Zema afaga Bolsonaro, mas evita encontro com ex-presidente em prisão domiciliar

Governador de Minas Gerais promete anistia ao ex-presidente, reafirma alinhamento ideológico, mas evita, até agora, pedidos formais de visita

Zema subirá, de novo, em palanque de Bolsonaro em Minas; dessa vez, em Montes Claros

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem adotado um comportamento distinto de outros nomes da direita que se movimentam para as eleições de 2026. Embora seja pré-candidato à Presidência, ele ainda não solicitou formalmente ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro que cumpre prisão domiciliar há mais de 100 dias.

A ausência desse um pedido abre espaço para leituras variadas. Apesar de o movimento poder ser interpretado como uma tentativa de Zema de se afastar do bolsonarismo para buscar autonomia na direita, fontes ligadas ao governador ouvidas pela Itatiaia avaliam que a postura resulta mais de circunstâncias do que de estratégia.

Em entrevista ao portal Metrópoles, Zema afirmou que pretende realizar uma visita. Ele também declarou que concederia anistia ao ex-presidente e aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, caso fosse eleito.

“Certamente”, respondeu. “Nós precisamos passar uma borracha nesse episódio, que não foi golpe, foi um ato de vandalismo errado, condenável, mas golpe não”, disse, defendendo a manutenção da prisão domiciliar como uma solução possível para o ex-presidente.

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“Ele já está em prisão domiciliar há alguns meses, não tem causado nenhuma ação que possa justificar desobediência ao que foi determinado na sentença. Então, por que não mantê-lo lá, onde fica mais fácil para ele tratar da saúde, ter convivência com os familiares, receber visitas, em vez de mandá-lo para a prisão?”, disse.

O governador afirmou que esteve com o ex-presidente “na semana em que ele foi intimado” e que pretende visitá-lo novamente. “É uma pessoa com quem tive bastante contato na minha primeira gestão, quando ele era presidente, e no início da segunda. E com quem me solidarizo”, disse. Segundo ele, Bolsonaro manifestou apoio a “todos os candidatos da direita”.

Críticas a Eduardo

A movimentação de Zema ocorre ao mesmo tempo em que ele se envolveu em uma polêmica com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL). Na entrevista ao Metrópoles, o governador afirmou que o parlamentar “não foi muito feliz” nas articulações políticas nos Estados Unidos e que “interesses pessoais não podem se sobrepor ao interesse da nação”.

Segundo Zema, a condução de Eduardo teria gerado ruídos em um momento em que o governo brasileiro enfrentava tensões diplomáticas. “Ou ele não se manifestou bem, ou fez alguma coisa que deu a entender isso, que uma pessoa é mais importante que um país. E nenhuma pessoa é mais importante que um país. Nem um presidente”, avaliou.

As declarações geraram reação imediata. Eduardo Bolsonaro respondeu publicamente dizendo que a crítica levantava questionamentos sobre sua reputação. “A quem interessa?”, questionou. Carlos Bolsonaro também se manifestou nas redes sociais, afirmando que críticas desse tipo atenderiam a uma “eterna terceira via com roupagem nova” e acusando a imprensa e setores da direita de tentar dividir o grupo político ligado ao ex-presidente.

Sem distanciamento

Fontes próximas a Zema ouvidas pela reportagem avaliam que a falta de um pedido de visita não representa necessariamente um afastamento do bolsonarismo ou um “voo solo” na direita. Um interlocutor lembrou que o governador já havia procurado Bolsonaro antes de anunciar sua pré-candidatura à Presidência para comunicá-la pessoalmente e ouvi-lo. Por isso, não haveria urgência ou simbolismo adicional em uma nova visita imediata.

Outros governadores que também se colocam como opções para 2026 seguiram caminhos diferentes. Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, recebeu autorização do ministro Alexandre de Moraes para visitar Bolsonaro, assim como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Guilherme Derrite (PP-SP), deputado e ex-secretário de Segurança paulista; e Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro. O governador Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, tem evitado o tema - em parte por questões partidárias.

Ainda segundo esta mesma fonte, Tarcísio, em suas palavras, “inventado e dependente do Bolsonaro”, teria necessidade política de reforçar o alinhamento por meio da agenda de visitas.

Bolsonaro cumpre prisão domiciliar determinada em 4 de agosto, após descumprimento de medidas cautelares impostas por suspeita de obstrução de Justiça e tentativa de interferência em investigações. Entre as restrições estavam o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento noturno e proibição de contato com diplomatas ou uso de redes sociais.

Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.

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