Distritos de Mariana, na Região Central de Minas Gerais,
Um dos principais pontos tratados nos acordos de reparação foi a restituição do direito à moradia para as pessoas que perderam suas casas e imóveis. Foram construídos dois novos distritos, nomeados de Novo Bento Rodrigues e Paracatu.
Dez anos após o desastre e um ano depois da assinatura do
Darlisa Azevedo, de 59 anos, mais conhecida como “Uninha” ou “Uma”, teve sua casa e comércio reconstruídos. Ela relata que, apesar de ter sido restituída de seu direito à moradia, os laços entre os moradores não são mais os mesmos.
“Estou sentindo diferença, porque a comunidade não segue mais unida como a gente era antes, mesmo por causa do tamanho que ficou. Ficou maior. Então, é até difícil a gente rever os amigos”, disse.
Segundo Antônio Gonçalves, de 56 anos, o “Da Lua”, o Novo Bento Rodrigues ainda não está concluído. O local foi entregue em partes e obras ainda são realizadas. Da Lua relata que os familiares que já se instalaram nas novas casas gostaram do resultado.
“As pessoas que estão morando lá, como a minha mãe e as minhas irmãs, estão gostando. É um uma nova ambientação. A cidade, vamos supor, é um distrito novo. Então, você tem que estar ali ambientando novamente”, contou.
O empresário Dan Mol, de 58 anos, tinha casa e plantação em Paracatu de Baixo. No entanto, optou por não integrar a nova comunidade construída. Ele revelou ter receio com o equilíbrio financeiro e emocional dos moradores diante das novas construções.
“As casas são bem construídas. Fizeram vilarejos bem estruturados, mas a gente tem muita preocupação com o ser humano, com a saúde mental. Era preciso ter uma estrutura. Psicólogo, né? Para ajudar as pessoas a voltarem à origem, a recomeçarem, depois de dez anos”, afirmou.
Mauro Marcos da Silva, de 56 anos, nasceu e foi criado em Bento Rodrigues. Perguntado sobre o futuro, Mauro avalia que ele e os demais atingidos estão condenados ao que chama de uma “prisão perpétua”.
“Um cenário de impunidade. No Brasil, existe uma pena máxima de 30 anos. Nós já cumprimos um terço disso. O projeto de repactuação tem programas previstos para durarem 20 anos. Então, somados com os 10 que já se passaram, são 30 anos. É pena máxima”, disse.
A saúde mental dos reassentados
Em entrevista à Itatiaia, o professor universitário e psicanalista Renê Dentz, que acompanhou diretamente os núcleos de atingidos, houve dificuldade em entender o que seria necessário fazer para que, neste novo Bento, as pessoas se sentissem minimamente em casa de novo.
“Houve um grande esforço, né? A fundação responsável reuniu profissionais especialistas competentes do Brasil todo, que foram para a cidade Mariana atuar, mas faltou uma sensibilidade de entender o que era Bento”, analisou o especialista.
Segundo Dentz, o Novo Bento Rodrigues foi projetado como um conjunto de casas, quase um condomínio, mas não reproduz o espírito da comunidade rural que existia antes. “As pessoas ali perderam duas coisas principais: a terra e a comunidade. E a terra, para elas, é quase uma extensão do corpo”, explicou.
“Ouvi senhores de mais de 80 anos dizendo: ‘Minha vida perdeu o sentido. Não consigo mais plantar, nem criar meus animais. Fico o dia inteiro olhando para o teto de uma casa no centro de Mariana”, relatou o professor.
O que diz a Samarco?
Segundo a
A empresa diz que 100% das construções que estavam previstas antes do Acordo de Reparação do Rio Doce, assinado em outubro de 2024, foram entregues. Após a homologação do acordo, foi iniciada a execução de seis imóveis adicionais, com previsão de conclusão até o fim de 2026.
Dez anos do desastre em Mariana
Por volta das 16h do dia 5 de novembro de 2015, a
O colapso da estrutura causou a morte de 19 pessoas, deixou mais de 600 desabrigadas e despejou mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério no meio ambiente.
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