Copasa: Oposição a Zema aciona Justiça para cancelar votação da PEC do Referendo

Deputada Bella Gonçalves (PSOL) enviou um pedido de anulação da votação ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) alegando irregularidades na tramitação da PEC

Bella Gonçalves questiona validade de procedimentos durante a tramitação da chamada ‘PEC do Referendo’

A deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) acionou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para anular a votação em segundo turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 24/2023, que derrubou a exigência da realização de um referendo popular para autorizar a privatização da Copasa. A parlamentar alega que foram cometidas irregularidades durante a passagem do projeto pela comissão especial entre os turnos de apreciação do texto em plenário.

A deputada protesta contra a rejeição de 273 emendas apresentadas pela oposição na comissão especial de análise da chamada ‘PEC do Referendo’ em 28 de outubro. Na ocasião, o presidente da reunião, Cássio Soares (PSD), anunciou o entendimento de que as adições ao texto apresentadas por parlamentares da oposição, não poderiam ser debatidas por falta de autenticidade nas assinaturas digitais.

Com a decisão, a comissão aprovou o parecer da PEC e o texto avançou para o plenário. O projeto foi aprovado em segundo turno em 5 de novembro pela conta mínima de 48 votos favoráveis contra 22 contrários. A sessão durou mais de sete horas e foi marcada por situações tensas como a inversão de papéis entre base e oposição no momento de obstrução da pauta; e até uma troca de empurrões entre deputados.

Na ação movida pela deputada Bella Gonçalves também consta a argumentação de que o 48° e decisivo voto para a aprovação da PEC do Referendo em segundo turno não poderia ser computado. A manifestação favorável ao texto do governador Romeu Zema (Novo) feita pelo deputado Bruno Engler (PL) foi registrada nos segundos finais de votação.

“O governo Zema atropelou a democracia e a soberania popular para aprovar uma PEC que retira do povo o direito de decidir sobre a venda da Copasa. Nesse processo, também a democracia interna, na Casa Legislativa, foi colocada em cheque. Não vamos aceitar esse ataque à democracia e à transparência”, disse Bella Gonçalves.

Ainda no início da tramitação da PEC do Referendo, Gonçalves já havia anunciado que judicializaria o caso no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta instância, a parlamentar aponta que a derrubada da previsão de uma consulta popular representaria um retrocesso legislativo, o que é considerado inconstitucional no Brasil.

Privatização da Copasa avança

Enquanto a oposição tenta barrar a PEC do Referendo na Justiça, o projeto de lei específico para a privatização da Copasa já tem data marcada para começar a ser debatido na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Três reuniões estão marcadas para esta quinta-feira (13) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia, a primeira etapa de tramitação do projeto. A proposta ainda deve passar pelas comissões de Administração Pública (APU); e Fiscalização Financeira e Orçamentária (FFO) antes de ser votada em plenário.

Copasa no Propag

A privatização da Copasa, bem como da Gasmig e da Cemig, já integrava a pauta do governo Zema desde o primeiro mandato, mas ganhou novo fôlego com a criação do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). Com o projeto permitindo a privatização e federalização de ativos como forma de pagar a dívida com a União, vários projetos da pauta privatista do Executivo andaram na Assembleia após anos parados.

O Propag prevê que estados refinanciem em 30 anos a dívida com a União e estabelece mecanismos para reduzir os juros cobrados sobre as parcelas. O projeto do Executivo Estadual é ingressar no programa abatendo 20% do estoque devido.

Para obter o valor necessário na amortização da dívida, o Executivo enviou projetos para federalizar ou privatizar estatais à Assembleia. No caso da Copasa, além do texto específico que trata sobre a venda da companhia de saneamento, o governo precisa retirar da constituição a necessidade de realizar um referendo para autorização da privatização.

Hoje os juros são indexados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano. Se o estado conseguir amortizar 20% do estoque da dívida, dois pontos percentuais da cobrança adicional são abatidos.

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Repórter de política da Itatiaia, é jornalista formado pela UFMG com graduação também em Relações Públicas. Foi repórter de cidades no Hoje em Dia. No jornal Estado de Minas, trabalhou na editoria de Política com contribuições para a coluna do caderno e para o suplemento de literatura.

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