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Julgamento de Bolsonaro no STF repercute entre deputados mineiros na Assembleia

Parlamentares próximos do ex-presidente chegaram a compará-lo com Tiradentes e Jesus Cristo no Plenário desta terça-feira (2)

Deputados Cristiano Silveira (PT) e Bruno Engler (PL).

O primeiro dia de julgamento do chamado “núcleo crucial” repercutiu entre os deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). No plenário desta terça-feira (2), parlamentares discursaram contra e a favor da ação penal movida no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus, pela suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota nas urnas em 2022.

O deputado Eduardo Azevedo (PL) comparou o ex-presidente a Tiradentes e Jesus Cristo, afirmando que “todos aqueles que se levantaram contra o sistema para fazer a diferença” foram “cruelmente perseguidos”.

Durante a sessão, o parlamentar — que é da mesma legenda de Bolsonaro — afirmou estar descrente na absolvição do ex-presidente e de seus aliados, alegando que a ação no Supremo teria caráter político. “Quando não conseguem ofuscar o brilho do ex-presidente e fazer com que ele esteja inapto a disputar as eleições, fazem de tudo para desgastar sua imagem e transformá-lo em um criminoso”, disse.

Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), proferida em 2023. Mesmo que seja absolvido pelo Supremo, o ex-presidente não poderá disputar a próxima eleição, pois a condenação da Justiça Eleitoral é de caráter civil-eleitoral, decorrente de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante seu mandato à frente da Presidência da República.

Já o deputado Bruno Engler (PL), também aliado de Bolsonaro, classificou o julgamento do ex-presidente como um “circo” e uma “farsa”. O parlamentar ainda utilizou seu tempo de fala para criticar o relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “agente político vestindo toga”. Como relator, Moraes foi o primeiro a discursar durante o julgamento, conforme o rito processual.

O deputado Caporezzo (PL) também discursou contra o ministro, comparando novamente o ex-presidente ao mineiro Tiradentes. No plenário, ele afirmou, sem citar diretamente o nome de Moraes, que o que passou a valer no país é “a vontade de um homem que está se afogando no próprio poder”.

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Por sua vez, a deputada Bella Gonçalves (PSOL) defendeu que a ação contra os réus no Supremo está correndo da forma correta e com “bastante cautela” por parte do Poder Judiciário. A parlamentar afirmou que espera que a decisão saia com “sabor de justiça”.

Respondendo ao colega de Legislativo, Bruno Engler, Bella declarou que o deputado relata a suposta tentativa de golpe “como se fosse um bando de velhinhas na porta dos quartéis orando”, mas que essa versão não condiz com a realidade dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro. “O papel central que o STF exerce agora, ao não permitir que a nossa democracia seja novamente violada e que isso fique impune, é histórico”, afirmou.

Correligionário do presidente Lula (PT), o deputado Cristiano Silveira (PT) declarou que Bolsonaro deveria “se inspirar” na trajetória do petista. “O presidente aceitou a condenação, ficou preso mais de 500 dias, se reorganizou, foi para as ruas, fez campanha e venceu as eleições. Ele [Lula] nunca fez enfrentamentos às instituições deste país”, disse.

O parlamentar sugeriu que, assim como Lula, o ex-presidente Bolsonaro deveria trabalhar para provar sua inocência, mas sem afrontar os Três Poderes. “Uma história inigualável [a de Lula] na política do nosso país. O outro [Bolsonaro], não. É pirracento, pede anistia e quer livrar a cambada dele toda”, declarou.

Julgamento

Ao todo, serão duas semanas de julgamento, divididas em cinco sessões, com oito acusados:

  • Alexandre Ramagem;
  • Almir Garnier;
  • Anderson Torres;
  • Augusto Heleno;
  • Jair Bolsonaro;
  • Mauro Cid;
  • Paulo Sérgio Nogueira;
  • Walter Souza Braga Netto.

Os réus respondem por cinco crimes:

  • Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Tentativa de golpe de Estado;
  • Participação em organização criminosa armada;
  • Dano qualificado;
  • Deterioração de patrimônio tombado.
Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.