Prefeito de Betim critica ‘sobrecarga’ dos municípios e cobra mais repasses

Para Heron Guimarães, os municípios têm assumido, cada vez mais, gastos que são de responsabilidade dos governos federal e estadual

Heron Guimarães, prefeito de Betim.

O prefeito de Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Heron Guimarães (União Brasil), detalhou, em entrevista à Itatiaia, o planejamento que o município vem realizando para reduzir a dependência de verbas dos governos federal e estadual. À reportagem, o chefe do Executivo afirmou que a administração pública assume milhões de reais em investimentos na área de segurança pública, o que, segundo ele, seria responsabilidade do governo de Minas Gerais e também da União.

Na avaliação de Guimarães, as prefeituras têm assumido, cada vez mais, responsabilidades que não são de competência municipal, o que, segundo ele, prejudica as contas públicas e compromete o funcionamento da máquina administrativa. “Os municípios têm assumido tarefas que constitucionalmente não são suas, mas, no dia a dia, lidando com as pessoas, se as cidades não assumirem, a população fica desassistida, e os prefeitos precisam arcar com situações que não são de sua responsabilidade”, explicou à Itatiaia.

No último dia 16 de dezembro, a Associação Mineira dos Municípios (AMM) e o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) anunciaram uma parceria, prevista para 2026, com o objetivo de levantar os gastos das prefeituras com órgãos e atribuições de outros entes federativos.

No compromisso firmado, o TCE-MG realizará uma pesquisa para identificar quanto os municípios estão gastando para custear essas estruturas.

Para o prefeito de Betim, para que a ação seja mais efetiva, é preciso mais do que apenas “boa vontade”. Em entrevista à Itatiaia, Guimarães cobrou que o movimento em defesa do municipalismo parta dos senadores e deputados federais. “Se não houver sensibilidade, vai continuar do mesmo jeito e ninguém vai dividir o bolo. A União continuará com a maior fatia, o estado seguirá com uma parte menor do que a da União, mas maior do que a dos municípios”, afirmou.

Traçado do Rodoanel

Em abril de 2025, as prefeituras de Betim e Contagem se uniram para pedir ao governador Romeu Zema (Novo) a alteração do traçado proposto pelo estado para o Rodoanel.

A obra, que deve integrar também outras cidades, é uma aposta do governo de Minas para reduzir os congestionamentos na capital mineira, com investimento estimado em R$ 3,2 bilhões.

Enquanto a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), manteve posição contrária ao que é proposto pelo Executivo estadual, o prefeito de Betim indicou que chegou a um entendimento com o governo Zema. À Itatiaia, Guimarães afirmou que o projeto anterior não correspondia às expectativas do município. “Eram vias e traçados que cortavam a cidade ao meio, separando escolas dos estudantes, os usuários da saúde dos postos e as unidades policiais das zonas mais críticas da criminalidade. Gastava-se muito com desapropriações, e a cidade ficava totalmente segregada”, explicou.

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De acordo com ele, a partir disso, foram realizados diversos movimentos para impedir a aprovação do traçado. “Em 2024, veio outro Decreto de Utilidade Pública (DUP), com alterações que já tornavam o traçado mais amigável. O terceiro DUP, ocorrido no primeiro semestre de 2025, melhorou bastante, e um novo decreto, no segundo semestre, nos dá mais tranquilidade para dizer que agora o traçado impacta a cidade, mas em menor escala”, afirmou.

Ele disse que a prefeitura dialogou com o governo do estado em busca de melhorias e acredita que Contagem deva seguir pelo mesmo caminho. “Achamos que, pelo menos do ponto de vista do projeto, essa obra, que já tem recursos destinados, irá avançar muito. Sabemos que a execução ainda deve demorar, mas, no que depender de Betim, o projeto já está aprovado”, relatou.

Enquanto em Betim a principal reclamação era uma eventual segregação da cidade, em Contagem a prefeitura sustenta que a proposta não pode avançar sem garantir a proteção da Área de Preservação Ambiental de Vargem das Flores e sem ajustes que evitem cortes em bairros diretamente impactados.

‘Casa arrumada’ e mobilidade urbana

O prefeito, que herdou a administração pública do ex-prefeito Vittorio Medioli (sem partido), afirmou que assumiu o município com “a casa arrumada”. Ele, no entanto, admite que ainda são necessários alguns avanços, especialmente na área da mobilidade urbana.

Segundo Guimarães, a prefeitura está finalizando um processo de licitação com a promessa de reformular o transporte público municipal. “Por meio de circulares nas dez regionais, começaremos pela Citrolândia, região mais afastada do centro administrativo. A partir daí, vamos aderir ao programa do governo federal, o Refrota”, explicou.

O Refrota é uma iniciativa do governo Lula (PT), vinculada ao Ministério das Cidades e ao Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que visa financiar a renovação da frota de transporte público urbano com veículos mais modernos e menos poluentes. “Essa medida prepara o terreno para, se não resolver totalmente o problema, dar um grande salto de qualidade na oferta do transporte público”, afirmou o prefeito.

Ainda em Betim, segundo Guimarães, mais de 60% dos ônibus do transporte de passageiros são de linhas intermunicipais, sob administração do governo de Minas Gerais. “Somos cortados pela BR-262, pela BR-381, pela MG-050, pela BR-040 e pela VLI, que são trilhos que poderiam ser usados para o transporte de passageiros, mas isso ainda é uma realidade distante. Temos grandes expectativas para os próximos anos, mas sabemos que precisamos de um órgão jurídico e administrativo mais claro”, disse.

Para o chefe do Executivo municipal, a Agência Metropolitana, sozinha, não tem conseguido êxito em promover a integração necessária para a Grande BH. Embora haja interesse por parte da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel), o grupo não é um órgão governamental com poder para promover mudanças. “Precisamos de uma entidade que tenha respaldo das prefeituras para promover essa integração. Coisas simples poderiam ser feitas, como a integração tarifária, mas, sem um órgão centralizador, onde os municípios possam beber da mesma fonte, é difícil avançar”, concluiu.

Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia, já foi produtora de programas da grade e repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.

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