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Mariana: repactuação recebe prêmio de ‘acordo do ano’ e revolta atingidos

‘Esse é o nosso país, onde o crime compensa’, diz Mônica dos Santos

O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. Inicialmente, a mineradora havia afirmado que duas barragens haviam se rompido, de Fundão e Santarém. No dia 16 de novembro, a Samarco confirmou que apenas a barragem de Fundão se rompeu.\nLocal: Distrito de Bento Rodrigues, Município de Mariana, Minas Gerais.\n\nFoto: Rogério Alves/TV Senado

A repactuação assinada pela Vale e a Samarco, em função do rompimento da barragem em Mariana, recebeu o prêmio de “acordo do ano” pelo Latin Lawyer Awards, que ranquea grandes operações jurídicas na América Latina.

Revolta
A premiação gerou revolta entre os atingidos. “Só no Brasil mesmo que acontecem essas coisas. É com muita tristeza e revolta que recebo a notícia de que os advogados e escritórios que representam as empresas assassinas Samarco, Vale e BHP receberam esse prêmio”, afirmou Mônica dos Santos, moradora de Bento Rodrigues e integrante da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF).

De fora
O escritorio Pogust Goodhead, que representa atingidos na ação inglesa, frisou que 400 mil vítimas do desastre que buscam reparação no exterior ficaram inelegíveis ou que recusaram o valor de R$ 35 mil oferecido pelas mineradoras, por considerarem a quantia insuficiente; e que quase metade dos municípios atingidos rejeitou o acordo brasileiro, incluindo Mariana, em função do prazo de pagamento em 20 anos e os valores oferecidos.

Ação inglesa
No Reino Unido, as vítimas esperam receber parte dos R$ 230 bilhões cobrados, contra os R$ 132 bilhões de dinheiro novo previstos no acordo brasileiro — que soma R$ 170 bilhões com valores já comprometidos.

Segundo Mônica, os prejuízos para os atingidos são continuados. “Empresas que ceifaram 20 vidas no dia 5 de novembro de 2015. Outras 81 pessoas da comunidade de Bento Rodrigues morreram nos últimos 10 anos, a maioria delas sem conseguir entrar em suas novas casas e sem receber nenhum valor de indenização”, relatou.

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Edilene Lopes é jornalista, repórter e colunista de política da Itatiaia e podcaster no “Abrindo o Jogo”. Mestre em ciência política pela UFMG e diplomada em jornalismo digital pelo Centro Tecnológico de Monterrey (México). Na Itatiaia desde 2006, já foi apresentadora e registra no currículo grandes coberturas nacionais, internacionais e exclusivas com autoridades, incluindo vários presidentes da República. Premiada, em 2016 foi eleita, pelo Troféu Mulher Imprensa, a melhor repórter de rádio do Brasil.

A opinião deste artigo é do articulista e não reflete, necessariamente, a posição da Itatiaia.