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Governo de Minas apresenta cronograma de obras para prédio do antigo DOPS em BH

Informações foram apresentadas durante audiência pública que discutiu a criação de um Memorial dos Direitos Humanos Casa da Liberdade no prédio que foi centro de tortura

O prédio está localizado na avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte.

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discutiu nesta quinta-feira (10), em uma audiência pública, a retomada das obras e a abertura do Memorial dos Direitos Humanos Casa Liberdade, no prédio do antigo Departamento de Origem Política e Social do estado (DOPS-MG).

O espaço, localizado na avenida Afonso Pena, no coração de Belo Horizonte, foi usado como centro de tortura de presos durante a ditadura militar no Brasil.

Na semana passada, o prédio foi ocupado por integrantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e da Unidade Popular (UP) na última semana que reivindicavam o uso público do espaço, como proposto pelo governo mineiro em 2018.

Neste período, o então governador Fernando Pimentel (PT), anunciou oficialmente o projeto de transformar o antigo DOPS-MG no Memorial dos Direitos Humanos Casa da Liberdade, visando homenagear os mortos, desaparecidos e presos políticos que lutaram contra a ditadura. O projeto, no entanto, não foi para frente.

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Sedese apresenta planejamento para abertura

A arquiteta da Subsecretaria de Políticas de Habitação, ligada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Marina Gabrielle Quintiliano, participou da audiência representando a secretária Alê Portela (PL).

Para a Comissão, ela apresentou uma linha cronológica do que estava previsto pela pasta:

  • Em 2019, é criado um grupo de Trabalho, com a UFMG, e também um contrato com a Fundação de Apoio da Universidade (Fundep) no valor de R$ 393.903,56.
  • Em 2020, a Sedese afirma que foram feitos diagnósticos que identificaram reparos emergenciais a serem feitos no prédio. A secretária afirma que foi investido R$ 119.940,00 na manutenção.
  • Em 2021, a pasta diz que abriu uma licitação para novos reparos, mas que não houve interessados.
  • Em 2022, novos reparos, no valor de R$ 242.024,22 foram feitos no edifício.
  • Em 2023, outros reparos foram feitos na edificação com investimentos de R$ 118.440,63.
  • Em 2024, a Sedese planejava uma inaugurar uma “tour virtual” pelo Museu antes que ele fosse presencialmente aberto ao público em 2025.

A arquiteta explica que algumas situações atrapalham os planos da secretaria. De acordo com ela, uma pessoa em situação de rua ateou fogo em um colchão perto do DOPS, o que provocou um incêndio em um padrão de energia, o que teria deixado o projeto de abertura ainda mais burocrático, afetando também os custos envolvidos, já que outros reparos precisariam ser feitos.

Diante dos imprevistos, um novo cronograma foi feito pela Sedese:

Segundo trimestre de 2025

  • Regularização energética
  • Cronograma físico-financeiro de projeto museológico

Terceiro trimestre de 2025

  • Reparos emergenciais

Quarto trimestre de 2025

  • Projetos executivos

2026

  • Obras estruturais
  • Obras arquitetônicas e acessibilidade
  • Montagem de exposições

Integrantes do Projeto Memorial de Direitos Humanos também estiveram na ALMG. Entre eles, a professora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Gabriela Pires Machado, que detalhou as propostas pensadas para o espaço:

  • A ideia seria derrubar os muros que cercam o prédio para facilitar o acesso, criando também uma praça pública sobre o antigo estacionamento para tornar o espaço mais acessível e também atrativo para a recriação e lazer.
  • Ela propôs também a instalação de um visor na fachada que fica em frente a avenida Afonso Pena que releve o lugar onde acontecia as prisões. “35 centímetros separavam a vida cotidiana da violência velada do estado entre 1964 e 1985" — segundo a professora, essa frase estaria escrita, visível para quem passasse pelo local, explicando que apenas uma parede [de 35 cm] separava quem passava de torturas que aconteciam durante a ditadura.
  • Dentro das instalações, recursos de áudios e vídeos, por exemplo, iriam ajudar os visitantes a imergirem na história da ditadura e nos crimes que aconteciam no prédio.

Movimentos pedem que Memorial seja o aberto o rápido possível

Renato Campos Amaral, representante do MLB, que esteve presente na audiência desta quinta-feira, defendeu a criação do espaço que ele afirma ser uma parte “viva” da história brasileira. Segundo ele, o prédio “preserva a memória” dos crimes cometidos durante o regime autoritário, o que precisa ser mantido pelo estado. “Queremos apenas abrir as portas para que as novas gerações possam também visitar o que foi aquele antigo DOPS e, agora, o Memorial Casa da Liberdade. Essa reivindicação é totalmente legítima para lembrarmos o que aconteceu na nossa história e que ainda é presente no nosso dia a dia”, disse o ativista.

‘Cerco’ policial

Representantes dos movimentos sociais usaram os microfones da Assembleia para pedir o fim de um “cerco” da Polícia Militar (PMMG) que estaria no prédio “monitorando” os militantes e impedindo a entrada e saída dos ocupantes.

A deputada, presidente da Comissão de Direitos Humanos, Bella Gonçalves (PSOL) disse que parlamentares já estão mobilizados, pensando em estratégias, para derrubar o cerco, que ela diz ser “ilegal”.

De acordo com ela, o governo será formalmente questionado sobre a ação e também de onde teria partido o comando para que ele acontecesse. “Quanto esse cerco está custando para Minas Gerais? Qual o número de polícias empenhados na realização do cerco? Não seria melhor o governo perceber que ali não está sendo feito nada de errado e que errado é o cerco”, disse a deputada.

Ministério Público pediu informações ao governo

O Procurador Adjunto Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF), Ângelo Giordini de Oliveira, afirmou que foi aberto um procedimento e ainda que a Sedese foi questionada sobre o processo de instalação do Memorial com o objetivo entender o que está dificultando a abertura do espaço.

O ofício foi enviado na segunda-feira (7) e a Sedese tem até dez dias para responder.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.