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Diretor da ANM foi preso em operação que investiga esquema de corrupção em mineradoras

Também foi preso o ex-diretor da Polícia Federal na Diretoria de Polícia Administrativa, Rodrigo de Melo Teixeira

O diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Seabra, foi preso na manhã desta quarta-feira (17)

O diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mário Seabra, foi preso, na manhã desta quarta-feira (17), no âmbito da operação que investiga uma organização criminosa que atuava no setor de mineração para fraudar licenças ambientais. O grupo oferecia propina para agentes públicos tanto em nível federal, quanto estadual.

Também foi preso o ex-diretor da Polícia Federal na Diretoria de Polícia Administrativa, Rodrigo de Melo Teixeira. Ele estava cedido para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Teixeira é suspeito de ser sócio de uma empresa mineradora, segundo a Polícia Federal.

A prisão de Seabra contempla uma ação da PF que cumpre 22 ordens de prisão temporária e 79 mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte e outras cidades do estado. A Justiça Federal também determinou sequestro e bloqueio de bens no valor de R$ 1,5 bilhão no curso da operação.

Parte dos investigados receberam dois mandados de prisão por inquéritos diferentes, que apuram crimes como corrupção, organização criminosa, lavagem de dinheiro e vazamento de informações sigilosas. Por ora, 15 pessoas foram presas e duas são consideradas foragidas.

De acordo com a PF, a investigação iniciou-se em 2022 e ganhou força em 2024. Os policiais identificaram 60 empresas que funcionavam como uma espécie de empresa “holding”, sendo a principal que detém o controle ou uma participação majoritária em outras empresas.

De acordo com o Superintendente da PF em Minas, Richard Macedo, as empresas criminosas não executavam a mineração diretamente, mas eram usadas para lavar dinheiro, pagar propina e blindar o grupo contra fiscalizações.

“Essas empresas criavam sucessivas camadas de intermediários para dificultar a rastreabilidade dos recursos. O objetivo era ocultar a origem ilícita do dinheiro e viabilizar pagamentos a servidores públicos”, explicou o delegado responsável pelo caso, em entrevista à Itatiaia.

Ainda segundo a PF, servidores de órgãos de controle ambiental foram integrados ao esquema para aprovar projetos que não teriam aval em condições normais. Conforme o diretor dos crimes contra a Amazônia da PF, Humberto Freire, o grupo atuava de forma organizada, com líderes, lobistas e operadores financeiros.

“Foi montada uma verdadeira estrutura criminosa. Essa influência permitiu aprovações de projetos irregulares que, posteriormente, resultaram na exploração ilegal de minério em áreas em processo de tombamento”, disse.

As propinas eram pagas em dinheiro vivo ou depósitos bancários. Em alguns casos, o repasse era mensal, de acordo com as investigações. Durante a entrevista, o delegado detalhou que, em outros casos, a propina era ligada a projetos específicos. A PF estima que o esquema poderia gerar lucros acima de R$ 18 bilhões para a organização criminosa.

Entenda o caso

  • ‘Operação Rejeito’ teve início em 2022;
  • Investigação identificou mais de 60 empresas usadas para lavagem de dinheiro e pagamento de propinas;
  • Servidores públicos foram cooptados para aprovar projetos ambientais ilegais;
  • Propina era paga em espécie e via depósitos bancários;
  • Grupo poderia lucrar R$ 18 bilhões com a exploração irregular;
  • Foram expedidos 22 mandados de prisão preventiva; 15 pessoas foram presas;
  • Imóveis de luxo na Grande BH e em Maceió foram alvos de busca e apreensão;
  • Patrimônio bloqueado chega a R$ 1,5 bilhão
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Jornalista pela UFMG, Lucas Negrisoli é editor de política. Tem experiência em coberturas de política, economia, tecnologia e trends. Tem passagens como repórter pelo jornal O Tempo e como editor pelo portal BHAZ. Foi agraciado com o prêmio CDL/BH em 2024.