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Entenda os próximos passos da PEC do Referendo na Assembleia de Minas

PEC que retira a necessidade de uma consulta popular para privatizar a Copasa pode ser votada na noite desta quinta-feira (23)

Projeto pode ir a votação em sessão plenário da noite

O debate sobre a privatização da Copasa vive um dia decisivo nesta quinta-feira (23) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A possível votação da Proposta de Emenda à Constituição 24/2023, que retira a exigência de um referendo popular para autorizar a venda da companhia de saneamento é tema de debate entre a base governista e a oposição e a discussão promete se estender até a madrugada.

A chamada PEC do Referendo é de autoria do governador Romeu Zema (Novo) e integra as discussões associadas ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

O Governo de Minas planeja aderir ao projeto de refinanciamento do débito de R$ 170 bilhões com a União abatendo 20% do estoque devido para conseguir reduzir também os juros cobrados sobre as parcelas divididas pelos próximos 30 anos. Para conseguir tal feito, o Executivo enviou vários projetos de privatização de estatais à Assembleia.

O debate específico sobre a Copasa é um dos mais intrincados também por envolver uma alteração na Constituição do estado. Além disso, a tramitação ocorre em meio ao protesto de milhares de trabalhadores e sindicalistas que lutam conta a privatização.

Quando será a votação em primeiro turno

Por se tratar de uma PEC, a discussão do texto em plenário deve acontecer em seis sessões antes da votação em primeiro turno. Em tese, a sexta e última reunião aconteceria às 10h desta quinta-feira. Com isso, os deputados já votariam a proposta às 14h.

No entanto, na noite de quarta-feira (22), o bloco de oposição na Assembleia apresentou uma questão de ordem pedindo o cancelamento de uma das reuniões pregressas.

A oposição argumenta que a sessão das 14h de quarta-feira foi presidida pelo deputado Roberto Andrade (PRD), que por ser líder da maioria, não poderia assumir a presidência da mesa.

A questão de ordem foi aceita pela mesa diretora na manhã desta quinta. Desta forma, a votação só está liberada a partir da reunião extraordinária das 18h.

Obstrução da oposição

Com o início da votação marcado para o início da noite, a oposição promete obstruir a votação até o início da madrugada. A ideia é postergar a definição sobre o texto em primeiro turno, como disse o líder do bloco, Ulysses Gomes (PT), em entrevista nesta quinta.

“Sobre o cancelamento da reunião eu tenho dúvida, porque depende da disposição do governo. O que eu posso dizer é da disposição da oposição que tem total disposição de passar a madrugada e a manhã fazendo a discussão dentro do nosso tempo regimental para discutir. Isso nos dá as condições de muitas horas de obstrução. Se o governo com isso ainda quiser continuar, ao final da manhã, amanhã, a gente pode chegar na votação. O que não vai depender de nós. O que depende de nós é o limite do debate, nós nós iremos ao limite”, afirmou.

Outra carta na manga da oposição é conseguir apresentar uma emenda à PEC. Se uma adição ao texto for proposta, ele deve voltar à comissão especial de avaliação da Proposta de Emenda à Constituição, o que impede a votação nesta quinta.

Para apresentar uma emenda à PEC, no entanto, são necessárias 26 assinaturas, número superior ao de integrantes do Bloco Democracia e Luta, a oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Casa. A empreitada inclui, portanto, conseguir a adesão de parlamentares além do grupo.

Próximos passos

Para ser aprovada em plenário, a PEC exige um quórum qualificado de três quintos da Casa, ou seja, ao menos 48 deputados.

Caso aprovado em primeiro turno, o texto volta necessariamente à comissão especial e precisa respeitar o intervalo mínimo de três dias entre os turnos. A votação definitiva pela derrubada do referendo, portanto, pode acontecer já na próxima semana ou ser postergada, a depender da eficiência do uso dos instrumentos de obstrução pelo bloco de oposição.

O que diz a PEC do referendo?

No início do século, durante o governo de Itamar Franco, a Assembleia aprovou por unanimidade a inclusão de um artigo na Constituição de Minas Gerais que obriga a realização de um referendo popular para aprovar a privatização das estatais de gás natural, energia elétrica e saneamento.

A PEC 24/2023 buscava retirar esse artigo e viabilizar a privatização de Cemig e Copasa. Após acordos entre os deputados, o texto foi alterado e manteve apenas a retirada do referendo para a Copasa.

A Copasa no Propag

A privatização da Copasa já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Propag. Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.