No segundo dia de
A ocupação visa pressionar o governo de Minas Gerais a estabelecer o memorial no local onde funcionou o DOPS, reconhecido por ter sido palco de repressão durante a ditadura militar. Os manifestantes argumentam que a transformação do espaço em um centro de memória é essencial para contar a história das violações de direitos humanos ocorridas ali, como torturas, prisões e sequestros.
A iniciativa de ocupar o prédio surgiu da frustração com tentativas anteriores mal sucedidas de abertura do espaço. Segundo Renato Campos, um dos organizadores da ocupação, o edifício está fechado desde 2018. Atos realizados em datas como 31 de março e 1º de abril, em memória do golpe militar de 1964, não resultaram na abertura do local como memorial, e a ocupação foi considerada necessária para obter uma resposta efetiva do governo.
“A gente só conseguiu efetivamente uma resposta por conta da ação que nós fizemos. Há sete anos, oito anos, esse espaço está trancado. O nosso costume é fazer atos aqui no dia 31 de março, primeiro de abril, rememorando o desaniversário do golpe militar de 64. Fazemos isso há anos, na expectativa da abertura desse espaço para ser um memorial. E nada acontecia. Então a gente fez a ação e, a partir daí, a gente ficou esperando o retorno do governo do Estado para que ele pudesse nos dizer alguma coisa”, disse.
Nesta quarta-feira (02), uma representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese) compareceu ao local e se mostrou aberta ao diálogo, comprometendo-se a levar as reivindicações ao governo. A reportagem entrou em contato com a pasta, uma vez que a representante não quis se manifestar, e aguarda retorno.
A importância do espaço para resgatar a memória da repressão e da luta contra a ditadura foi enfatizada por diversos participantes. Oraldo Paiva, um dos coordenadores do Covet destacou que o local é crucial para revelar o envolvimento de empresas com a ditadura, incluindo indícios de apoio financeiro e logístico, como o fornecimento de médicos para o DOPS.
“Uma das reivindicações é de se apropriar desse espaço aqui, para que a gente possa, de fato, construir um centro de memória dos que lutaram contra a ditadura. Não queremos jogar todo esse processo para baixo do tapete”, destacou.
Oraldo também ressaltou que essas pesquisas estão servindo de subsídio para inquéritos no Ministério Público Federal e no Ministério Público do Trabalho.
Memória das mulheres
O resgate da memória das mulheres que lutaram contra a ditadura foi defendido por Indira Xavier, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário. Ela ressaltou que o fechamento do espaço contribui para apagar a história dessas mulheres, que lutaram por justiça e que foram torturadas por subverterem as normas de gênero da época.
“Não são poucas as mulheres que foram torturadas e seguem desaparecidas. Mulheres que eram mães e que viam seus filhos sendo torturados junto com elas nas celas. Que tinham seus mamilos arrancados. Que os seus corpos eram estuprados e violados. Então, honrar o nome dessas mulheres pra nós é fundamental. Porque a gente vive em uma sociedade que diz que nós temos liberdade, mas toda vez que uma mulher ousa lutar ela é atacada e atacada de forma profunda”.
Ação da PM
Os manifestantes também alegam que a Polícia Militar tem impedido a entrada de mais pessoas no prédio. Segundo relatos, a polícia chegou com a orientação de esvaziar o local.
“Nossa intenção, desde sempre, e desde sempre dita a eles, é a manutenção do espaço. O que a gente fez, na verdade, foi limpar, porque isso aqui estava deplorável. Não dava para a gente nem utilizar isso daqui. Então, a gente não tem a menor intenção de fazer nenhuma ação de barbárie, porque a barbárie está com a ditadura. É ela que fazia a tortura”, disse Renato.