Ouvindo...

PF: Bolsonaro usou avião presidencial para enviar joias aos EUA

A utilização da aeronave foi sob alegação de viagem oficial. PF indiciou ex-presidente e mais 11 em inquérito que investiga negociação de joias dadas como presentes

O ex-presidente Jair Bolsonaro ao sair de um avião acompanhado do tenente-coronel Mauro Cid, em maio de 2019

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou o avião presidencial para enviar joias aos Estados Unidos. A informação consta no relatório da Polícia Federal (PF) enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que perdeu sigilo nesta segunda-feira (8). A utilização da aeronave foi sob alegação de viagem oficial.

“Com a finalidade de distanciar e ocultar os atos ilícitos de venda dos bens das autoridades brasileiras e posterior reintegração ao seu patrimônio, por meio de recursos em espécie, foi utilizado o avião Presidencial, sob a cortina de viagens oficiais do então chefe de Estado brasileiro para, de forma escamoteada, enviar as joias aos Estados Unidos”, diz a PF, completando:

“No território norte-americano, interposta pessoa (testa-de-ferro), de forma consciente e voluntária, por determinação do então presidente, assumiu a negociação e venda das joias, com o objetivo de ocultar o real proprietário e beneficiário final da venda dos bens (Jair Bolsonaro).”

O testa-de-ferro seria o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens do ex-presidente.

A PF identificou a existência de uma associação criminosa formada por aliados de Jair Bolsonaro (PL) para desviar joias e peças valiosas do acervo da Presidência da República e incorporá-las ao patrimônio pessoal do ex-presidente.

Nesta segunda (8), o ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo do inquérito e expôs as informações coletadas pela polícia durante a investigação. Ele deu um prazo de 15 dias para a Procuradoria-Geral da República (PGR) analisar o documento.

A associação criminosa é caracterizada pela reunião de três ou mais pessoas para cometer crimes. Segundo o inquérito da Polícia Federal, representantes do governo Bolsonaro representavam o então presidente no conchavo para desviar os presentes de alto valor dados por líderes de outros países ao Brasil.

Os valores recebidos eram, ainda conforme a investigação, convertidos em dinheiro para o patrimônio pessoal de Bolsonaro. O grupo não usava o sistema bancário — transações convencionais, depósitos e saques, por exemplo — para impedir que a origem do dinheiro fosse rastreada.

A perícia da Polícia Federal constatou que as peças desviadas e negociadas pelo grupo valiam cerca de R$ 6,8 milhões. O valor de mercado, entretanto, é praticamente o quádruplo deste valor: R$ 25 milhões. Os objetos em questão foram dados à presidência brasileira pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Reino do Bahreim; são eles:

  • Esculturas douradas de um barco e uma árvore;
  • Relógio Patek Philippe;
  • Kit Ouro Branco (anel, abotoaduras, rosário islâmico e um relógio Rolex em ouro branco);
  • Kit Ouro Rosé (caneta, anel, par de aboatudas, um rosário arábe e um relógio).

A investigação da PF identificou que a associação criminosa era composta pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e por aliados diretamente ligados a ele:

  • Bento Albuquerque — almirante e ex-ministro de Minas e Energia;
  • Fabio Wajngarten — advogado e ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República;
  • Frederick Wassef — advogado do ex-presidente;
  • José Roberto Bueno Júnior — militar que enviou ofício para reaver joias;
  • Julio Cesar Vieira Gomes — ex-secretário da Receita Federal;
  • Marcelo Costa Câmara — ex-assessor do ex-presidente;
  • Marcelo da Silva Vieira — chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República;
  • Marcos André dos Santos Soeiro — ex-assessor do Ministério de Minas e Energia;
  • Mauro Cesar Barbosa Cid — coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência da República;
  • Mauro Cesar Lourena Cid — pai de Mauro Cid e chefe do escritório da Apex em Miami;
  • Osmar Crivelatti — ex-assessor de Jair Bolsonaro.
Leia também


Participe dos canais da Itatiaia:

É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.