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Gestação de Isabel Veloso: oncologista explica acompanhamento de gravidez em pacientes com câncer

Influenciadora, Isabel Veloso, diagnosticada com câncer terminal anunciou que espera o primeiro filho; segundo médicos, levar a gestação até o fim será o maior desafio

Médico explica riscos sobre gravidez de Isabel Veloso, diagnosticada com câncer terminal.

Recentemente a influenciadora Isabel Veloso, de 18 anos, conhecida nas redes sociais por compartilhar seu dia a dia como paciente com câncer avançado e em cuidados paliativos, anunciou que está à espera do primeiro filho. A notícia surpreendeu seus fãs, já que a jovem foi diagnosticada com Linfoma de Hodgkin aos 15 anos. A influencer já contou em diversas entrevistas que teria expectativa de vida de seis meses definida pelos médicos. Recentemente, contudo, ela explicou que esse tempo não é certeiro e que a doença está estabilizada.

Lucas Borbas, marido de Isabel Veloso casados desde o dia 22 de abril, relatou que a decisão de ter um filho foi do casal e comentou sobre o estado de saúde da esposa em entrevista à Itatiaia. Apesar do diagnóstico de câncer terminal da influenciadora, ambos estão confiantes de que tudo dará certo.

Após a novidade, muitas dúvidas em relação à gestação foram levantadas nas redes sociais. A reportagem da Itatiaia conversou com o médico oncologista e oncogeneticista da Clínica Personal Oncologia de Belo Horizonte, Dr. André Murad, para entender melhor como funciona a gravidez em pacientes com o diagnóstico de câncer.

Segundo André, os desafios médicos nesse contexto são complexos. A principal preocupação, explica ele, é a saúde da gestante e do feto, especialmente quando os tratamentos paliativos podem incluir medicações ou procedimentos que impactam negativamente a gravidez.

Riscos para mãe e bebê

“A gravidez na presença de um câncer é sempre problemática, porque normalmente, o câncer é uma doença que, se não bem tratada, pode levar ao óbito”, afirma. “Uma vez disseminada, ela provoca uma série de situações de sofrimento, dor, efeitos ligados ou correlacionados à presença de metástase em vários órgãos.”

O uso de medicações, intervenções e a continuidade da gravidez também são discutidos de maneira multidisciplinar, com respeito à autonomia da paciente e às suas escolhas informadas.

“Um exemplo é a questão de anestesia. Se o paciente for retirar o tumor ou se ela passar pela radioterapia, isso pode ser problemático, porque a radiação pode ser muito tóxica, principalmente nas primeiras oito semanas que chamamos de formação do embrião”, diz o oncologista. “O tratamento sistêmico, geralmente à base de quimioterapia e eventualmente imunoterapia, pode ser extremamente prejudicial para a formação do feto”, explica.

“Vários medicamentos, principalmente analgésicos, alguns antibióticos, alguns medicamentos que chamamos de sintomáticos, eles podem atingir o feto ou embrião através da placenta e provocar efeitos colaterais graves, inclusive, malformação fetal”, diz. “Mesmo o tratamento paliativo, ou seja, aquele que não é o tratamento ligado diretamente ao câncer ou direcionado ao câncer, também pode ser prejudicial para o feto”, comentou ele.
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Cuidados adaptados

De acordo com André, o tratamento paliativo será afetado pela gestação, mas existem protocolos adaptados para o caso de gravidez em pacientes sob cuidados paliativos.

“A tomografia tem radiação, e não é recomendada, principalmente se for uma tomografia abdominal ou torácica. Existe ultrassom que não tem radiação e que pode ser feito nesses casos, além da ressonância, que também não tem radiação”, explica. “A gente estuda cada caso e, desde que haja proteção adequada, não há impedimento.”

O oncologista reforça que a quimioterapia, idealmente, não seja feita no primeiro trimestre de gestação, quando ocorre a embriogênese, já que o tratamento pode alterar a estrutura do DNA do feto.

No caso de pacientes em cuidados paliativos, André afirma que o médico vai usar sempre o que tiver de disponível para aliviar os sintomas e dar a melhor qualidade de vida possível para ela. “Por ser uma gravidez de risco, todos os profissionais — de obstetrícia, imagenologia, ultrassonografia, oncologia, paliação — têm que atuar em conjunto para dar uma a máxima paliação àquela paciente, com o mínimo de risco para ela e para o feto”.

Indicações

Para André Murad, de forma geral, não é recomendável que mulheres com o diagnóstico de câncer engravidem. "É importante que a mulher com câncer seja aconselhada a usar um método contraceptivo eficiente. Outra sugestão é congelar óvulos, para que faça inseminação artificial com acompanhamento médico após o tratamento”. Segundo ele, após quimioterapia e radioterapia, é recomendável que a mulher aguarde de seis meses a um ano para tentar engravidar.


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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.