STF prorroga prazo para Rio de Janeiro aderir ao Propag e deixar RRF

Rio de Janeiro poderá ficar sob os efeitos do RRF por mais seis meses; Minas Gerais conseguiu a autorização para ingressar no Propag já neste mês

Dias Toffoli, do STF, prorrogou o prazo para adesão ao Propag até junho de 2026

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o Rio de Janeiro a se manter no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) por mais seis meses, o que prorroga o prazo para adesão ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Em decisão assinada na segunda-feira (22), o magistrado estendeu o prazo de transição para o estado fluminense lidar com seu débito bilionário com a União, processo que Minas Gerais realiza já neste mês.

Na decisão, apesar de estender o prazo para que o Rio adira ao Propag, Toffoli determinou que o valor das parcelas pagas a partir do segundo semestre de 2026 levem em conta os valores não pagos em 2024 e 2025, nos quais o estado teve seus compromissos reduzidos devido à vigência do RRF.

A situação fiscal do Rio tem semelhanças com a de Minas Gerais. A dívida fluminense com a União é de R$ 193 bilhões, pouco maior que os R$ 178 bilhões devidos atualmente pelos cofres mineiros. Ambos estão sob a vigência do RRF.

Em Minas, no entanto, os trâmites para adesão ao Propag, regime alternativo ao RRF e que efetivamente propõe o pagamento da dívida com a União, foram mais céleres. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por exemplo, aprovou o projeto básico para a mudança no modelo de refinanciamento do débito em maio deste ano, enquanto sua similar fluminense só o fez na última quinta-feira (18).

O prazo definido para aderir ao Propag, conforme definido na regulamentação do projeto assinado pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e regulamentado em abril deste ano, era dezembro de 2026.

Nesta segunda-feira, o governo federal publicou no Diário Oficial da União (DOU) a autorização para que Minas Gerais saia do RRF e ingresse no Propag. Com a medida, Minas já pode começar a pagar a dívida conforme definido no programa — em parcelas divididas por 30 anos e com juros reduzidos. Fica para 2026, porém, a negociação sobre quais ativos mineiros a União aceitará como forma de amortizar parte do estoque devido.

Embora contemple todos os estados em dívida com a União, o Propag é tratado como um programa que observou especialmente a situação mineira. O projeto permite a redução dos juros no pagamento da dívida diante do cumprimento de prerrogativas como a amortização do estoque via federalização de ativos estatais.

Minas Gerais, ao contrário de outros estados endividados como Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul, ainda mantinha bens importantes como participações em ações de empresas e controle de estatais valiosas como Cemig, Copasa e Codemig.

O que é o Propag

O Propag foi criado a partir das dificuldades encontradas pelo governador Romeu Zema (Novo) em aprovar a adesão de Minas Gerais ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) na Assembleia Legislativa (ALMG). Principal pauta do Executivo Estadual para lidar com a situação da bilionária dívida com a União, a medida foi considerada excessivamente austera pelos parlamentares e não caminhou na Casa.

O RRF foi instituído durante a presidência de Michel Temer (MDB) como uma forma de adequação orçamentária dos estados endividados. Durante nove anos de vigência do regime, os estados precisam conter investimentos, limitar os reajustes salariais dos servidores e congelar novos concursos para o funcionalismo público, por exemplo.

Sem conseguir aderir ao regime via Legislativa, Zema conseguiu o ingresso via Supremo Tribunal Federal (STF) em 2024. Minas, então, se somou a um grupo formado por Goiás, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, todos operando sob o RRF. Paralelamente à empreitada jurídica do governador, membros da oposição na Assembleia, o presidente da Casa, Tadeu Martins Leite (MDB), e o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), começaram a costurar o que viria a ser o Propag.

O projeto de lei complementar que propunha a criação do Propag foi aprovado no Congresso Nacional em dezembro de 2024, sancionado parcialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro do ano seguinte e regulamentado em abril.

O programa prevê a criação de condições para que os estados endividados com a União consigam parcelar o pagamento do débito em até 30 anos. Neste contexto, o Propag estabelece mecanismos para a redução dos juros cobrados sobre as parcelas, hoje calculados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que estabelece a inflação — mais 4% do estoque da dívida ao ano.

O ingresso no Propag deve ser decidido pelos estados até o fim deste ano e pode ser feito em diferentes modelagens, todas elas com a possibilidade da redução dos juros reais com a eliminação dos quatro pontos percentuais cobrados além da inflação.

O modelo escolhido pelo governo mineiro e em discussão com um pacote com mais de uma dezena de projetos enviados à Assembleia prevê a redução de dois pontos percentuais a partir do abatimento de ao menos 20% do estoque da dívida. Hoje, Minas deve cerca de R$ 175 bilhões à União e, portanto, precisaria pagar R$ 35 bilhões para atingir seu objetivo.

Esse pagamento pode ser feito a partir da federalização de ativos estatais para amortizar a dívida com seu repasse ao governo federal ou via privatização dos bens com uso do recurso para o abatimento do débito. Neste contexto estão os polêmicos debates de venda de imóveis do estado e da Copasa e da federalização da Codemig, há meses monopolizando a discussão no Legislativo mineiro.

Outro ponto percentual pode ser abatido com o compromisso de que a economia obtida com essa redução de juros seja reinvestida no estado. O uso do valor que não será pago em forma de dívida deve, portanto, ser aplicado em ações de segurança pública, ensino profissionalizante, infraestrutura e outras áreas nevrálgicas da estrutura do estado.

Por fim, mais um ponto percentual pode ser suprimido com a contribuição com o Fundo de Equalização Federativa. Instituído pelo próprio Propag, essa medida foi tomada como uma forma de negociar a aprovação do texto no Congresso junto a parlamentares de estados que não estão em dívida com a União e que viam no programa de refinanciamento uma iniciativa de favorecimento das unidades federativas em débito. Os valores destinados ao fundo serão redistribuídos entre os estados do país.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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