câmara após projetos da bancada conservadora na capital

Câmara de BH aprovou recentemente dois projetos polêmicos da ala conservadora

Dois projetos de lei aprovados recentemente pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, ambos de autoria de vereadores da ala conservadora, seguem para avaliação do prefeito Álvaro Damião (União Brasil).

As propostas tratam da leitura da Bíblia como recurso paradidático em escolas públicas e privadas da capital e da criação do Dia Municipal de Incentivo aos Métodos Contraceptivos Naturais.

Os dois textos devem ser sancionados, já que Damião fez sinalizações recentes de que está disposto a dialogar com todos os grupos políticos e não impor vetos com base em posicionamentos ideológicos. “Não é vetar por vetar. Vetar porque é da direita, vetar porque é da esquerda. Não, não tem nada disso. E isso no nosso mandato não vai acontecer”, afirmou o prefeito.

Leitura da Bíblia nas escolas

O primeiro projeto, aprovado em segundo turno com 28 votos favoráveis, oito contrários e duas abstenções, autoriza o uso da Bíblia como material paradidático nas escolas. A proposta é da vereadora Flávia Borja (DC), vereadora com atuação considerável em pautas cristãs, e que diz que o texto não impõe obrigatoriedade.

“Na verdade, não é um recurso didático, mas a diferença toda é essa, é um recurso paradidático. E essa faz toda a diferença, porque não é algo obrigatório. A gente está falando de algo que pode ser consultado, como fonte de riqueza, de informação, de conhecimento”, explicou.

O projeto prevê que as passagens bíblicas sejam usadas para contribuir com conteúdos nas áreas de história, literatura, ensino religioso, artes e filosofia. Também garante que nenhum aluno será obrigado a participar das atividades relacionadas à proposta.

Alguns vereadores tentaram incluir uma emenda para impedir viés religioso nas aulas, mas a sugestão foi rejeitada. O vereador Pedro Patrus (PT) se posicionou contra a iniciativa: “Estou me sentindo no século 19, 18, onde o Estado não era separado da religião, era uma coisa só. E nós, com esse projeto, é uma tentativa de voltar a essa confusão que era um Estado misturado com a religião”, disse à época.

Métodos contraceptivos naturais

Outro projeto aprovado pela Câmara — este em turno único — propõe a criação de um dia municipal para incentivar os métodos contraceptivos naturais. A proposta do vereador Uner Augusto (PL) foi aprovada com 22 votos favoráveis, 11 contrários e quatro abstenções. A data escolhida é 7 de julho.

A justificativa é promover o debate sobre técnicas como o método Billings e o método Creighton, que se baseiam na observação do muco cervical para identificar o período fértil da mulher.

Durante o debate do tema no plenário, vereadores críticos ao texto argumentam que a proposta pode estimular comportamentos de risco. “Vamos ter muitas famílias com filhos indesejados. Se incentivarmos que as pessoas deixem de usar camisinha, elas vão contrair ISTs”, disse a vereadora Iza Lourença (PSOL).

Para Juhlia Santos (PSOL), o projeto ignora a diversidade familiar e a complexidade da sexualidade: “É um projeto que reduz a complexidade da sexualidade humana a um ideal restrito de casamento. Ignora outros arranjos familiares que existem”.

O autor do projeto rebateu as críticas. “É um projeto muito válido. Primeiro porque, se não fosse um projeto de lei como esse, não teríamos uma discussão como a de hoje”, defendeu Uner Augusto. “O projeto apenas cria um dia municipal, não estabelece política pública. Sei muito bem o que podemos ou não fazer”, completou.

Sinal verde do Executivo?

Em agenda durante a semana com seu secretariado, Álvaro Damião afirmou que sua administração não deve barrar projetos aprovados pela maioria dos vereadores, desde que não tenham impacto financeiro. “Sobre esses projetos que não têm impacto no orçamento da prefeitura, que decida pela maioria”, disse o prefeito.

Segundo o prefeito, a ideia é governar sem pensar no viés político dos projetos que passam pelo Legislativo. “Belo Horizonte não é de grupo ‘A’, grupo ‘B’, não posso participar disso. Eu não tenho que governar para esse determinado tipo de classe ou de grupo, eu tenho que governar para todos e é isso que eu vou fazer, governar para todos, dialogar com todos”, afirmou.

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Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.