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Defesa de general diz que “Punhal Verde e Amarelo” era apenas “um pensamento digitalizado”

Documento que previa assassinato de Lula, Alckmin e Moraes foi classificado pela defesa como rascunho sem valor prático; PF e PGR apontam ligação com plano golpista

Militares detalham tentativa de golpe em áudios capturados pela PF; ouça | CNN Brasil

A defesa do general da reserva Mário Fernandes, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), negou que o documento intitulado Punhal Verde e Amarelo representasse um plano concreto para a execução de um golpe de Estado. O texto, segundo a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República, previa o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Durante depoimento na última quinta-feira (24), Fernandes admitiu ter redigido o documento, mas argumentou que se tratava apenas de uma análise pessoal do cenário pós-eleições, e não de uma proposta executável.

“Fiz um apelo ao general Ramos: se existe esse movimento e está dentro da Constituição, por que não reforçar isso?”, declarou o general em audiência. Depois, corrigiu-se: “Dentro da Constituição Federal, não acima.”

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Pontos-chave da defesa:

  • O advogado Marcus Vinícius Figueiredo afirmou que o general apenas “digitalizou um pensamento” e que “não há, em nenhuma linha, a menção direta a Alexandre de Moraes”.
  • A defesa contestou a interpretação da palavra “neutralizar” como sinônimo de assassinato, alegando que não há incitação explícita à morte de autoridades.
  • Segundo o advogado, o documento foi de fato impresso no Palácio do Planalto, mas nunca entregue, compartilhado ou discutido com terceiros.
  • “Se imprimir um pensamento vira tentativa de homicídio, então estamos criando um novo tipo penal”, disse Figueiredo.

O que diz a investigação:

  • A Operação Contragolpe, da Polícia Federal, aponta que o texto fazia parte de um plano mais amplo discutido por militares aliados de Bolsonaro, inclusive em reuniões na casa do general Braga Netto.
  • O documento fazia referência velada a Lula, Alckmin e Moraes como “Jeca”, “Joca” e “Juca”.
  • O conteúdo indicava ações para “provocar colapso orgânico” por meio de substâncias químicas, o que os investigadores interpretam como referência a envenenamento.

Interlocução com Bolsonaro

  • Em mensagens a Mauro Cid, Mário Fernandes mencionou ter conversado com o presidente Bolsonaro sobre a “diplomação do vagabundo”, em referência a Lula e sugeriu que, se houvesse alguma ação, deveria ocorrer antes da posse.
  • A defesa afirma que o general já esclareceu esse trecho ao STF e negou qualquer participação prática em tentativa de golpe.
Aline Pessanha é jornalista, com Pós-graduação em Marketing e Comunicação Integrada pela FACHA - RJ. Possui passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, como repórter de TV e de rádio, além de ter sido repórter na Inter TV, afiliada da Rede Globo.