Deputados cobram Lira e Pacheco por devolução da MP da reoneração do ministro Haddad

Líderes de 15 frentes parlamentares assinam manifesto contra posições da presidência da República e criticam governo Lula por ‘afrontas ao Congresso’

Líderes de 17 frentes parlamentares criticam governo por medida provisória (MP) que prevê reoneração gradual

As articulações do ministro Fernando Haddad (PT) não bastaram para apaziguar os ânimos do Congresso Nacional em relação à medida provisória (MP) que prevê a reoneração gradual a partir de abril. Nesta terça-feira (6), líderes de 15 frentes parlamentares apresentaram um manifesto cobrando os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pela devolução da MP ou imediata apreciação da matéria para derrubá-la. No documento, as frentes também reivindicam a liberação total do trabalho aos domingos e feriados — tema em discussão no Ministério do Trabalho.

A grande crítica feita pelos parlamentares gira em torno de uma alegada interferência do Governo Lula nas ações do Legislativo. “A prorrogação da desoneração foi aprovada em plenário. Houve veto. O veto foi derrubado. E, então, o governo apresenta uma medida provisória. O Congresso não pode ser subjugado, não pode ser tratorado por uma medida provisória que derruba decisões tomadas pela grande maioria das duas casas, Câmara dos Deputados e Senado Federal”, disse a deputada Bia Kicis (PL-DF), nesta terça.

O líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR), reforçou a declaração de Kicis e assinalou que o governo tenta medir forças com o Congresso. “Esse governo optou por legislar e governar com o Supremo Tribunal Federal, e não com o Congresso Nacional. Não aceitamos”, afirmou. Todos os líderes que participaram da leitura do manifesto nesta terça-feira repetiram que há um mal-estar presente entre o Legislativo e a presidência da República e insistiram que os parlamentares não estão dispostos a ceder em relação à MP da reoneração. “Temos que derrubar a MP, se ela não for devolvida pelo presidente Rodrigo Pacheco. As decisões tomadas por nós são afrontadas pelo Executivo”, completou a deputada Any Ortiz (Cidadania-RS), que relatou a prorrogação da desoneração na Câmara no ano passado.

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Desoneração provoca impasse entre ministro Haddad e Congresso

A política de desoneração da folha de pagamento para os 17 setores que mais empregam no país está em vigor no Brasil como medida temporária há 12 anos; com renovações periódicas, ela se encerraria em dezembro do ano passado se não houvesse uma nova prorrogação. Sob a alegação de que o fim da desoneração geraria uma onda de desemprego no Brasil, o líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), propôs a prorrogação da política até dezembro de 2027. A medida recebeu apoio amplo na Câmara dos Deputados, onde passou com o placar de 430 votos favoráveis e 17 contrários, e no Senado Federal, aprovado em votação simbólica — quando há maioria expressiva, sem registro individual de votos.

O projeto de lei aprovado no Congresso em 25 de outubro seguiu para a sanção do presidente Lula que, em 24 de novembro, decidiu vetá-lo integralmente. Na ocasião, véspera da ida do petista e da comitiva brasileira à COP, o ministro Fernando Haddad justificou a decisão alegando que a medida era inconstitucional e provocava distorções no sistema tributário. Ele ainda prometeu que, no retorno da viagem, apresentaria uma alternativa ao Congresso Nacional.

Novembro acabou, a comitiva brasileiro retornou da COP, em Dubai, o Congresso aprovou a medida provisória (MP) das subvenções e nada de Fernando Haddad apresentar a alternativa à desoneração. A demora suscitou críticas, e alguns parlamentares, entre eles o autor do PL, Efraim Filho. “O governo teve dez meses para preparar uma proposta [sobre a desoneração], dialogar com os setores e apresentar ao Congresso, mas não o fez. O melhor caminho é derrubar o veto”, disse no início de dezembro.

Diante do cenário de incertezas e da proximidade com a data-limite da medida que, se não renovada, perderia os efeitos em 31 de dezembro passado, o Congresso articulou justamente uma rápida derrubada do veto. Em sessão conjunta com deputados e senadores, em 14 de dezembro, os parlamentares derrubaram o veto de Lula, mantendo a prorrogação da política até 2027, e o projeto de lei seguiu para a promulgação.

A três dias da data-limite, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, promulgou a lei 14.784 prorrogando por quatro anos a desoneração da folha salarial, garantindo às empresas dos 17 setores contemplados o benefício de substituir o recolhimento de 2% do imposto sobre a folha de pagamento por alíquotas de até R$ 4,5% sobre a receita bruta. A promulgação transformando o projeto em lei saiu no Diário Oficial da União (DOU) de 28 de dezembro
No dia seguinte, 29 de dezembro, o ministro Haddad e o presidente Lula editaram uma medida provisória (MP) revogando a lei prorrogando a desoneração e implementando a reoneração gradual da folha. Essa MP precisa, ainda, ser aprovada pelo Congresso em até 120 dias, se não, perde a validade. As novas regras começam a valer em 1º de abril.

Essa proposta da equipe econômica de Lula amplificou o mal-estar com as bancadas do Congresso. Se por um lado Haddad justificava que a reoneração é imprescindível para o cumprimento da meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024; por outro, os parlamentares relembram ter aprovado todas as medidas fiscais pedidas pelo governo que, em contrapartida, não quer atender à demanda do Legislativo. “Não faltaram compensações do ponto de vista legislativo… Aprovamos offshores, fundos exclusivos, MP do ICMS. O Congresso deu alternativas para aumentar a arrecadação. Não acho que jogar para o Congresso a responsabilidade sobre o déficit zero seja o caminho”, afirmou Efraim Filho.

Trabalho aos domingos e feriados é controvérsia

Em novembro do ano passado, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, editou uma portaria do Governo Federal restringindo o trabalho aos domingos e feriados. Ele revogava uma portaria anterior publicada em 2021 que facilitava o trabalho aos feriados. A medida de Luiz Marinho definia que os funcionários só poderiam trabalhar aos domingos e feriados se houvesse previsão em convenção coletiva da categoria.

Entretanto, o ministro decidiu revogar essa portaria logo depois da pública diante da repercussão. Agora, Marinho quer republicá-la. A diferença é que o novo texto listará cerca de 200 setores tratados como essenciais e que não precisarão de acordos com os sindicatos para determinar trabalho aos sábados e domingos.

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Repórter de política em Brasília. Na Itatiaia desde 2021, foi chefe de reportagem do portal e produziu série especial sobre alimentação escolar financiada pela Jeduca. Antes, repórter de Cidades em O Tempo. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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