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PL da Censura x PL das Fake News: nome de projeto provoca ‘batalha’ nas redes

Projeto de Lei 2630/2020 será votado no plenário da Câmara dos Deputados na próxima semana

Câmara aprovou urgência para tramitação do PL 2630/2020

Câmara aprovou urgência para tramitação do PL 2630/2020

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Com votação marcada em plenário para a próxima semana, o Projeto de Lei 2630/2020, que tramita na Câmara dos Deputados, divide não só a opinião dos deputados, magistrados e empresas de internet. Nas redes, a batalha é pelo “apelido” que a proposta terá: PL da Censura ou PL das Fake News?

O assunto voltou à tona do debate na política brasileira desde a última terça-feira (25), quando um requerimento para que o projeto possa tramitar em regime de urgência foi aprovado no plenário da Câmara dos Deputados. Ao todo, 238 parlamentares votaram a favor do pedido e 192 votaram contra. Com isso, a votação final foi marcada para o plenário no dia 2 de maio.

O PL 2630 foi apresentado em 2020 pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e lista uma série de responsabilidades para empresas de internet que operem no Brasil. A proposta - que cria a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet - foi aprovada na Casa e encaminhada para a Câmara, onde é debatida há cerca de três anos.

Veja: O que é e quais são os principais pontos do PL das Fake News

O projeto de lei tem apoio da base do governo federal no Legislativo, organizações da sociedade civil e até de órgãos da Justiça, mas sofre resistência de parlamentares, sobretudo os de partidos de direita - além, claro, das grandes plataformas digitais.

PL da Censura ou PL das Fake News?

O nome dado à proposta varia de acordo com o juízo de valor sobre o conteúdo do projeto. No espectro político, pessoas mais ligadas à direita costumam criticar a proposta pelo viés do cerceamento da liberdade de expressão. Elas alegam que, com o PL 2630, o compartilhamento de determinados conteúdos poderá ser enquadrado como “discurso de ódio” e ser excluído das plataformas. Por isso, nesses grupos, o termo mais buscado é “PL da Censura”

Por outro lado, “PL das Fake News” é utilizado principalmente por quem se identifica no outro lado do espectro político. O argumento principal é de que o texto cria mecanismos para obrigar as plataformas digitais a excluir conteúdos considerados de “desinformação” e pode penalizar as empresas que contribuírem para o compartilhamento de conteúdos de discurso de ódio, racismo, dentre outros.

De acordo com dados do Google Trends, ferramenta de tendências de busca do Google, a busca pelos termos “PL da Censura” e “PL das Fake News” ganharam maior volume de procura na internet a partir de 2020, quando o projeto do senador Alessandro Vieira foi apresentado no Senado.

Nos últimos 10 dias, no entanto, a busca atingiu um pico - graças à votação do regime de urgência na Câmara dos Deputados. E quem vem ganhando mais espaço nessa batalha das redes é o “PL da Censura”.

Conforme os dados, na semana de 16 a 22 de abril, por exemplo, que antecedeu a aprovação do requerimento no Legislativo, o termo “PL das Fake News” teve um quarto do volume de buscas que “PL da Censura”.

Confira a evolução das buscas no Google Trends

Painel do Google Trends mostra preferência de buscas pelos termos no buscador

Como deputados se posicionam?

Seja na tribuna da Câmara dos Deputados ou nas redes sociais, deputados de posicionamentos políticos diferentes se referem sobre o PL 2630 de forma também distinta.

Veja também:

O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) subiu à tribuna do Parlamento para criticar o texto, alegando que a aprovação do projeto de lei pode interferir na liberdade de expressão, tanto de cidadãos como de parlamentares.

“Esse é o momento em que nós decidiremos se passaremos a impor limites que nos calam, silenciam, que podem nos levar a mim e a cada um de vocês e ao cidadão brasileiro à cadeia por manifestar sua opinião política, religiosa ou em defesa de um setor, como o agro”, argumentou.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) é outro representante da direita que impulsiona o engajamento de termos ligados ao chamado “PL da Censura”. O parlamentar chegou a enviar um tuíte ao dono do Twitter, Elon Musk sobre a discussão que ocorre no Brasil.

“A Câmara dos Deputados está a ponto de expulsar as redes sociais do país e a liberdade de expressão está sob ataque no Brasil”, publicou.

O bilionário dono da rede respondeu com um sinal de exclamação.

Por outro lado, o termo “fake news” ao se referir ao projeto é mais utilizado por deputados da base do governo federal, como André Janones (Avante-MG), que comemorou a aprovação do regime de urgência.

O relator da matéria na Câmara dos Deputados, Orlando Silva (PCdoB-SP) fez uma defesa da matéria, ao dizer que a regulação das plataformas digitais, não se trata de “censura”.

O que é o PL 2630?

Caso aprovado no Congresso Nacional, o Projeto de Lei 2630/2020 implementará a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. O texto contempla uma série de medidas e impõe responsabilidades para as grandes provedoras de internet que prestam serviço no Brasil - inclusive as que não tem, hoje, representação no país.

Confira os principais pontos do projeto:

  • Proíbe a criação de contas falsas em redes sociais

  • Proíbe ‘bots’

  • Reduz o alcance de mensagens muito compartilhadas

  • Determina que empresas mantenham registro de mensagens encaminhadas em massa por três meses

  • Determina a identificação de usuários que patrocinam conteúdos

  • Proíbe que contas oficiais de organizações governamentais bloqueiem contas de cidadãos

  • Cria o Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet

  • Determina que provedoras de redes sociais estabeleçam sedes no Brasil

  • Impõe sanções ou punições às empresas que descumprirem as medidas

Editor de política. Foi repórter no jornal O Tempo e no Portal R7 e atuou no Governo de Minas. Formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tem MBA em Jornalismo de Dados pelo IDP.
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