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Especialista diz que Tarifaço de Trump ‘ficou muito melhor do que se esperava’ e faz alerta sobre retaliação

Polpa e o suco de laranja, minério de ferro, cobre, petróleo, alguns tipos de fertilizantes, celulose e aviões não militares escaparam do tarifaço

Decreto de Donald Trump poupa 700 itens

O alcance do tarifaço de 50% determinado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi menos severo do que se esperava. A avaliação é do economista Paulo Duarte, da Valor Investimentos, em entrevista à Itatiaia nesta quinta-feira (31), um dia após a divulgação do decreto com as novas tarifas. Enquanto alguns setores foram diretamente atingidos pela medida, o decreto isentou cerca de 700 produtos estratégicos para os EUA, como os dos setores aeronáutico, energético e parte do agronegócio. A entrada em vigor da nova alíquota foi adiada do dia 1º para 6 de agosto.

“Ficou muito melhor do que a gente esperava, já que a tarifa inicialmente seria aplicada a todos os produtos e já a partir de amanhã (dia 1º). Agora temos mais tempo para tentar nos organizar, e já há uma lista relevante com 50% do que exportamos aos Estados Unidos submetido a uma tarifa inicial menor. As alíquotas sobem de 0 para 10%, mas não são aqueles temidos 50% que o presidente Trump ameaçou em um primeiro momento”, avaliou Paulo. O economista destacou ainda que o recuo de Donald Trump ocorre muito mais por pressões internas do que em razão da atuação do governo brasileiro.

“O governo brasileiro começou a se movimentar tardiamente. Enviou uma comitiva apenas nesta semana aos Estados Unidos. Então, esse tempo a mais (de uma semana) pode ser positivo para novas negociações. E essa reversão inicial sobre alguns produtos — o que conseguimos perceber em uma leitura preliminar — ocorreu muito mais por pressões internas de empresários e até de parte do governo americano, diante dos impactos que isso traria à economia interna, como inflação e outros efeitos, do que por iniciativa do governo brasileiro”, analisou.

Alerta

O economista afirmou que uma possível retaliação por parte do governo brasileiro, como o uso da Lei da Reciprocidade, seria um erro estratégico.

“Neste momento, acho que o pior movimento que o governo brasileiro pode fazer é retaliar. O governo Trump costuma buscar vitórias em todos os pequenos embates. Então, o que foi anunciado ontem (quarta-feira) é, de certo modo, uma pequena vitória para ele. Mas a semente das dificuldades atuais na interlocução com o governo americano foi plantada ainda nas eleições, quando o presidente Lula optou, abertamente, por apoiar a opositora de Trump, que acabou sendo eleito. E, em um segundo momento, após a posse de Trump, o governo brasileiro se afastou”, comentou.

Desafio

Embora o país possa encontrar novos compradores para parte dos produtos taxados em 50%, escoar a totalidade da produção em curto prazo é um desafio significativo. Setores específicos já sentem os impactos de forma severa. O setor de calçados no Sul do país, por exemplo, que possui fábricas voltadas exclusivamente para a exportação aos Estados Unidos, já registra demissões e concessões de férias coletivas. A capacidade de redirecionar essa produção em pouco tempo é considerada limitada.

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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.