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TCE-MG confirma suspensão da expansão do Programa de Escolas Cívico-Militares

Com a decisão, o governo do estado ficou obrigado a se abster de fazer a ampliação do programa, além de se abster de dar continuidade ao programa nas nove escolas onde atualmente se encontra em execução

Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG)

O pleno do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG) confirmou, nesta quarta-feira (13), a suspensão da expansão do Programa das Escolas Cívico-Militares, que havia sido decretada no início da semana por decisão monocrática do conselheiro Adonias Monteiro. A decisão acontece em resposta a uma representação apresentada pela deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT). O placar ficou em quatro votos favoráveis contra um contrário.

Com a decisão, o governo do estado ficou obrigado a se abster de fazer a ampliação do programa, além de se abster de dar continuidade ao programa nas nove escolas onde atualmente se encontra em execução. Ainda ficou determinado que o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares, forneça, em 30 dias, informações detalhadas sobre a execução atual do programa.

Dentre elas, estão especificadas: a situação das nove escolas atualmente em funcionamento no modelo cívico-militar; os custos envolvidos na implementação e manutenção do programa; a forma e origem dos recursos para remuneração dos militares; os critérios de seleção e convocação desses militares; os resultados pedagógicos alcançados com base em dados objetivos e evidências técnicas; o planejamento orçamentário para as demais unidades escolares eventualmente contempladas no programa; com a respectiva documentação comprobatória.

Todas as informações deverão ser encaminhadas à presidência do Tribunal de Contas do Estado para que seja avaliada a “conveniência e oportunidade” de realização de ação de controle por meio de inspeção nas nove escolas em funcionamento no modelo cívico-militar no estado. O governo ainda precisará comprovar, em cinco dias, a adoção das medidas determinadas pelo TCE.

A deputada Beatriz Cerqueira defende que há falta de legislação específica sobre a implementação de escolas cívico-militares no estado e violação ao Plano Plurianual de Ação Governamental e à Lei Orçamentária do Estado de 2025. Ela alega ainda falta de transparência no processo e “risco de privatização” das escolas. “Há a possibilidade do Programa das escolas cívico-militares ser realizado por meio de parcerias, convênios ou termos com OS ou OSC, já que não há nenhuma lei estadual que discipline a matéria. O programa, no PPAG, está enquadrado dentro do Projeto Somar, que repassa à gestão das escolas para a iniciativa privada”, destaca.

A reportagem questionou o governo do Estado sobre a suspensão e aguarda retorno. O espaço continua aberto.

Contexto

A questão das escolas cívico-militares tem gerado debates acirrados na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), especialmente entre parlamentares da oposição ao governador Zema. Esses deputados alegam que a gestão compartilhada entre a Secretaria de Educação e o Corpo de Bombeiros Militar seria inconstitucional, pois envolve temas de competência exclusiva da União.

No último dia 14, a Comissão de Educação da ALMG aprovou um requerimento para revogar a política estadual, argumentando que o modelo fere a Constituição. Além disso, o governo estadual suspendeu temporariamente as consultas públicas sobre a adesão das escolas ao modelo, o que acirrou ainda mais a polêmica.

Embora o programa federal de escolas cívico-militares tenha sido revogado pelo governo Lula, o estado de Minas optou por manter uma versão própria do modelo.

O modelo de escolas cívico-militares, diferente das escolas militares geridas pelas Forças Armadas, conta com gestão compartilhada entre as secretarias de Educação e forças de segurança, como a Polícia Militar. O currículo segue o padrão das escolas civis, mas com ênfase em disciplina e a participação de militares da reserva nas rotinas escolares.

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Jornalista pela UFMG, Lucas Negrisoli é editor de política. Tem experiência em coberturas de política, economia, tecnologia e trends. Tem passagens como repórter pelo jornal O Tempo e como editor pelo portal BHAZ. Foi agraciado com o prêmio CDL/BH em 2024.
Graduado em jornalismo e pós graduado em Ciência Política. Foi produtor e chefe de redação na Alvorada FM, além de repórter, âncora e apresentador na Bandnews FM. Finalista dos prêmios de jornalismo CDL e Sebrae.