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Qual a diferença entre cuidados paliativos e cuidados de fim de vida? Especialista responde

Após postar vídeo dançando, influencer Isabel Veloso, com câncer terminal, respondeu seguidora que questionou como ela poderia estar em cuidados paliativos e ter tanta energia

A influenciadora Isabel Veloso, que tem câncer terminal, postou, neste sábado (22), em seu Instagram, um vídeo em que aparecia dançando. Entre vários comentários comemorando que ela estava se sentindo bem, alguns seguidores questionaram como ela poderia estar em cuidados paliativos, se tinha energia suficiente para pular e dançar.

A uma dessas pessoas, Isabel respondeu: ‘não confunda cuidados de fim de vida com cuidados paliativos’.

A confusão dos conceitos não é incomum, segundo Flávia Dantas, especializada em Clínica Médica e pós-graduada em Cuidados Paliativos, atualmente preceptora da residência de Cuidados Paliativos do Hospital Risoleta Tolentino Neves.

Dantas explica que o conceito mais atual da Organização Mundial da Saúde de cuidados paliativos é uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e também das suas famílias. Esses pacientes são aqueles “que têm doenças graves, que ameaçam a continuidade da vida”, diz.

Leia mais: Como funcionam os cuidados paliativos no caso de crianças e adolescentes? Entenda

Não é raro associar cuidados paliativos a pacientes com câncer, de acordo com a médica, pois, quando surgiu a abordagem nos anos 1980, ela era realmente mais voltada para pessoas com neoplasias. “Mas o conceito foi se ampliando e, hoje, a necessidade de cuidados paliativos, para adultos, inclui aqueles com doenças cerebrovasculares, as demências, o HIV, falências de órgãos”, diz. A prática também pode ser voltada para pessoas que sofreram algum tipo de causa externa, como traumatismo craniano, ou seja, qualquer “paciente em situação que ameace a vida dele”.

Cuidados paliativos e cuidados de fim de vida

Para Dantas, a confusão entre as duas abordagens tem a ver com esse conceito desatualizado de cuidados paliativos. “Na década de 1980, 1990, os cuidados paliativos estavam muito atrelados a pacientes com câncer e, principalmente, os pacientes no fim de vida”, afirma.

Ela explica que, naquela época, a pessoa com câncer fazia terapias que poderiam modificar o curso da doença (quimioterapia, radioterapia, cirurgias) e, caso os tratamentos não fossem eficazes e ela começasse a se aproximar do fim da vida, só então começavam os tratamentos paliativos, no intuito de minimizar o sofrimento. “E para acompanhar os pacientes no fim de vida e na morte.”

Contudo, esse conceito evoluiu. “Hoje a gente tem outra visão, inclusive com estudos, reforçando a importância de que essa abordagem se inicie o mais precocemente possível, idealmente próximo ao diagnóstico”, diz. “Então, quando o paciente recebe o diagnóstico de uma doença que ameaça a sua vida e que potencialmente pode trazer grande sofrimento, o ideal é que essa abordagem já seja iniciada para a gente não só tratar, mas também prevenir sofrimentos desnecessários.”

Aumento na sobrevida

No Brasil, foi lançada este ano a Política Nacional de Cuidados Paliativos e, em 2022, o ensino dessas habilidades passou a fazer parte das diretrizes curriculares da graduação em Medicina. Apesar de avanços no Brasil e no mundo, a oferta ainda é pouca, em relação à necessidade. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde de 2020, apenas 12% da população mundial que necessita de cuidados paliativos efetivamente os recebe. Especialmente considerando que, hoje, sabe-se da importância do início precoce do acompanhamento.

Segundo a especialista, há estudos que mostram como a abordagem precoce da equipe de cuidados paliativo é capaz de melhorar a qualidade de vida e, até em alguns casos, melhora de sobrevida dos pacientes.

Quando é possível fazer um planejamento de cuidados, isso evita que a pessoa passe por tratamentos agressivos em um momento em que ela está muito frágil para recebê-los. “Pode ser que isso contribua”, afirma.

Acompanhamento de perto

Considerando a abordagem precoce, os tratamentos paliativos, segundo Dantas, se iniciam, idealmente, junto dos tratamentos específicos, do início de medicamentos que podem mudar a evolução da doença ou cirurgias. “Nesse início, nem há necessidade, muitas vezes, de que seja uma equipe especializada, a depender de como o paciente está, se ele está com um sintoma bem controlado, e se o profissional que o acompanha tem uma formação, um conhecimento básico”, explica.

Quando o paciente está em um processo mais avançado da doença ou condição médica, esse acompanhamento envolve alinhar de expectativas, avaliar prognóstico, alinhar tudo isso com os valores e desejos do paciente e criar um planejamento terapêutico individualizado. “Respeitando os valores e a autonomia do paciente, a gente já se prepara para o que está lá na frente, e isso previne muito o sofrimento, trata e previne o sofrimento.

E claro, a gente vai continuar acompanhando esse paciente até que ele chegue no momento de terminalidade, que é quando se iniciam os cuidados de fim de vida.”

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Jornalista há 15 anos, com experiência em impresso, online, rádio e assessoria de comunicação
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