Os discursos políticos foram atravessados pela pandemia. As eleições de 2020 e 2022 tiveram como pano de fundo o desempenho dos governantes no enfrentamento à crise sanitária decorrente da Covid-19. No mundo, as relações entre países foram estremecidas, e o papel de agências internacionais, como a ONU e a OMS, foi colocado em xeque.
No Brasil, as vacinas se tornaram disputa política. O governador de São Paulo na época da pandemia, João Dória, buscou assumir protagonismo no combate ao vírus. Ele começou a vacinação no estado antes de o governo federal iniciar a imunização em nível nacional. “Importamos 120 milhões de doses da Coronavac através do Butantan, não só para paulistas, mas para todo o país”, relembra. “Havia um caráter simbólico, mas, mais que isso, era necessário. A ciência dizia que era preciso tomar a vacina. São Paulo trouxe a vacina em setembro de 2021, mas só conseguimos vacinar em janeiro de 2022, por impedimentos do então governo, que incompreensivelmente postergara a autorização da Anvisa para aplicarmos aqui uma vacina já homologada na Ásia.”
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Dória ressalta os aprendizados com o período: “Aprendi a respeitar ainda mais a ciência, a medicina e a vida. E, na medida do possível, usufruir um pouco mais da vida. Foram lições da pandemia; algumas duras, outras importantes, mas, para mim, eternas.”
O professor de Direito Internacional, Dorival Guimarães, diz que a pandemia escancarou a dependência internacional de alguns países desenvolvidos. “A crise revelou a dependência excessiva de outros países, como a China, para produção de bens industrializados, e de outros países para bens essenciais”, afirma. “Outra consequência foi o aumento de tensões geopolíticas, principalmente entre Estados Unidos e China, que trocaram acusações sobre a própria origem do vírus e a gestão da crise”, completa.
O papel de organizações internacionais também foi alvo de discussão. “Tivemos críticas às organizações internacionais. A OMS foi acusada de falhas em transparência e comunicação dos riscos relativos à pandemia”, diz. Segundo ele, um dos legados é o debate sobre um novo tratado internacional para fortalecer a resposta global a futuras pandemias.
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