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Mesmo com Selic mantida a 15%, juros reais sobe; entenda

Levantamento da MoneYou e Lev Intelligence mostra que o Brasil tem a segunda maior taxa de juros reais do mundo, na frente da Argentina

Copom adotou um tom cauteloso ao manter os juros em 15% ao ano

O Brasil tem a segunda maior taxa de juros reais do mundo, de acordo com levantamento da MoneYou e Lev Intelligence divulgado nesta quarta-feira (5). O ranking mundial revela que, mesmo com a Selic mantida em 15% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa real teve um avanço de 0,23 ponto percentual.

Isso ocorre porque, em linhas gerais, os juros reais são obtidos pelo desconto da inflação da taxa básica de juros. No caso, com a inflação em 5,17% no acumulado dos últimos 12 meses, e uma Selic em 15%, os juros reais estão estimados em 9,74%.

Com a taxa mantida, o que teve um avanço em relação a reunião do Copom de setembro foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A inflação oficial do país acelerou 0,48% em setembro, fazendo com que o acumulado dos últimos 12 meses tivesse uma alta de 0,04 ponto percentual.

De acordo com o levantamento, o Brasil está atrás apenas da Turquia, que possui uma taxa de juros reais a 17,8% ao ano. O país ganha da Rússia (9,10%), que enfrenta sanções em meio a guerra com a Ucrânia, e da Argentina (5,16%), que passa por uma grave crise econômica.

Em seu comunicado desta quarta-feira, o Copom ressaltou que os juros foram mantidos em patamares elevados devido a um ambiente externo incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Em relação à inflação, a autoridade monetária afirmou que os dados indicam um arrefecimento, mas o índice de preços se mantém acima da meta de 3%.

“O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, disse o Comitê em comunicado.

Mas qual o impacto dos juros na vida?

A Selic atua como referência para as linhas de crédito. Com os juros elevados, empréstimos bancários ou de outras instituições financeiras ficam mais caros para o público em geral, favorecendo o endividamento. Como consequência, o financiamento de imóveis e veículos também seguem a mesma tendência de alta, dificultando o acesso aos bens de maior valor.

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Na mesma esteira, o nível de consumo das famílias deve cair. Isso ocorre porque o crédito tem uma relação direta com o aumento do preço dos produtos e serviços, causando uma redução no poder de compra, uma vez que a dificuldade de financiamento pode fazer os produtores a repassarem os preços.

Por outro lado, a Selic alta favorece os investimentos em renda fixa, uma vez que oferecem remuneração de acordo com a taxa básica de juros. Nesse caso, títulos como tesouro direto, letras de crédito, debêntures e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), se tornam mais atrativos no mercado de capitais no longo prazo.

Jornalista formado pela UFMG, Bruno Nogueira é repórter de Política, Economia e Negócios na Itatiaia. Antes, teve passagem pelas editorias de Política e Cidades do Estado de Minas, com contribuições para o caderno de literatura.