Ouvindo...

Instituições de Justiça criam Comitê em Minas para ampliar direitos de comunidades tradicionais

Iniciativa inédita do TRF6 reúne órgãos estaduais e federais para mapear e apoiar povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais do estado

A cerimônia simbólica contou com a presença do povo cigano, indígenas e também quilombolas.

Instituições de Justiça de Minas Gerais e do governo federal inauguraram, nesta sexta-feira (22), o Comitê Interinstitucional Juspovos, iniciativa inédita no país, promovida pelo Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6).

O projeto tem como objetivo mapear e estudar comunidades tradicionais e povos originários que vivem em território mineiro, estimulando o Poder Público a propor ações para ampliar o acesso à Justiça.

Para a Itatiaia, a cacica Angohó, da etnia Pataxó Hãhãhãe e presidenta do Conselho de Caciques da Região Metropolitana de Belo Horizonte, relembrou a tragédia do rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, no ano de 2019. O maior desastre ambiental do país, que provocou a morte de 272 pessoas, também despejou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no rio Paraopeba, importante fonte de subsistência da comunidade local.

Não chegamos aqui sozinhos, mas sim com a ajuda de todos os povos tradicionais, que nos acompanham em meio a muito sofrimento e muita luta, especialmente os indígenas da Grande BH, afetados pelo crime de Brumadinho e por tantas outras violações aos direitos humanos”.
— afirmou.

O comitê será composto por representantes do TRF6, Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT), Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), Tribunal de Contas do Estado (TCE), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG).

Segundo o presidente do TRF6, Vallisney Oliveira, o grupo deverá se reunir pelo menos uma vez a cada semestre para discutir ações voltadas à proteção dos direitos desses povos. “Teremos grupos temáticos de execução, voltados aos quilombolas, povos indígenas e outros. A partir disso, tentaremos, nesses grupos, fazer visitas aos locais escolhidos para ouvir e realizar uma escuta ativa. Se detectarmos problemas extrajudiciais ou judiciais, acionaremos os tribunais responsáveis, seja o TRT, o MPT, ou outro, dependendo do que surgir”, explicou à reportagem.

Leia também

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo 2022, Minas Gerais é o terceiro estado com a menor proporção de indígenas no Brasil.

Ainda segundo o Censo 2022, o estado possui a terceira maior comunidade quilombola do país, com 135.310 pessoas, número que representa 10,1% do total de quilombolas do Brasil.

A organização interna do comitê prevê uma presidência, um plenário deliberativo e a criação de grupos temáticos, conforme explicado pelo desembargador e presidente do TRF6.

Entre os povos tradicionais contemplados pelo comitê estão comunidades indígenas, quilombolas, ciganos, apanhadores de sempre-vivas e outros definidos pela legislação federal ou por tradição e identidade próprias.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.